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É cirurgião plástico e diretor científico da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ/ES)

Queimaduras: violência contra a mulher deixa marcas no corpo e feridas na alma

A campanha Junho Laranja 2025 tem por objetivos sensibilizar profissionais de saúde, a comunidade e as vítimas sobre a importância da notificação/denúncia dos casos de violência por queimaduras

  • Ariosto Santos É cirurgião plástico e diretor científico da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ/ES)
Publicado em 06/06/2025 às 11h30

A campanha Junho Laranja 2025, promovida pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), traz à tona um tema de extrema relevância e urgência: a violência contra a mulher. Este ano, o foco é alertar a sociedade sobre uma das formas mais cruéis de agressão, a queimadura, que muitas vezes é empregada como método de violência, com um agravante: o objetivo do agressor nem sempre é matar, mas sim desfigurar ou causar dor prolongada à vítima.

Dados recentes do Atlas da Violência 2025 revelam que, entre 2022 e 2023, o Brasil registrou um aumento de 2,5% no número de homicídios femininos. A média nacional atingiu a alarmante marca de 10 mulheres mortas por dia. No Espírito Santo, de janeiro a março deste ano, foram registrados 6.684 casos de violência contra a mulher, representando um aumento de 10,88% em comparação ao mesmo período de 2024, quando ocorreram 6.028 ocorrências, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).

A violência com queimaduras é particularmente devastadora, pois além do trauma físico, deixa marcas permanentes na vida das vítimas, muitas vezes acompanhadas de sequelas físicas e emocionais profundas. Quando a queimadura exige internação, o paciente necessita de uma equipe multidisciplinar especializada, composta por médicos internistas, cirurgiões plásticos, enfermeiros especializados, anestesistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras. Essa abordagem integrada é fundamental para promover a recuperação física e emocional da vítima, além de minimizar as sequelas.

O papel do cirurgião plástico na assistência a pacientes queimados tem raízes históricas que remontam à Primeira Guerra Mundial, quando essa especialidade começou a se dedicar ao cuidado de mutilados e feridos de guerra. Atualmente, o cirurgião plástico atua diariamente na recuperação de queimados, cuidando da área afetada para evitar retrações cicatriciais que possam limitar o movimento das articulações, além de realizar enxertos de pele e gordura que ajudam a minimizar as cicatrizes e melhorar a qualidade de vida da vítima. Essas intervenções são essenciais para restaurar a funcionalidade e a autoestima das pessoas que sofreram esse tipo de violência.

Vítimas de queimaduras expõem sequelas e pedem reconhecimento de deficiência
Mãos com marcas de queimadura. Crédito: Freepik

A campanha Junho Laranja 2025, com o slogan “Marcas no corpo, feridas na alma”, tem por objetivos sensibilizar profissionais de saúde, a comunidade e as vítimas sobre a importância da notificação/denúncia dos casos de violência por queimaduras e conscientizar a população sobre esse tipo de crime, além de promover formas de colaboração para a redução de sua ocorrência.

É fundamental que toda a sociedade se mobilize para denunciar, apoiar e promover ações que reduzam esses números alarmantes e que garantam o direito de todas as mulheres a uma vida livre de violência e dor.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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