As eleições de 2024 seguem sendo tema dos analistas políticos. A questão que comumente é levantada é “por que a esquerda, mesmo governando o país, perdeu tanto espaço nas urnas?” e com ela um rol de motivos são apontados. Passam de ‘o grande vencedor foi o centrão e o controle das emendas parlamentares’ a ‘a esquerda se perdeu ao priorizar pautas identitárias'. Em um contexto complexo, todos os argumentos têm sua razão.
Outro ponto levantado é a falta de renovação política da esquerda. Essa, porém, não é uma questão restrita aos progressistas. O eleitorado demonstra tradicionalmente que anseia por renovação, ainda que sempre seja uma mudança daquele momento histórico. Recentemente, com a ascensão da extrema-direita, esse desejo passou a ter contornos de repulsa aos quadros tradicionais da política.
O que responderia ao sentimento de renovação? Redundância à parte, em um cenário complexo não há solução simples, mas há fortes indicativos sobre quais caminhos podemos seguir. Vou tratar de dois que são complementares.
O primeiro deles é a atualização de agendas. O que quero dizer é que a renovação não está somente na geração de políticos mais jovens, mas também no entendimento do espírito do tempo.
É repetitiva a afirmação de que o Brasil de hoje não é o mesmo Brasil de ontem. O acesso à renda, os programas sociais que viraram política de Estado, o empreendedorismo, a uberização, as reformas aprovadas e mais tantos tópicos internos e externos mudaram as aspirações do eleitorado que está sujeito a essas transformações sociais ao mesmo tempo em que é protagonista delas.
Portanto, quem entender o espírito do tempo mesmo sendo um quadro mais antigo da política pode estar plenamente atualizado em seus discursos e atuação. A renovação é um lembrete constante de que esse representante entende as questões que afetam a população hoje e não é apenas um requentador de problemas e pautas. É preciso representar uma agenda de futuro.
O segundo caminho é o da comunicação. Se as questões sociais mudaram, a arena em que elas são discutidas também mudou. As redes sociais amplificam e massificam debates de interesse social. As fake news são constantes e tomam proporções inimagináveis. A mais recente atacou o Pix. O vídeo em que o deputado Nikolas Ferreira (PL) sugere que a medida do governo federal de obrigar financeiras a passarem os informes de transações via Pix seria uma forma de controle e uma alavanca para a taxação da operação alcançou mais de 200 milhões de visualizações em uma só rede.
O estrago foi tamanho que obrigou o governo a revogar uma norma que não tratava de vasculhar ou taxar as transações bancárias de brasileiros. Enfrentar a máquina de desinformação parece ser um esforço interminável.
Apesar de pesquisas indicarem que o engajamento pelo ódio e pelo medo é turbinado pelas redes sociais, há outros exemplos que vão na contramão desse modelo e mostram que uma comunicação positiva é mais eficiente para construção de credibilidade - característica que líderes da extrema direita têm maior dificuldade em alcançar.
O caso mais notório é do atual prefeito do Recife, João Campos. A sua gestão da comunicação o coloca no cenário como um político de magnitude nacional. Sua comunicação cria relação com os recifenses, pernambucanos e com o restante do Brasil que, vez ou outra, topa com seus conteúdos nas redes sociais. É evidente que sua administração precisa acompanhar o bom resultado das redes. João é cotado para presidir o PSB, seu partido, nacionalmente. A sigla parece ter entendido o poder que a comunicação tem.
Alimentar perfis em redes sociais está longe de ser o suficiente para alcançar esse resultado. É preciso criar conteúdo que seja absorvido de forma única por cada um dos seguidores para que eles acreditem que, de fato, têm uma relação próxima a figuras públicas. Mantendo-se próximo, o eleitor se mantém atualizado e com menores possibilidades de sofrer influência de fake news.

É evidente que a comunicação não se restringe às redes sociais. A relação com os veículos de imprensa e com a cadeia de rádio e TV, além de setoriais produtivos, segue tendo importância relevante. Para ganhar a narrativa é preciso conectar essas ações para evitar ataques de desinformação.
O governo federal tem muitos problemas a enfrentar; o de comunicação é apenas um deles. Para tentar resolver, fez uma importante troca na Secom. Saiu um quadro do partido, Paulo Pimenta, e entrou o marqueteiro Sidônio Palmeira, responsável pela campanha vitoriosa do presidente Lula em 2022. A tentativa é válida.
Já a política séria tem um desafio a mais que é a recuperação da confiança pela própria renovação. Renovar é reacender a esperança em um ideário de país, e uma coisa é certa: para renovar é preciso comunicar.
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