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É médico psiquiatra, especialista em TOD e Transtornos de Personalidade

Quando é birra e quando é transtorno?

A diferença primordial está na constância e no impacto: a birra é pontual e própria do desenvolvimento infantil, enquanto o TOD é duradouro e prejudica o funcionamento diário

  • Vitor Maia É médico psiquiatra, especialista em TOD e Transtornos de Personalidade
Publicado em 23/08/2025 às 14h00

Muitas vezes, quando uma criança apresenta comportamentos desafiadores, os adultos ao redor acreditam que se trata apenas de uma “birrinha” passageira. No entanto, em alguns casos, esses sinais podem indicar a presença de um transtorno que a família desconhece: o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD). Saber diferenciar quando é apenas uma reação típica da infância e quando pode ser algo mais sério é essencial para oferecer à criança o cuidado correto.

A birra é um comportamento IMATURO esperado em crianças pequenas, ocorre por volta de 1 a 4 anos de idade, sendo mais comum em torno dos 2 anos, fase em que elas ainda estão aprendendo a lidar com as próprias emoções. Ela surge diante de frustrações, cansaço, fome ou desejo não atendido.

A criança pode chorar, gritar, se jogar no chão e recusar momentaneamente pedidos simples. Apesar da intensidade, esses episódios são passageiros, costumam durar poucos minutos e tendem a desaparecer quando a criança se acalma, muda de ambiente ou recebe acolhimento aliado a limites claros. Fora desses momentos, o comportamento é adequado para a idade e não interfere de forma significativa na vida familiar ou escolar.

O TOD, por outro lado, é um transtorno psiquiátrico caracterizado por um padrão persistente de comportamento negativista, desafiador e hostil em relação a figuras de autoridade. Não é uma fase passageira, e sim uma condição recorrente que se manifesta por, no mínimo, seis meses e causa prejuízos reais no convívio social, familiar e escolar.

Crianças e adolescentes com TOD apresentam irritabilidade e raiva frequentes, discutem constantemente com adultos, recusam-se a seguir regras na maior parte do tempo, provocam pessoas de propósito, culpam os outros pelos próprios erros e mantêm esse padrão em diferentes contextos, não apenas em casa.

criança fazendo birra
Criança fazendo birra. Crédito: Shutterstock

A diferença primordial está na constância e no impacto: a birra é pontual e própria do desenvolvimento infantil, enquanto o TOD é duradouro e prejudica o funcionamento diário. Para identificar, é preciso observar se o comportamento ocorre apenas em situações específicas ou se é parte de um padrão repetitivo que afeta seriamente as relações.

Quando existe dúvida, a orientação é procurar o médico psiquiatra. O diagnóstico precoce permite iniciar estratégias adequadas, que podem envolver orientação aos pais, intervenções psicológicas e, em alguns casos, outros tratamentos complementares. Entender essa diferença ajuda a evitar rótulos equivocados e garante que a criança receba o suporte certo, na hora certa.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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