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É advogada

Precisamos admitir que não somos experts em todos os assuntos

Necessidade de opinar sobre tudo, mesmo sem qualquer embasamento, está nos emburrecendo e nos levando ao precipício da ignorância e do extremismo. Humildade e diálogo são nossos paraquedas

  • Luiza Vasconcelos da Rocha É advogada
Publicado em 10/07/2021 às 10h00
Modelo sindical varguista criou uma ilusão de representatividade
Modelo sindical varguista criou uma ilusão de representatividade . Crédito: Freepik

Nos tempos de escândalos políticos, debates sobre vacinas e pautas importantes como homofobia, feminismo e racismo, ao entrarmos nas redes sociais nos deparamos com vários especialistas em todos os assuntos do momento. A internet é uma ferramenta indispensável na atualidade. Com apenas um clique temos acesso a notícias em tempo real e a qualquer material informativo sobre o assunto que buscamos.

Infelizmente, essa facilidade de informação também nos leva a encontrar conteúdo de baixa qualidade e um crescimento exponencial das já conhecidas fake news.

Trazendo aquele famoso ditado que diz que “de médico e louco, todos temos um pouco”, como advogada, peço licença para modificar o provérbio acima: “de médico, jurista e louco, todos temos um pouco”.

É inacreditável o que ouvimos de colegas, amigos e familiares quando o assunto versa sobre alguma questão jurídica. Se abrirmos as redes sociais, então, isso só piora.

As pessoas precisam admitir que não possuem conhecimento técnico para palestrar sobre determinados assuntos e que está tudo bem. Nas reuniões de família, quando insistem em me “ensinar” sobre um conteúdo jurídico sobre o qual eu estudei anos na faculdade, costumo dizer que ninguém confronta um engenheiro ou arquiteto que aconselha a derrubar ou não determinada parede, justamente porque não possuímos expertise para questionar. Então por que insistem em confrontar alguma opinião jurídica que está pautada em anos de estudo e aprendizado?

A resposta talvez seja simples: os programas sensacionalistas e todo aquele conteúdo de baixa qualidade técnica já mencionado são armas poderosas para “embasar” as falas dessas pessoas.

O Direito não é uma ciência exata e, sim, necessitamos do debate para que as mudanças e ideias ocorram. Todavia, devemos ter o mínimo de conhecimento e embasamento teórico para discutirmos sobre assuntos polêmicos e delicados. Além disso, tenho colegas que dedicam suas vidas a estudar movimentos sociais, a estrutura do sistema penal brasileiro e tantas outras pautas importantes que estão sempre em voga na TV ou na internet.

É necessário que os veículos de comunicação e a sociedade em geral deem voz às pessoas verdadeiramente qualificadas para levantar essas discussões. Que passemos a não dar tanto crédito aos especialistas de mesa de boteco ou de redes sociais.

Que possamos admitir que desconhecemos profundamente determinados assuntos, o que não nos impede de buscarmos um aprimoramento sobre tais temas. A necessidade de expormos nossa opinião sobre TUDO o que acontece no Brasil e no mundo está nos emburrecendo e nos levando ao precipício da ignorância e do extremismo. A humildade e o diálogo são nossos paraquedas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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