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É médico cirurgião do aparelho digestivo

Obesidade não é preguiça, é doença

A dificuldade de perder peso passa por questões biológicas e comportamentais que, quando não tratadas devidamente, comprometem seriamente os resultados do tratamento

  • Gibran Sassine É médico cirurgião do aparelho digestivo
Publicado em 24/01/2024 às 11h33

Embora seja associada a hábitos de vida e costumes diários, a obesidade não é uma escolha individual. O assunto é mais complexo. Trata-se de uma doença perigosa que, ao ser vista apenas como uma preferência, passa a ser tratada de forma superficial e equivocada.

Trata-se de uma condição que pode trazer prejuízos graves à saúde, contribuindo para o desenvolvimento de algumas das doenças que mais matam a população no Brasil e no mundo, que são os problemas cardiovasculares e as neoplasias malignas (câncer).

Um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies revelou que mais da metade (56,8%) dos brasileiros estão com sobrepeso. Até 2030, a obesidade pode chegar a até 30% da população adulta no país, segundo projeção da World Obesity Federation.

A associação do ganho de peso ao desleixo ou à preguiça é um dificultador que contribui para que o paciente não busque ajuda especializada. Isso ainda pode estimular o radicalismo alimentar, com dietas restritivas e perigosas, receitas de internet e outras fórmulas que prometem o milagre da boa forma em pouco tempo.

É claro que o ponto de partida para o sucesso do tratamento é uma adesão firme e comprometida do paciente, especialmente na condição da obesidade, que exige decisões, renúncias e persistência.

Vale ressaltar, no entanto, que é grande o estímulo a um estilo de vida não saudável. Um exemplo é a oferta de uma extensa gama de opções de comidas ultraprocessadas que prometem sabor, variedade, praticidade e ainda têm valores compatíveis com o bolso da maioria dos brasileiros.

Outro ponto a ser considerado é que a dificuldade de perder peso passa por questões biológicas e comportamentais que, quando não tratadas devidamente, comprometem seriamente os resultados do tratamento.

E uma questão não menos importante: o tratamento da obesidade precisa ser priorizado em todas as classes sociais, inclusive as compostas por pessoas de baixo poder aquisitivo. Ou seja, o excesso de peso corporal necessita ser tratado como um problema de saúde pública e priorizada na rede pública. Um desafio a ser enfrentado pelos governos.

A partir de uma assistência humanizada, assídua e qualificada, em todas as bases, é possível oferecer ao paciente obeso a chance real de cura, por meio do estímulo à mudança de estilo de vida, passando por um acompanhamento individualizado que irá determinar qual tipo de tratamento será apropriado para cada caso, cirúrgico, medicamentoso ou ambos.

É fundamental, sim, que o paciente busque ajuda médica especializada e faça o tratamento corretamente, assumindo para si a decisão de combater a obesidade. Antes disso, porém, faz-se necessário um atendimento que contemple e promova todas as terapias necessárias para combater essa condição. Por se tratar de uma doença complexa, a abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo médico, nutricionista, educador físico, psicólogo, entre outros profissionais.

E nessa união de forças, com menos julgamentos, mais assistência e decisões responsáveis, será possível enfrentar o avanço dessa doença que ameaça a saúde hoje, e ainda mais num futuro bem próximo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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