O anúncio de que o Brasil teria suas exportações aos Estados Unidos sobretaxadas em 50% a partir de 1º de agosto surpreendeu o mercado brasileiro e preocupou, em especial, o exportador capixaba. Isso porque os impactos para o Espírito Santo, que conta com mais de 800 empresas exportadoras, segundo últimos dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), podem ser maiores do que para outros estados brasileiros devido ao nosso elevado grau de abertura comercial, indicador que mede a relação entre o comércio exterior e o Produto Interno Bruto (PIB).
A abertura comercial capixaba, de 52,7%, coloca o Estado como o quarto com maior grau de abertura no país, atrás apenas do Mato Grosso, Amazonas e Pará. A média nacional é de 31,1%.
E o que isso significa na prática?
Considerando que parte relevante da produção da economia capixaba é voltada ao mercado externo, quanto maior a abertura comercial, mais suscetível a economia do estado se torna a mudanças no mercado global. Em outras palavras, eventos que impactam o mercado externo causam “choques” à nossa economia.
O Espírito Santo vivenciou exemplos desses “choques” recentemente: de forma aguda, no período mais severo da pandemia da Covid-19 em 2020 quando, para além das perdas sociais, houve uma redução de 30,2% das exportações e queda de 4,4% no PIB. E, de forma mais moderada, na escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia em 2022, quando houve uma redução de 27,2% no volume de fertilizantes importados. Quase duas décadas atrás, o Estado também respondeu de forma intensa à crise do subprime, que teve origem nos Estados Unidos em 2008, em que o PIB do Estado recuou 6,9% em 2009.
Desde que assumiu seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, em janeiro de 2025, Donald Trump vem adicionando “choques” à economia global: em fevereiro, anunciou tarifas de 25% sobre a indústria de aço e alumínio e, em abril, o chamado “tarifaço”, quando impôs tarifas a mais de 180 países. Esses movimentos que iniciaram uma guerra comercial com a China, com países da União Europeia tem, no momento, o Brasil como um dos seus alvos.
Os anúncios do governo Trump, se efetivados, trazem preocupantes impactos para o Espírito Santo. Segundo dados do Mdic, 28,6% das exportações do Estado foram direcionadas aos Estados Unidos em 2024. Em comparação, a Malásia, segundo maior destino das vendas capixabas, representou apenas 6,1% das exportações.
Já quando comparado ao Brasil, embora os Estados Unidos ocupem a segunda posição entre os principais mercados, representam participação percentualmente menor: 12% do total das exportações nacionais.
No Estado, o aumento da taxação pode impactar diversos setores. Ferro e aço, celulose, rochas naturais, minério de ferro e café figuram entre os produtos com maior participação nas exportações capixabas aos Estados Unidos. Outro dado importante que precisa ser ressaltado é o fato de que o setor industrial capixaba respondeu por cerca de 94,3% das vendas aos EUA em 2024, o que evidencia a relevância da indústria no comércio internacional e a coloca como principal objeto das tarifas de Trump.
Na prática, as barreiras tarifárias impactarão o Espírito Santo a partir da redução da demanda por produtos capixabas. Isso ocorre porque as tarifas são aplicadas aos importadores nos Estados Unidos. Via de regra, o que se pretende com a aplicação desse tipo de medida protecionista é forçar o importador norte-americano, por meio do aumento de preços, a buscar outros mercados, sobretudo para fortalecer o mercado interno.

Efeitos econômicos de tarifas protecionistas como as de Trump justificado por interesses político-partidários internos e que rompe com os princípios fundamentais que regem o comércio internacional, assim como afirmou a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) nesta semana, são nocivos à toda a economia: no curto prazo, poderá haver o cancelamento de exportações já previamente contratadas, gerando perdas diversas ao exportador capixaba. Para produtos perecíveis, como os do setor de alimentos industriais ou in natura, o cenário é mais preocupante.
Para além disso, ainda há o aumento da incerteza: os anúncios discricionários e sem embasamento técnico do governo dos Estados Unidos resultam em impactos imediatos nos mercados de câmbio: após o anúncio da sobretaxa, a cotação do dólar fechou em alta de 1,06%, alcançado R$ 5,50. Com altas nas taxas de dólar e de demais moedas, os produtos e serviços se tornam mais caros, movimento que também pode gerar inflação (que, possivelmente, também resultaria e um aumento na taxa de juros do mercado brasileiro).
Para reduzir os impactos das medidas de Trump, as empresas que exportam aos Estados Unidos, sobretudo as responsáveis pelos bens industriais, precisarão buscar novos parceiros comerciais em um cenário cada vez mais incerto e desafiador. Os impactos na balança comercial do Espírito Santo são esperados, mas ainda precisaremos esperar um pouco para ver a gravidade.
Caso as articulações entre os governos não garantam o retorno da estabilidade no comércio global em tempo hábil, o que estará em risco é a competitividade do Espírito Santo não só no mercado norte-americano. Choques elevam todos os custos de uma cadeia, podendo impactar também os diversos mercados nos quais o Estado tem atuado com notável consistência ao longo dos últimos anos.
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