Publicado em 15 de outubro de 2025 às 11:33
Philippe Aghion estava em casa na segunda-feira (13/10) quando, às 10h30 da manhã, recebeu uma ligação que o deixou sem palavras: ele havia ganhado o Prêmio Nobel de Economia 2025.>
"Realmente eu não esperava", disse o economista francês à BBC News Mundo — serviço em espanhol da BBC.>
Aghion é pesquisador do Collège de France e do INSEAD, na França, e da London School of Economics and Political Sciense, do Reino Unido, e dividiu o prêmio com Peter Howitt e Joel Mokyr. >
A Academia Real das Ciências da Suécia disse que o prêmio concedido à dupla Aghion-Howitt, é um reconhecimento da "teoria do crescimento sustentado por meio da destruição criativa". >
>
Nem todo mundo está familiarizado com esse conceito cunhado pelo economista Joseph Schumpeter em 1942.>
Em poucas palavras, a destruição criativa é um processo em que a inovação desmonta estruturas econômicas tradicionais, abrindo espaço para novas. >
A Academia explica isso, em seu texto sobre o prêmio deste ano, sob a ótica de que o mundo tem experimentado um crescimento econômico sem precedentes nos últimos 200 anos. A base desse crescimento tem sido o fluxo constante de inovação tecnológica, observa. >
"O crescimento econômico sustentado ocorre quando as novas tecnologias substituem as antigas, como parte do processo conhecido como destruição criativa", diz a Academia.>
Durante a maior parte da história da humanidade, o nível econômico das pessoas não mudou consideravelmente de uma geração para outra, apesar de importantes descobertas ocasionais. O crescimento sempre acabava estagnado com o passar do tempo. >
Mas isso mudou fundamentalmente com a Revolução Industrial, há pouco mais de dois séculos. >
A partir desse momento, a inovação tecnológica e científica deu lugar a um ciclo interminável de progresso, em vez de eventos isolados. >
Isso, explicam os responsáveis pela entrega do prêmio, levou a um crescimento sustentado e notavelmente estável. >
As pesquisas de Aghion e Howitt, afirma a Academia, geraram um modelo matemático que explica como algumas empresas investem em melhores processos de produção e novos produtos de melhor qualidade, enquanto outras são superadas pela concorrência. >
"O crescimento surge da destruição criativa. Esse processo é criativo porque se baseia na inovação, mas também é destrutivo porque os produtos antigos se tornam obsoletos e perdem seu valor comercial", explicam os membros do comitê responsável pela premiação. >
Em apenas dois séculos, a destruição criativa transformou fundamentalmente a sociedade. >
Os economistas premiados este ano conseguiram explicar por que esse desenvolvimento foi possível e o que é preciso para um crescimento sustentado.>
A inovação, em qualquer de suas formas, fomenta a concorrência e incentiva a criação de tecnologias disruptivas, algo em que Aghion tem trabalhado intensamente.>
"A entrada de novos talentos é crucial para o crescimento", explicou Aghion à BBC Mundo. >
"É claro que os novos talentos são um desafio", porque são concorrentes, rivais diante dos outros atores e empresas já existentes. >
"Se tiverem sucesso, podem substituir os demais", comenta Aghion. >
E esse constante desafio é um motor de crescimento. >
"Por isso a destruição criativa é essencial", disse o economista francês de 69 anos. "Precisamos mais disso.">
É claro que nesse processo há ganhadores e perdedores, afinal de contas, os inovadores fazem com que outras formas de produção se tornem obsoletas. >
Na prática, quando esses novos talentos avançam, pode haver perdas temporárias de empregos, embora também surjam novas oportunidades e trabalhos em indústrias emergentes. >
Por exemplo, a criação e expansão da internet deu lugar a indústrias completamente novas, como o comércio eletrônico. >
Agora, a inteligência artificial está em um processo de desenvolvimento acelerado que criará novas indústrias e empregos que nunca existiram. >
A expansão da inteligência artificial e de toda a infraestrutura que ela demanda para seu desenvolvimento são parte de uma nova onda de inovação — parte desse processo de destruição criativa. >
Apesar das perspectivas de crescimento econômico que ela traz, também tem se espalhado, nos últimos anos, o medo de que todo investimento voltado para essas novas tecnologias esteja criando uma bolha tecnológica que pode estourar a qualquer momento, arrastando para baixo as bolsas de valores e provocando uma grande crise global. >
Diante da ideia de uma profunda mudança tecnológica perigosa, que poderia arrastar os mercados para um "crash" como o de 1929 ou a "Grande Crise", de 2008, Aghion pensa de forma diferente. >
Ele lembra que a bolha tecnológica de 25 anos atrás, também conhecida como a crise ponto com — um período de rápido crescimento e posterior colapso do mercado de ações que afetou principalmente as empresas baseadas na internet —, acabou se tornando um período de inovação. >
"A bolha tecnológica foi uma revolução importante", afirma. >
Pode haver bolhas hoje em dia, mas "acredito que as bolhas não são um grande problema se não estiverem baseadas em um excesso de endividamento", como aconteceu no passado. >
Fala-se em uma bolha no mercado de ações, o que não é bom, explica, "mas as bolhas não são o fim do mundo", desde que não haja um nível de endividamento excessivo. >
De qualquer forma, "sempre há um risco com as bolhas e não quero dizer que esse risco não existe, mas não vejo o risco de um grande colapso financeiro", observa. >
"Tenho mais medo da estagnação econômica do que de um grande desastre financeiro", argumenta Aghion. >
Olhando para o presente, uma das maiores ameaças ao crescimento econômico baseado na inovação é o protecionismo, diz o economista, porque ele não estimula a concorrência e nem a incorporação de novos talentos. >
Políticas protecionistas, como as que o governo americano impôs por meio de suas tarifas, são um alerta para a Europa. >
"Temos que ser mais inovadores do que fomos em décadas passadas, porque estamos competindo com a China e os EUA.">
"É preciso aprender a jogar de maneira inteligente", adverte, porque o mundo mudou muito e "a ameaça do protecionismo deve ser um estímulo para nos unirmos e sermos muito mais inovadores".>
Sob essa perspectiva, Aghion disse à BBC Mundo que vê o futuro com entusiasmo. >
"Sou otimista porque cada vez mais países estão entendendo a importância do crescimento baseado na inovação.">
E, para que esse crescimento seja sustentável ao longo do tempo, o economista argumenta que ele deve se concentrar em inovações ambientais, algo essencial neste momento. >
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta