Por que alguns países prosperam enquanto outros estagnam? O Nobel de Economia de 2025 foi concedido a Philippe Aghion, Peter Howitt e Joel Mokyr por mostrarem algo que hoje parece óbvio: prosperidade não depende apenas de capital, recursos ou geografia, mas da capacidade de transformar conhecimento em inovação.
Antes desses autores, a teoria dominante era o modelo de Robert Solow, que atribuía o crescimento ao acúmulo de capital e trabalho, deixando o progresso tecnológico como um “resíduo” não explicado. Faltava uma parte vital a essa equação. Aghion e Howitt mostraram que o progresso tecnológico pode ser considerado uma variável endógena — isto é, explicada por decisões dentro do próprio sistema. É como se a prosperidade de um país fosse entendida apenas por máquinas e trabalhadores, ignorando o fator que multiplica seu valor. A contribuição dos laureados foi mostrar que tecnologia — ou, mais amplamente, inovação — faz capital e trabalho renderem mais, elevando a produtividade.
Os pesquisadores também formalizaram matematicamente o conceito de “destruição criativa” — o processo em que o novo substitui o velho, renovando a economia. O crescimento de longo prazo depende dessa dinâmica: permitir que algumas empresas desapareçam para que outras surjam. Nos Estados Unidos, apenas um décimo das 500 maiores empresas de 1955 sobreviveu até hoje; no Brasil, ainda tratamos a falência como fracasso moral. Protegemos empresas da competição e depois reclamamos que não crescemos. Subsidiamos quem promete manter empregos, não quem cria produtos melhores.
A Coreia do Sul ilustra o oposto. Em 1980, tinha metade da renda per capita do Brasil. Hoje tem o triplo. Enquanto os coreanos apostaram em educação e pesquisa, o Brasil seguiu preso a uma economia extrativa, de baixo valor agregado. O sucesso coreano não veio apenas de investimento em P&D, mas de uma base sólida de educação e formação técnica, construída ao longo de décadas. Joel Mokyr chama isso de “cultura do crescimento”: sociedades que tratam ciência e escola como prioridade colhem inovação como consequência.
Há sinais promissores. O Espírito Santo, por exemplo, avançou ao lançar o Plano de Desenvolvimento 2035, que coloca o estado na direção certa ao apostar em diversificação econômica, inovação tecnológica e educação de base. É uma estratégia acertada diante do fim dos incentivos fiscais e das mudanças trazidas pela reforma tributária. O desafio agora é transformar o plano em ação contínua, capaz de sobreviver a mudanças de governo.
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A principal lição do Nobel é que o nosso modelo de crescimento precisa ser reinventado. Exportar minério e importar tecnologia não basta. O Brasil tem talento e criatividade para essa transformação, mas faltam lideranças dispostas a investir no invisível — na ciência, na educação, no talento que não rende dividendos imediatos. Quanto tempo ainda levaremos para perceber que o verdadeiro valor de um país está no que ele inventa — não no que extrai?
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