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É coordenadora do curso de Psicologia da Faesa

Saúde mental: o distanciamento da pandemia reforçou que somos seres sociais

Num momento em que o distanciamento salva vidas, tomamos conta da importância da proximidade, nos damos conta do quanto faz falta aquela convivência, que em tempos não pandêmicos às vezes nem somos tão gratos assim

  • Caroline Bezerra É coordenadora do curso de Psicologia da Faesa
Publicado em 30/08/2021 às 14h27
Distanciamento social por causa do coronavírus
Distanciamento social por causa do coronavírus. Crédito: Divulgação

Os resultados de uma pesquisa sobre saúde mental durante a pandemia nos EUA apontaram que os participantes de 2020 tiveram oito vezes mais chances de apresentar resultados positivos para doenças mentais graves em relação à mesma pesquisa aplicada em 2018. Claro que temos muitos fatores como agravantes desse resultado, mas não é sobre isso que quero chamar sua atenção. Quero destacar um fato sobre nós que foi reforçado neste contexto.

O que a pandemia nos trouxe de aprendizagem para além do reforço aos cuidados de higienização? Já parou para pensar por que o psicólogo se tornou um dos profissionais mais procurados num contexto pandêmico?! Rapidamente conseguimos identificar o medo da morte, toda a insegurança e perda de controle que o contexto da pandemia nos trouxe e ligá-las às demandas de saúde mental, mas é preciso ir além. Num momento em que o distanciamento salva vidas, tomamos conta da importância da proximidade, nos damos conta do quanto faz falta aquela convivência, que em tempos não pandêmicos às vezes nem somos tão gratos assim.

Durante a pandemia vemos o boom das redes sociais, buscamos formas cada vez mais diferentes de expressar ao outro o que se passa em nós – vídeos, danças, reels, áudios quilométricos. Somos seres sociais, ponto! Desde o momento em que sobrevivemos enquanto espécie a muitos milhares de anos atrás, o comportamento de conviver tem sido crucial para nossa manutenção. Viver com o outro, desde que nascemos, se torna parte relevante da construção de quem somos – aprendemos o tempo todo por modelo e diferenciação – construímos nossa identidade, nossa subjetividade, nos encontros com o outro. Tornamo-nos pessoas, deixamos de ser indivíduos e nos tornamos humanos.

Há quem critique este argumento e quem pense que há fraqueza em ver a vida dessa forma. Mas o próprio ponto que nos trouxe a essa reflexão, o próprio contexto de pandemia, suas curvas de morte e sobrevivência, são reflexos da maneira como nos vemos e o quanto estamos abertos a compreender a importância de sermos seres sociais. Se olharmos por outro ângulo, ser social na pandemia pode nos trazer a sobrevivência.

Quando compreendemos que nossas ações impactam para além de nossa própria vida e que assim também é com a ação do outro sobre nós, entendemos o quanto podemos ser extremamente sociáveis mesmo mantendo nossos corpos distantes. Adoecemos, sempre que buscamos sozinhos atravessar desafios tão grandes, desafios feitos para se atravessar em grupo.

A Psicologia tem sido cada vez mais buscada por todos que precisam aprender a lidar com esse adoecimento, essa dor que vem de estar sozinho e não encontrar o sentido de estar sozinho (fisicamente falando). E nas curvas do diálogo terapêutico, exatamente na construção de si de forma coletiva (terapia é encontro!), vamos encontrando sentido, buscando formas de estar com o outro, nos enxergando através do outro. E, então, nem mesmo na terapia, este lugar que parece tão só meu, me faço sozinho. A terapia também é convite para ouvir todos os outros que há em você, e o que há de você no outro.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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