A recente crise comercial entre Brasil e Estados Unidos tem afetado a vida presente e o planejamento de médio e longo prazo de empresas dos setores mais diversos e no de tecnologia não é diferente. O tarifaço, as questões políticas e toda uma gama de possíveis desdobramentos fazem com que as incertezas aumentem.
Mas uma das coisas que um período de crise nos dá é ensinamentos. Isso eu posso falar com total conhecimento de causa, pois a minha história – inclusive contada no livro autobiográfico recém-lançado, chamado “Tente Outra Vez” – é feita uma série de adversidades, que sempre me deram para ir mais longe.
Sem entrar no mérito da questão Trump, os impactos dos recentes encaminhamentos tarifários sobre o Brasil são ainda maiores para as empresas que colocam todos os ovos na cesta norte-americana, seja para a venda de produtos ou mesmo na compra de insumos e tecnologias.
Além das sobretaxas, possíveis retaliações, faltas nas entregas de produtos e rompimentos de contratos são alguns dos fatores que compões a lista de preocupações dos empresários brasileiros.
Quem nunca havia cogitado em reduzir a atividade voltada ao até então “confortável” mercado norte americano e diversificar as relações comerciais em um mundo globalizado e diverso, hoje precisa rever suas estratégias. Isso sem falar na abertura de negócios no Brasil, país continental e emergente em tecnologia.
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Esse cenário me remete a 2010, início de 2011, quando eu já atuava com tecnologia para a Segurança Pública e Mobilidade, o Exército Brasileiro começou a investir na modernização da sua infraestrutura, visando o Projeto Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras). Fomos informados que eles tinham um plano de computação embarcada para o blindado Guarani, um veículo médio de combate sobre rodas.
O Exército queria uma computação nacional e ninguém fabricava isso no Brasil – o contrato deles à época era com uma empresa israelense. Desenvolvemos uma computação 100% brasileira, tecnicamente viável e robusta o bastante para a função, disputando a vaga com empresas tradicionais em computação para guerra, como a Panasonic e a Elbit (de Israel). Ou seja, em meio a uma dificuldade, criamos as condições para atender uma demanda e evidenciar o potencial da tecnologia nacional.
Essa lembrança reforça para mim que a cada adversidade há uma oportunidade. Quem sabe essa crise com o mercado norte-americano nos torne mais atentos, ágeis e interligados comercialmente a mercados que antes nem cogitavamos, mas que podem ser aliados nos desenvolvimentos dos negócios brasileiros
Atuando no desenvolvimento de soluções tecnológicas em uma empresa 100% nacional há mais de 20 anos, sei que antes de colocar uma solução no mercado, as empresas precisam passar pela fase de pesquisa e estudo para desenvolver o produto; validar esse desenvolvimento por meio de protótipos e estudar os componentes adequados às exigências locais de aplicação e normatização. Há ainda quem precise trazer os componentes de fora e esbarra nas burocracias da importação, nas greves da Receita Federal, por exemplo, e longos períodos de desembaraço.
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Para quem já lida com todos esses desafios para existir no mercado, a resiliência é fator importante para o desenvolvimento de nossa indústria. Ou seja, todos os dias é mais um “Tente Outra Vez”.
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