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É economista, mestre pela Universidade de Oxford. Professor na Fucape Business School e consultor do Tesouro Estadual na Sefaz

O tarifaço de Trump e o efeito sanfona na economia capixaba

Se a sanfona está prestes a apertar, não se trata apenas de resistir — é hora de trocar a partitura. E tocar para plateias que ainda não nos ouviram

  • Eduardo Araújo É economista, mestre pela Universidade de Oxford. Professor na Fucape Business School e consultor do Tesouro Estadual na Sefaz
Publicado em 10/07/2025 às 15h42

O anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros feito por Donald Trump acendeu o sinal de alerta para a economia capixaba. Os Estados Unidos compram cerca de um terço do que o Espírito Santo exporta e fornecem aproximadamente 20% das suas importações.

Se confirmada em agosto, a medida atingirá os dois lados da balança comercial: dificultará as vendas para fora e poderá encarecer as compras de máquinas e insumos. Esse tipo de pressão simultânea tem nome: é o que se pode chamar de “efeito sanfona”. O Estado corre o risco de ser comprimido pelas duas pontas — e precisa se antecipar.

Apesar de a tarifa ainda não estar em vigor, o anúncio já provocou reação entre empresários e investidores no Espírito Santo. Setores industriais fortemente voltados à exportação — como o de rochas ornamentais, aço e celulose — operam com margens estreitas e são sensíveis a qualquer elevação de custos ou perda de mercado. O impacto, portanto, não é apenas futuro: ele começa agora, com ajustes defensivos em setores que sustentam boa parte do emprego formal no Estado.

A permanência dessa tarifa, no entanto, está longe de ser certa. Trump tem histórico de usar medidas desse tipo como instrumento de barganha política. Além disso, tarifas elevadas tendem a pressionar a inflação interna — algo que pode se tornar um ônus eleitoral. Existe chance de recuo até agosto, mas o Espírito Santo não pode construir sua reação apostando nessa reversão. O episódio revela algo mais estrutural: nossa exposição a um único mercado e a uma pauta de exportação altamente concentrada.

Diante desse cenário, o Espírito Santo precisa de uma reação em duas frentes. No curto prazo, a prioridade está na diplomacia — tanto por vias bilaterais quanto por mecanismos como a OMC. Já no médio e longo prazo, o Estado precisa se mover com mais estratégia. Diversificar mercados, fortalecer sua indústria e promover missões internacionais são caminhos possíveis. São Paulo já tem feito isso com apoio da Apex-Brasil e estruturas de promoção comercial. Se a sanfona está prestes a apertar, não se trata apenas de resistir — é hora de trocar a partitura. E tocar para plateias que ainda não nos ouviram.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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