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É doutor em Ciências da Religião, escritor e pastor

O que não te falaram sobre o Natal

Natal é deslocamento: tira do centro quem se julga seguro e recoloca no horizonte aqueles que foram empurrados para as margens

  • Kenner Terra É doutor em Ciências da Religião, escritor e pastor
Publicado em 25/12/2025 às 09h00

O Natal que aprendemos a ver brilha. Pisca. Vende. Organiza-se em vitrines, cores quentes e promessas de felicidade instantânea. Tudo parece cuidadosamente ordenado para produzir encanto. Mas o nascimento que os Evangelhos narram não nasce desse arranjo. Ele acontece fora de cena, longe do centro, sem luzes, sem plateia.

Quando a narrativa bíblica é lida sem os enfeites acumulados ao longo dos séculos, o que surge é um Deus que escolhe a precariedade como endereço. Não nasce entre os seguros, mas entre os frágeis; não ocupa palácios, mas improvisos; não reivindica reconhecimento, mas oferece presença. O sinal messiânico não aponta para grandeza visível, e sim para um corpo pequeno, envolto em panos comuns, entregue ao cuidado de outros.

Aqui está a ruptura: Deus não se impõe — Deus se expõe. O eterno aceita o tempo, o absoluto se deixa carregar nos braços, o mistério se apresenta como dependência. O Natal não é a celebração de um poder que desce para dominar, mas de um amor que desce para compartilhar a condição humana.

O anúncio celestial não elimina o escândalo, apenas o confirma: aquele menino é o Salvador, o Ungido, o Senhor. A canção dos anjos fala de paz na terra, mas essa paz nasce do encontro entre céu e chão, quando a história humana se torna lugar da ação divina. O Rei que chega não se alinha às expectativas religiosas nem políticas; ele se aproxima dos esquecidos e, por isso mesmo, desestabiliza os acomodados.

Se esse é o Natal, então ele exige resposta. Não apenas celebração, mas conversão do olhar. Somos chamados a transformar espaços fechados em manjedouras, vidas protegidas em lugares de acolhimento. Natal é deslocamento: tira do centro quem se julga seguro e recoloca no horizonte aqueles que foram empurrados para as margens. É ali, nas muitas Beléns ignoradas do cotidiano, que o Deus-menino continua a nascer.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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