Autor(a) Convidado(a)
É mestre em Biologia Animal e professora do curso de Ciências Biológicas da Faesa

Qual é o papel do biólogo no novo mundo?

O biólogo não é mais aquele profissional que atuava apenas na conservação e na proteção dos ecossistemas, na catalogação e no estudo da biodiversidade, na bancada observando núcleos de células no microscópio ou dando aulas na educação básica

  • Cláudia Cruz É mestre em Biologia Animal e professora do curso de Ciências Biológicas da Faesa
Publicado em 22/09/2021 às 17h00
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Na faculdade, a visão romântica do biólogo que fica o tempo todo coletando bichinho e plantinha desmoronou. Crédito: Leonardo Merçon

Em tempos difíceis e de reflexão, acordei pensando na minha trajetória profissional, nos dias de luta, nos dias de glória vividos pelos trabalhadores e trabalhadoras desse país, especialmente os colegas da minha profissão – os biólogos e biólogas.

Comecei a ser bióloga desde cedo: catando bichinhos por aí. O tempo passou e quando chegou o fatídico momento de marcar a cruzinha na ‘opção de carreira’ do vestibular, eu já não tinha dúvida, queria ser bióloga. Aí vem pergunta clássica dos pais: “Mas como você vai ganhar a vida como bióloga, minha filha?” ou “essa profissão dá dinheiro?”.

Eu, como boa idealista, fiquei magoada com meu pai, porque não entendia como alguém poderia duvidar da minha capacidade de realização profissional, já que eu estava tão certa do que queria. Não respondi às perguntas porque a única referência que eu tinha, e que qualquer um durante muito tempo sempre tem de biólogo, eram os professores de biologia, e não era exatamente isso que eu queria ser na época.

Na faculdade, a visão romântica do biólogo que fica o tempo todo coletando bichinho e plantinha desmoronou. Começavam os desafios para os aprendizes de biólogo, e motivo suficiente para um sem número de desistências. O tempo passou. O esforço e a determinação superaram as dificuldades e finalmente a formatura chegou.

Vieram as aulas em escolas públicas, no ensino médio e fundamental, em pré-vestibular, o estágio, o mestrado, a oportunidade de dar aula em instituições de ensino superior, as consultorias... e lá estava eu, praticando a Biologia e sendo a bióloga que recheava o meu imaginário de criança. Isso dá um orgulho tão grande, sabe? Uma sensação de vitória, de completude, de dever cumprido.

Hoje, depois dessas e outras experiências profissionais e também pessoais, minha visão sobre o biólogo e suas atividades mudou. Aliás, o mundo mudou. E muito. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Ciências Biológicas descrevem uma característica do biólogo que acho fundamental e era uma das que considerava mais bonita: se tornar agente transformador da realidade presente, na busca de melhoria da qualidade de vida.

Essas palavras são muito belas, mas neste momento estou com a impressão de que a biologia, assim como a ciência como um todo, se fundamenta muito em palavras e acredita que as palavras, os resultados de pesquisas são suficientes para que a realidade se transforme. Não! A realidade pode ser transformada com palavras e com a ciência, mas também com muita educação e ação.

Estamos vivendo um momento histórico de pandemia que deixa um triste saldo de milhares de mortes pelo mundo. O biólogo não é mais aquele profissional que atuava apenas na conservação e na proteção dos ecossistemas, na catalogação e no estudo da biodiversidade, na bancada observando núcleos de células no microscópio ou dando aulas na educação básica.

Todas essas áreas de atuação são importantíssimas, mas o biólogo passou a ser percebido como um pesquisador de curas e vacinas, promotor da saúde pública, informa e transmite conhecimento para a sociedade.

Por outro lado, uma parte da sociedade demonstra que o acesso à informação, não se traduz em aprendizado, tampouco em evolução cultural e mudança de comportamento. Diariamente nos deparamos com discursos negacionistas em relação à gravidade da pandemia, eficácia da vacina, apoio ao uso de medicamentos comprovadamente ineficazes e às questões ambientais.

Neste sentido, o biólogo, profissional que ocupa uma posição de essencial destaque, tanto pelo seu domínio científico, quanto pelas habilidades específicas que são intrínsecas à profissão (o que possibilita a ele a ocupação de diferentes nichos, seja na saúde coletiva, parasitologia, imunologia, entre outros) em meio à presente crise sanitária mundial, precisa ter a noção muito clara de que a sua atuação é de extrema importância e necessária para a sociedade.

Em comemoração ao Dia do Biólogo, celebrado em 03 de setembro, sejamos a mudança que que desejamos.

Viva a ciência, viva a educação, viva a cultura, viva a paz e viva o amor!!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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