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É advogada e presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-ES

O fato é que precisamos falar de violência doméstica

Divulgar que o amor é motivo de um assassinato é corroborar a mensagem de que essa violência é um fim esperado para esse sentimento. Agressões, ameaças, surras e assassinatos não são gestos de amor

  • Genaina Vasconcellos É advogada e presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-ES
Publicado em 16/12/2022 às 19h22

É difícil falarmos sobre violência doméstica. Mas essa conversa não tem a metade do perigo produzido pelo nosso silêncio! Todos nós, homens e mulheres, temos receio, medo de falar sobre o assunto. E, quanto menos falarmos, mais a violência aumentará. Quanto menos falarmos sobre violência doméstica, mais notícias de feminicídios serão divulgadas. E a violência passa a ter mais controle sobre nossas vidas.

A sociedade e os meios de comunicação não devem romantizar os agressores e o crime.

A Lei do Feminicídio existe justamente para mostrar que o assassinato de parceiras é um crime de gênero. Divulgar que o amor é motivo de um assassinato é corroborar a mensagem de que essa violência é um fim esperado para esse sentimento. Agressões, ameaças, surras e assassinatos não são gestos de amor.

Não podemos julgar as vítimas por seu comportamento após o crime. Se a vítima decidiu perdoar o agressor ou se desejou ir a uma festa, não importa. A vítima é livre. Essa mulher já é vítima. Ela já está sofrendo o suficiente, ela já vive com o medo, com angústia.

É necessário afastar o pensamento de que o comportamento que a vítima deve ter é ficar triste e deprimida. A violência sofrida não pode ser minimizada, sob pena de atenuar a gravidade da agressão, do crime.

Homens que não cometem e que não cometeram violência contra mulheres podem contribuir escutando e dando credibilidade a elas quando relatarem situações de abuso ou violência. É comum os homens minimizarem essa dor, o que gera na vítima mais vergonha e humilhação.

Conversar com algumas mulheres próximas perguntando se elas já passaram por situações de machismo e escutar seus relatos sem interromper ou julgar também é uma boa prática para apoiar mulheres vítimas de violência.

Observar também que existem casos com informações mentirosas e falsas alegações, lembrando que são exceções, também é essencial. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, no último ano, os crimes de violência contra a mulher aumentaram nos registros de ameaça, lesões corporais em contexto de violência doméstica, assédio sexual e importunação sexual. Já os números dos relatórios da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo comprovam que a maioria dos casos envolvem agressões cometidas por homens.

Mas muitas vítimas ainda ficam com medo de denunciar, de sofrer humilhações públicas e cair em descrédito.

Escolha não se calar. Ao presenciar uma situação de violência, denuncie. Peça ajuda. Se possível, pergunte a vítima se precisa de socorro. O silêncio protege o agressor, protege o abusador e aumenta a violência.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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