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É secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde

Quatro anos da pandemia de Covid-19: o que aprendemos?

O Brasil atingiu a marca de 710.427 óbitos acumulados desde 2020. Os 196.5 mil casos e 1.1 mil óbitos registrados até o momento em 2024 apontam para uma redução em relação aos anos anteriores

  • Ethel Maciel É secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde
Publicado em 11/03/2024 às 16h50

Máscara, álcool 70%, distanciamento social, reuniões on-line e muitas perdas passaram a fazer parte do cotidiano de todo brasileiro. Pandemia, vírus, morte, vacina, infecção, quarentena, isolamento, foram as palavras que entraram no vocabulário de toda a população. Há quatro anos, a Organização Mundial da Saúde declarava a emergência de saúde pública de importância internacional.

Ainda temos um problema de saúde pública, ainda seguimos em pandemia e a Covid-19 continua sendo a doença infecciosa que mais mata no Brasil e no mundo. A atuação do Ministério da Saúde na monitorização permanente da situação epidemiológica reflete o compromisso em fornecer dados cruciais para orientar políticas e ações em território nacional.

O Brasil atingiu a marca de 710.427 óbitos acumulados desde 2020. Os 196.5 mil casos e 1.1 mil óbitos registrados até o momento em 2024 apontam para uma redução em relação aos anos anteriores, mas também sinalizam a persistência da Covid-19 como uma ameaça contínua à saúde pública, sem considerar o número de pessoas convivendo com sequelas persistentes dessa doença, algo que impõe um desafio imenso para o sistema de saúde e que requer nossa atenção. A média móvel ascendente nas últimas semanas é um alerta para a necessidade de vigilância constante e respostas que precisam ser cada vez mais ágeis.

Técnico em enfermagem durante atendimento a um paciente na UTI de covid-19 do Hospital Evangélico de Vila Velha
Técnico de enfermagem durante atendimento a um paciente na UTI de covid-19 do Hospital Evangélico de Vila Velha. Crédito: Carlos Alberto Silva

Tivemos o cenário de milhares de mortes ao dia, não tínhamos tratamento, não tínhamos a vacina, mas a ciência, baseada em evidências científicas, venceu. Pesquisadores de todo o mundo se uniram para um marco inédito na história da saúde: o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19.

A vacinação, embora tenha atingido mais de meio bilhão de doses aplicadas até fevereiro de 2024, enfrenta desafios, especialmente entre as crianças. A cobertura vacinal em faixas etárias específicas ainda está aquém das metas estabelecidas, evidenciando a necessidade do trabalho conjunto e efetivo entre governo federal, estadual, municipal e população para alcançar uma proteção abrangente.

E quando falamos de baixas coberturas vacinais, não podemos deixar de lado um dos principais motores desse fenômeno, que não se restringe só à vacina contra a Covid-19, que é o negacionismo, o movimento anti-ciência e o movimento antivacina. É necessário, cada vez mais, criar mais campanhas de conscientização e combater, também institucionalmente, o negacionismo e esses movimentos que vão na contramão da saúde pública.

Mesmo após o fim da emergência de saúde pública, é evidente que a Covid-19 não segue padrões sazonais claros. O comportamento da doença é influenciado pela interação complexa entre a população, variantes em circulação e medidas de controle implementadas e sua adesão. A predominância da variante Ômicron, especialmente a variante de interesse (VOI) JN.1, é uma realidade, mas a avaliação de risco pela OMS como baixo é um sinal encorajador, mas que não deve ser interpretado como sem risco, muito pelo contrário. Nosso cenário atual preocupa e não pode ser minimizado. Estamos diante de muitos desafios para a saúde pública em termos de circulação de agentes infecciosos de relevância para a saúde, mas a Covid-19 segue sendo uma das nossas maiores prioridades na vigilância.

A vigilância e ação estratégica no enfrentamento da Covid-19 têm se destacado por uma série de feitos significativos. A inserção da Covid como doença relacionada ao trabalho reflete um avanço crucial para garantir direitos e proteção aos trabalhadores; além disso, a criação da coordenação-geral dentro da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, para Covid, influenza e outros vírus respiratórios evidencia uma abordagem abrangente na gestão dessas ameaças à saúde pública; o estudo Epicovid, coordenado pela UFPel, que inicia seu campo de pesquisa hoje, promete fornecer dados valiosos para embasar as estratégias de controle da pandemia; a iminente chegada das vacinas remodeladas no final de março representa um marco esperançoso no combate à disseminação do vírus; o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) Covid, aliado à chegada de 49 milhões de testes rápidos, fortalece a capacidade de diagnóstico; a facilitação da prescrição do medicamento Paxlovid é outra medida que visa otimizar a resposta terapêutica. Esses feitos, juntamente com a revisão abrangente realizada em colaboração com o DAF, refletem um compromisso contínuo e abrangente na luta contra a pandemia.

Apesar dos avanços significativos, a batalha contra a Covid-19 no Brasil está longe de ser vencida. Os desafios persistem, e estamos cientes deles, e dentro do que nos é possível, estamos trabalhando para contorná-los. Estamos produzindo semanalmente informes sobre síndromes gripais que incluem a Covid, e nela trazemos recomendações importantes para gestores, tomadores de decisão e para a sociedade brasileira. Precisamos, em conjunto, permanecer resilientes, adotando uma abordagem integrada que inclua medidas preventivas, vacinação abrangente e adaptação contínua às mudanças na dinâmica da pandemia. O caminho para a recuperação completa exige uma colaboração coletiva e uma abordagem baseada em evidências, visando proteger a saúde e o bem-estar da população brasileira.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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