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É psicóloga, especialista em Psicologia Hospitalar e Saúde, mestre e doutoranda em Psicologia/Ufes

Tricô, crochê, bordado: o potencial terapêutico das atividades manuais

Em pesquisa, adeptos dos trabalhos manuais reforçaram o manejo da ansiedade e do estresse que pode ser proporcionado pela prática

  • Barbara Frigini De Marchi É psicóloga, especialista em Psicologia Hospitalar e Saúde, mestre e doutoranda em Psicologia/Ufes
Publicado em 05/01/2022 às 02h00
Tricô
Tricô: trabalhos manuais foram impulsionados na pandemia. Crédito: Divulgação

As artes com materiais têxteis vêm ressurgindo nos últimos anos, através, por exemplo, do movimento Do it yourself (DIY) – em tradução livre, "faça você mesmo" – que ganhou ainda mais força com a pandemia de Covid-19. Não raro, os tradicionais (e, até então, quase esquecidos) armarinhos de bairro ganharam filas em suas portas, com pessoas em busca de materiais para se entreterem e, ao mesmo tempo, seguirem a recomendação das autoridades sanitárias para ficarem em casa.

E é essa a questão: ocuparem-se com algo que se traduza em respiro face às más notícias, na contramão da angústia e das perdas de variadas ordens que se faziam (e, infelizmente, ainda fazem) presentes, ao invés de se (pre)ocuparem.

A prática de crochê, tricô, macramê, bordado (as mais comuns no Brasil) e tantas outras manualidades com fios despontou neste período, ao lado da meditação, yoga e atividades físicas. Enquanto os efeitos psicológicos dessas últimas já estão solidamente demonstrados na literatura especializada, nos consultórios médicos e em nossas vidas cotidianas, o das artesanias ainda são poucos explorados, apesar de ser frequente quem as realiza creditar potencial terapêutico a elas.

Nesse sentido, uma recente pesquisa realizada por mim, em parceria com a professora de Psicologia da Ufes Claudia Broetto, ouviu mais de 400 praticantes dessas manualidades de todo o país e exterior, com idades entre 18 e 86 anos, e demonstrou a potencialidade dessa atividade para o enfrentamento do estresse durante o período de pandemia, tendo em vista os efeitos positivos emocionais e cognitivos que oferece.

Como esperado, os dados revelaram a predominância histórica e cultural das mulheres nesses fazeres, que representaram 97,5% do total de participantes.

Os respondentes chamaram atenção, sobretudo, ao manejo da ansiedade e do estresse que pode ser proporcionado pela prática, sendo essas manifestações já esperadas pelos especialistas como consequência da pandemia, dada a imprevisibilidade em relação ao futuro e até mesmo do momento presente.

A esse aspecto somaram-se o relaxamento, a evitação de pensamentos e sentimentos negativos, o prazer e a satisfação que experimentam com o desenvolvimento de seus projetos, bem como o aumento da atenção, a estimulação da memória e a organização de pensamentos. Já quanto à saúde física, apareceram questões relacionadas à melhora da coordenação motora, da qualidade do sono e da pressão arterial.

Além disso, a pesquisa constatou aumento considerável do tempo dedicado pelas pessoas aos fazeres manuais com fios. Antes da disseminação do vírus, a maior parte delas passava até quatro horas por semana realizando as artesanias, o que mudou, com início da pandemia, para mais de oito horas.

Assim, a prática de manualidades com fios se mostrou promotora de bem-estar, representando recurso eficaz e de baixo custo (que demanda somente linhas, agulhas e/ou tecidos) para o enfrentamento de momentos de angústia psíquica, como o experimentado por toda a população neste período de desafio sanitário e social.

Apesar de serem comumente difundidas como atividades do gênero feminino e de maior faixa etária, fazer regularmente essas manualidades pode trazer benefícios também a crianças, jovens e homens. Elas podem até parecer simples e monótonas, mas revelam um importante autocuidado psíquico, ajudando-nos a tecer novas emoções, pensamentos e habilidades.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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