Autor(a) Convidado(a)
É coronel da reserva da Polícia Militar

O que aprendi como secretário de Segurança do Espírito Santo

Há quem pense que, quem chega até aqui, alcança essa posição por já saber tudo. Pois digo que a cadeira de secretário me ensinou muito mais do que eu pensava ainda poder aprender

  • Alexandre Ramalho É coronel da reserva da Polícia Militar
Publicado em 01/02/2024 às 14h21

Quando criança, me sentei na carteira da escola, onde aprendi a ler, escrever, somar e subtrair. Aprendi a aprender, a absorver o melhor das experiências que teria ao longo da vida. Na juventude, cheio de gás e energia, entrei nas fileiras do aspirantado, aprendi o que significa ser um policial militar e dar a minha vida em defesa da sociedade.

Ao logo de minha carreira, aprendi a comandar tropas, equilibrar conflitos, fazer escolhas, defender meu ponto de vista e respeitar o dos outros. Já maduro e pensando ter alcançado o ápice da minha caminhada profissional, tive a oportunidade de chegar ao mais elevado cargo da Segurança Pública de um Estado: tive a honra de ocupar a cadeira de secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, da qual me despeço agora.

Há quem pense que, quem chega até aqui, alcança esta posição por já saber tudo. Pois digo que a cadeira de secretário me ensinou muito mais do que eu pensava ainda poder aprender. O gabinete que ocupei nesses últimos anos converge todas as instituições que compõem a Segurança Pública, ao mesmo tempo em que é, muitas vezes, o ponto de equilíbrio entre elas.

Minha primeira lição foi o respeito às instituições, que são autônomas, independentes e possuem suas próprias culturas, tradições e maturidades. Integrar e respeitar essas características é o que faz com que as Instituições se complementem, trabalhando em conjunto.

Também aprendi que não dá para ser líder dentro de uma sala fechada, no ar condicionado. É necessário estar na rua, identificando as dificuldades, necessidades e habilidades dos profissionais que fazem o trabalho de ponta. São eles que arriscam a própria vida pela defesa de outra pessoa e merecem todo nosso respeito e gratidão.

Essa gratidão, muitas vezes, não chega, e quem trabalha com segurança pública tem que lidar com isso. Compreendi que os bons resultados não diminuem as cobranças e temos que entregar, imediatamente, outros bons resultados. Por trás de cada estatística, estão vidas, famílias, propriedades, que são o verdadeiro motivo de todo o trabalho realizado pelos homens e mulheres da segurança pública.

Quando a cobrança chega, temos que ter resiliência para enfrentarmos extrema pressão, cobranças e críticas, mas prosseguimos trabalhando firme em defesa da sociedade. Quem coloca sua vida a serviço do bem não deve esperar reconhecimento, elogio e valorização. O importante é caminhar com as suas convicções, sempre indo ao encontro do desejo das comunidades.

A cadeira de secretário me ensinou a ser menos centralizador. Entendi, e esta se tornou minha bandeira, que a verdadeira e honesta segurança pública não se faz só com polícia. Vi, por exemplo, que muito poucos prefeitos conseguem compreender, com clareza, como de fato podem contribuir, com políticas públicas, para a melhoria da segurança dos seus municípios.

Secretário de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho.
Secretário de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho, em 2020. Crédito: Polícia Civil

E a questão vai além das camadas do Poder Executivo. Poder Judiciário, Ministério Público, Educação, Saúde, Emprego, Renda, Infraestrutura, Religião e Família fazem parte do processo da construção e consolidação nesta área tão sensível. Escrevo todas com letras maiúsculas porque, somente com todas essas esferas trabalhando em uníssono, viveremos realmente em uma sociedade de paz.

Me despeço dessa cadeira com a sensação de que a missão foi cumprida, mas sabendo que ainda tenho fôlego e disposição para trabalhar pelo que acredito. Por enquanto, vou colocar em prática a maior das lições que tive como secretário de Segurança: mais importante é retornar para casa, para os que me amam e compreenderam minha ausência nesse período.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Segurança Pública Sesp Coronel Alexandre Ramalho

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.