Autor(a) Convidado(a)
É historiador, escritor e professor do Departamento de História (Ufes)

Meu livro sobre o Espírito Santo é obra despretensiosa

Reconheço a existência dos problemas ortográficos e gramaticais apontados em meu livro "A Pedra do Trovão" pelo professor Francisco Aurélio Ribeiro. Mas discordo de outros pontos de sua crítica

  • Julio Bentivoglio É historiador, escritor e professor do Departamento de História (Ufes)
Publicado em 26/05/2021 às 17h30
Biblioteca
Biblioteca: livro de historiador gerou debate sobre a historiografia e a ficção no ES. Crédito: Pixabay

No dia 24 de maio, o professor Francisco Aurelio Ribeiro teceu rápidas considerações sobre a literatura capixaba em artigo intitulado "História e ficção contam sobre os primeiros anos do Espírito Santo". Nele, reconhece que tanto a prosa de ficção quanto a História ofereceram importantes contribuições sobre os primeiros anos da colonização portuguesa no Espírito Santo, destacando várias obras, entre elas meu recente romance "A Pedra do Trovão". Lamentou-se, porém, que ele destoaria da qualidade da lavra de autores como Bernadette Lyra ou Luiz Guilherme dos Santos Neves. Algo óbvio. Estou longe de possuir a prática e a habilidade literária de ambos.

Reconheço a existência dos problemas apontados em meu livro, ortográficos e gramaticais, que procurarei sanar no futuro. Aliás quem de nós, escritores, não incorreu nesse deslize, ou não apelou para revisores, que atire a primeira pedra. Talvez esse seja o principal entrave que interdita a criação literária a muitas pessoas, inibindo-as de criar sua literatura. Esses deslizes não podem ser tomados como acinte ou desrespeito à confraria dos escritores, tampouco como pecado capital.

Devo, contudo, discordar de alguns pontos levantados na crítica. Como dizer que o Espírito Santo nasceu, oficialmente, com a chegada de Vasco Fernandes Coutinho. Oficialmente para quem? Para os portugueses? Porque para os indígenas essas terras já haviam sido ocupadas há um bom tempo. Ou da falta de adequação do conhecimento linguístico ou intelectual.

Meu livro é obra despretensiosa, quiçá “literatura menor’. Foi uma primeira aventura nas searas da ficção, classificado em 4º lugar no edital da Secult e em 1º lugar no edital Aldir Blanc da Prefeitura Municipal de Vila Velha. Portanto, diante da quantidade de obras apresentadas devo presumir – ao lado daqueles que o avaliaram – que alguma qualidade ele possui.

"A Pedra do Trovão" faz interpretação bastante livre dos chamados “fatos históricos” e usou datas que existem em alguns textos, sem demérito algum para o enredo ou para seu entendimento. Falar em inverossimilhança é disparatado, afinal, todos sabemos, o narrador é um constructo, uma persona que não deve se confundir com autor. Ou seja, quem narra a história não é o historiador Julio Bentivoglio e, se ele se confundiu, a fatura não é minha. Mas nada que não possa ser corrigido em nova edição.

Por fim, não existe vazio algum na pesquisa historiográfica sobre o passado colonial capixaba. Ao contrário, trata-se de um campo de estudos muito visitado, que o professor Francisco Aurelio não tem a obrigação de conhecer. Agradeço a avaliação ligeira de meu livro – que está longe de ser o patinho feio da literatura capixaba – esperando outros olhares a esta e a outras ficções que pretendo produzir no futuro.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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