Autor(a) Convidado(a)
É empresário e presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e de suas instituições (Sesi, Senai, IEL, Cindes e Observatório Findes)

Precisamos reconhecer as mudanças do trabalho e agir antes que seja tarde

O Brasil está envelhecendo, e a força de trabalho diminuindo. Ao mesmo tempo, a nova geração que chega ao mercado tem outras prioridades

  • Paulo Baraona É empresário e presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e de suas instituições (Sesi, Senai, IEL, Cindes e Observatório Findes)
Publicado em 16/12/2025 às 15h05

As mudanças no mercado de trabalho são um desafio para o futuro do país. Passamos hoje por profundas transformações, que a indústria sente todos os dias. Empresários de diferentes setores convivem com a mesma realidade: a de buscar profissionais preparados para acompanhar a velocidade com que o setor se transforma. Por isso, precisamos encarar o que está posto e agir antes que seja tarde.

A formação técnica bem como outras qualificações continuam essenciais, mas já não bastam serem discutidas isoladamente. Precisamos ir além: debater como contratamos, como reconhecemos o trabalho e como adaptamos nossas leis às demandas atuais da sociedade.

O Brasil está envelhecendo, e a força de trabalho diminuindo. Ao mesmo tempo, a nova geração que chega ao mercado tem outras prioridades. Valorizam a flexibilidade e a autonomia. Segundo pesquisa do Sesi Senai, 64% dos trabalhadores preferem modelos flexíveis de trabalho. Esse cenário exige que as empresas e o poder público se adaptem, para que o encontro entre oferta e demanda de trabalho continue acontecendo e o setor produtivo siga competitivo.

Carteira de trabalho digital.
Carteira de trabalho digital. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em um mercado em que as taxas de desocupação são duas vezes maiores entre mulheres e três vezes maiores entre jovens capixabas de 18 a 24 anos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2024), iniciativas de qualificação e inclusão ganham ainda mais relevância. É nesse contexto que a indústria e o Senai têm papel fundamental. O Senai ES, por exemplo, formou mais de 61 mil pessoas apenas em 2024 e, no Estado, nove em cada dez egressos dos cursos técnicos já estão empregados.

Mas o desafio vai além de formar mão de obra. As empresas têm tido dificuldade de encontrar profissionais disponíveis no mercado. Metade da população ocupada do Espírito Santo está na informalidade, o que reforça a necessidade de repensar as formas de contratação e ampliar a formalização. A indústria está atenta a isso e buscando soluções.

Por isso, no final de outubro, assinamos com o governo federal a adesão ao programa “Acredita No Primeiro Passo”, que permite a contratação de pessoas inscritas no CadÚnico, especialmente beneficiários do Bolsa Família, sem que percam o benefício por um ano. É uma iniciativa que estimula a inclusão produtiva.

A partir de agora, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) atuará na divulgação do programa para suas empresas associadas e para o setor industrial capixaba, reforçando o compromisso da Federação com a geração de oportunidades e o desenvolvimento social no Estado.

A união entre o poder público e o setor produtivo é essencial para promover políticas de geração de trabalho e renda. A indústria quer, cada vez mais, fazer a sua parte. Mas é preciso que o país avance também em outro ponto: a modernização das leis trabalhistas.

A CLT foi criada em 1943, em um Brasil que começava a se industrializar. Desde então, o trabalho se reinventou, a tecnologia criou profissões e as relações produtivas ficaram mais dinâmicas. Mas nossa legislação continua presa ao passado, o que afeta o desenvolvimento econômico e limita oportunidades.

Não se trata de perder direitos, e sim de abrir possibilidades. Precisamos que nossa legislação alcance o novo modelo de trabalho que a sociedade demanda. Isso inclui permitir que as empresas contratem de formas mais flexíveis, seguras e condizentes com a realidade atual. Essa discussão já está posta no Supremo Tribunal Federal (STF) e precisa avançar no Congresso. O país não pode ter medo de enfrentar o debate.

Enfim, essas iniciativas mostram que a indústria está pronta para agir e inovar. O futuro do trabalho já chegou. Cabe aos governantes criar condições para que ele aconteça com mais liberdade, segurança e oportunidades. Modernizar regras, investir em qualificação e permitir novas formas de contratação é garantir que o Brasil e o Espírito Santo avancem.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Findes Trabalho Informalidade Mercado de trabalho Senai

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.