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É policial rodoviário federal, pós-graduado em Direito pela Fundação Getúlio Vargas, superintendente regional da PRF/ES substituto

Meu conselho no trânsito: reduza a velocidade em todos os cruzamentos

Todos os dias ocorrem acidentes nos cruzamentos. Todos os dias, repito. E geralmente são acidentes de certa complexidade

  • Helvio Souza Alves Junior É policial rodoviário federal, pós-graduado em Direito pela Fundação Getúlio Vargas, superintendente regional da PRF/ES substituto
Publicado em 22/06/2022 às 02h00

Diante de tantos acidentes acontecendo nas ruas e avenidas das cidades, diariamente, resolvo falar um pouco do Capítulo III do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que vem tratar das normas de circulação e conduta para os usuários de vias terrestres. Se não o principal, um dos mais importantes capítulos escritos no atual normativo de trânsito, contudo as normas ali descritas são, diariamente, negligenciadas por uma parcela significativa dos condutores.

Enorme quantidade de motoristas não cumpre o que está descrito e assim os estragos para a segurança viária são enormes, e os acidente se multiplicam. Por outro lado, se observados os preceitos ali “ensinados”, não duvido dos ganhos significativos para todos, com expressiva redução das ocorrências de acidentes automobilísticos, principalmente nas vias urbanas das cidades.

São muitas regras descritas no capítulo, mas destaco agora a que entendo ser a principal, ou uma delas: “Os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”.

Não vislumbro nenhuma dificuldade de interpretação na regra acima exposta, nem mesmo dificuldade de cumprimento, porém, na prática, não é o que ocorre, lamentavelmente. Não precisava se tratar nem de uma regra de trânsito escrita, mas sim de uma conduta humana colaborativa. Desde criança se aprende em casa que os “meninos maiores cuidam dos meninos menores”, não é assim?

Pois bem, então me pergunto: no trânsito não deveria ser a mesma coisa? Claro que sim. Os condutores dos veículos maiores deveriam “cuidar” dos menores. Simples. Já resolveriam muitos problemas. Muitos mesmo. Mas então falta o que para adotarmos essa conduta defensiva? Empatia? Respeito? Camaradagem? Por que assistimos às tragédias acontecerem e não mudamos de comportamento? Por que contabilizamos tantos mortos e não paramos para uma reflexão sobre nosso próprio comportamento no trânsito? Pelo que vejo, a norma faz todo o sentido. Na condução de uma motocicleta estamos muito mais vulneráveis do que na de um ônibus, por exemplo.

Falta o que então? Insisto na pergunta. Educação? Falta, é óbvio. Mas compreendo que falta muito mais uma boa dose de empatia para com o condutor ao lado do que propriamente formação acadêmica. Falta muito mais uma postura de respeito do que disciplina em sala de aula. A imensa maioria dos acidentes, mais de 90%, ocorrem pela conduta inadequada na direção dos veículos. Ou por imprudência ou por negligência. Os outros 10% reúnem veículos em mau estado de conservação e vias inadequadas.

Outra regra simples de circulação e conduta descrita no manual e que também é desrespeitada a todo momento nos ensina: “quando os veículos se aproximarem de cruzamento não sinalizado, a preferência de passagem é daquele que vier pela sua direita”. Simples assim. Também sem qualquer dificuldade de interpretação. Essa regra tenho desconfiança de que muitos condutores já “esqueceram”. Creio que sim. Uma rápida enquete nas ruas e o resultado pode ser o esperado.

Todos os dias ocorrem acidentes nos cruzamentos por desrespeito a essa norma. Todos os dias, repito. E geralmente são acidentes de certa complexidade. Pela dinâmica da colisão. Transversal. Pouca visibilidade. “Pegou do lado”, como costumeiramente falamos. Quase sempre na porta do motorista resultando em lesões por vezes graves. Os motociclistas são as maiores vítimas desses acidentes. Não por menos, costumamos dizer que o joelho do motociclista é o seu para-choque. E daí as lesões físicas são graves, com múltiplas fraturas e amputações. Quando não resulta em morte do condutor e ou passageiro.

Meu conselho: diminua a velocidade em todos os cruzamentos. Todos. Sinalizados ou não. Desse modo você terá uma vida muito mais tranquila no trânsito. Acredite.

Não é por falta de aviso. A norma está lá. Escrita. O Código de Trânsito é lei. Todos temos acesso. Todos temos a obrigação de conhecer e cumprir. Estudamos o código para “tirar a carteira” e depois esquecemos das regras? É o que parece. Ou pelo menos não as aplicamos como deveria. Não com todos, é claro, mas com uma parcela significativa dos motoristas.

Os acidentes de trânsito envolvendo motocicletas crescem assustadoramente nas ruas e avenidas das cidades. E por aqui não é diferente. Não passa um dia sequer sem pelo menos um motociclista caído no chão, ferido. As vezes até mais de um. E por vezes, morto.

Circulando diariamente pelas ruas da cidade certamente você já presenciou cenário parecido com o que estou relatando aqui. É só o fluxo “agarrar” um pouco que logo dizemos: “Deve ser um acidente”, “tá tudo parado”. Quando passamos ao lado nem mais nos incomodamos com a cena. Já faz parte do nosso cotidiano, infelizmente.

Poderia trazer ao texto outras normas de circulação e conduta que estão descritas no Código de Trânsito, como disse antes são muitas, não menos importante, mas acredito que as duas que descrevi são relevantes para um debate e uma análise de consciência de nós motoristas. Os demais atores do trânsito - pedestres, ciclistas - também possuem normas de circulação e condutas próprias, porém os condutores de veículos automotores são os envolvidos na imensa maioria dos acidentes. Precisamos mudar o comportamento. É preciso aprender com o Código. É preciso lembrar dos ensinamentos da mãe quando criança. Pare nos cruzamentos. Por um trânsito mais seguro e com menos sofrimento.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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