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É oftalmologista e cirurgião do Hospital de Olhos Vitória

Miopia: telas demais e sol de menos provocam aumento de casos em crianças

A Organização Mundial da Saúde estima que, neste ritmo de crescimento da incidência de miopia, até 2050, mais da metade da população mundial será míope

  • Cesar Ronaldo Filho É oftalmologista e cirurgião do Hospital de Olhos Vitória
Publicado em 20/08/2025 às 11h28

A popularização dos dispositivos eletrônicos móveis trouxe uma nova realidade: a utilização de telas digitais por crianças já na primeira infância. Dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação mostram que, até 2015, apenas 9% das crianças de 0 a 2 anos usavam a internet. Em 2024, esse número saltou para 44%. Entre as faixas etárias de 3 a 5 anos e de 6 a 8 anos, o uso também disparou: passou de 26% e 41%, respectivamente, para 71% e 82%.

Já sabemos os impactos desse hábito para o desenvolvimento infantil, mas hoje quero trazer meu olhar como oftalmologista. A miopia, caracterizada pela dificuldade de enxergar objetos distantes, acontece quando a imagem é formada antes da retina e uma das causas relacionadas está no tamanho do comprimento do olho, pois míopes geralmente têm olhos mais longos.

Em casos de grau elevado, pode aumentar o risco de problemas mais sérios, como descolamento de retina, catarata precoce e glaucoma, condições que podem levar à perda da visão.

No Brasil, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), três a cada 20 crianças no ensino fundamental precisam usar óculos
Consulta com oftalmologista. Crédito: Freepik

A Organização Mundial da Saúde estima que, neste ritmo de crescimento da incidência de miopia, até 2050, mais da metade da população mundial será míope. Outro estudo, publicado no British Journal of Ophthalmology, aponta que a miopia em crianças e adolescentes subiu de 24% em 1990 para quase 36% em 2023, em alguns países da Asia como Cingapura a incidência já ultrapassa os 65% nas crianças do 6º ano primário e chega a incríveis 80% nos adultos jovens.

Esses dados chamam a atenção, e o uso excessivo de telas tem relação direta com eles. As crianças passam horas olhando para celulares e tablets, exigindo que os olhos foquem de perto o tempo todo, o chamado "esforço acomodativo". Essa repetição pode alterar o formato do olho em desenvolvimento, levando ao alongamento do globo ocular, principal causa da miopia.

A presença constante da tecnologia na rotina das crianças também reduz o tempo de exposição à luz natural, e isso também impacta a saúde ocular. Estudos mostram que a luz do sol, mesmo em dias nublados, estimula a produção de dopamina na retina, substância que ajuda a regular o crescimento do globo ocular. Quanto menos tempo passar ao ar livre, maior o risco para os olhos em desenvolvimento de apresentarem miopia.

A faixa etária mais crítica vai dos 6 aos 12 anos, período em que os olhos ainda estão em pleno desenvolvimento e o uso de tecnologia costuma aumentar. Se a miopia se instala nessa fase, as chances de ela se agravar até a idade adulta são maiores.

Minha recomendação é ter atenção redobrada aos sinais de alerta. Aproximação excessiva de livros e telas, dificuldade para enxergar à distância, dor de cabeça frequente e queda no desempenho escolar são motivos mais que suficientes para levar a criança ao oftalmologista.

Além disso, consultas regulares ajudam a identificar precocemente qualquer alteração, evitando prejuízos ao desenvolvimento visual. A medicina vem investindo muito em pesquisas na área e já existem novos tratamentos disponíveis a base de colírios e lentes especiais que parecem evitar o aumento da miopia em crianças e jovens.

E se você leu até aqui, aproveito para deixar mais um conselho: incentive mais atividades ao ar livre e reduza ao máximo o uso de telas das crianças, seguindo as orientações atuais. Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento ocular é intenso, e esse equilíbrio entre estímulo visual, descanso e luz natural fará toda a diferença para a saúde dos olhos do seu filho ao longo da vida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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