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Profetas do caos rondam os quartéis no Espírito Santo

Mais do que a luta por reajustes salariais, os policias militares capixabas protestavam em 2017 contra as péssimas condições de trabalho que eram obrigados a suportar

  • Tyago Hoffmann
Publicado em 28/02/2020 às 19h24
Atualizado em 02/03/2020 às 08h00
Greve da PM, em 2017. Crédito: Arquivo/Gazeta Online
Greve da PM, em 2017. Crédito: Arquivo/Gazeta Online

A capacidade que certas pessoas têm de analisar criticamente determinados fatos fazendo um recorte no tempo, com o objetivo claro de distorcer a realidade, é impressionante. Nesta semana, o senhor José Carlos Correa publicou artigo neste espaço tecendo considerações sobre os movimentos dos policiais no Ceará e em outros Estados, inclusive no Espírito Santo. Na visão dele, o então governador Paulo Hartung agiu corretamente ao enfrentar a ferro e fogo o movimento da PM em 2017, que causou mais de 220 mortes em 22 dias de manifestação.

O que o articulista omitiu é que aquele foi um movimento espontâneo, sem a liderança das entidades representativas dos policiais. Mais importante ainda, esqueceu-se de dizer que a paralisação só aconteceu devido à total ausência de investimentos na segurança pública e à postura intransigente assumida pelo governo, de não abrir o diálogo com a categoria.

Mais do que a luta por reajustes salariais, os policias militares capixabas protestavam contra as péssimas condições de trabalho que eram obrigados a suportar, o que incluía a falta de combustível para as viaturas e a recusa do governo em substituir coletes à prova de balas com prazos de validade vencidos, entre tantos outros problemas.

Nenhum analista que acompanhou de perto aquele episódio é capaz de negar que aquele foi um movimento local, em resposta à insensibilidade de um governante que sacrificou a função social do Estado em nome do equilíbrio fiscal. E um equilíbrio, diga-se de passagem, construído na administração anterior, que tivemos a honra e a responsabilidade de liderar.

Mesmo tendo recebido apoio de algumas lideranças políticas, como o então deputado federal Jair Bolsonaro, ainda não havia uma ideologia bolsonarista instituída em parte das forças policiais e, portanto, não existia um projeto político nacional envolvendo a corporação.

O que estamos assistindo hoje, no Brasil, é algo bem diferente, com movimentos coordenados por aqueles que procuram consolidar esse projeto nacional. Algumas lideranças eleitas em 2018 estão patrocinando ataques cada vez mais explícitos às instituições públicas. E, como parte desse esforço de corrosão da democracia, tentam fragilizar os governadores e criar uma situação de caos permanente, para se fortalecerem nos estados.

O fato é que hoje, no Espírito Santo, são as entidades que estão à frente das negociações salariais com o governo. E ao contrário do que levou ao pesadelo de 2017, mantemos um diálogo permanente com os representantes da corporação e já apresentamos uma proposta de reajuste sólida e compatível com as possibilidades financeiras do estado.

Além disso, retomamos os investimentos em segurança pública, sem comprometimento do equilíbrio fiscal que nos garante a nota “A” da Secretaria do Tesouro Nacional desde 2012.

Não há, portanto, razão local para qualquer forma de radicalização. Ela poderá acontecer se os ideólogos e militantes desse projeto político autoritário e regressivo conseguirem abafar as lideranças equilibradas que lutam pela valorização dos profissionais de segurança, o que não acredito possível.

Sei que a decisão de anistiar administrativamente os policiais foi polêmica, mas necessária para fechar a ferida aberta pelos erros cometidos em 2017. Aliás, se deixarem de lado seus interesses políticos menores, os atuais profetas do apocalipse poderão verificar que, em 2003, o então governador Paulo Hartung anistiou mais de 3000 policiais. E aqueles que hoje torcem pelo caos foram só aplausos para a medida.

O autor é secretário de Estado de Governo

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