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É engenheiro e administrador. É membro fundador do Movimento ES em Ação. Foi diretor da Aracruz Celulose, da Fibria e presidente da CMPC. Atualmente integra o Conselho de Administração da CMPC

ES em um Brasil desgovernado: exemplo de um novo caminho

Caso capixaba demonstra que o desgoverno não é um destino inevitável. Pode ser superado por uma cidadania mobilizada, cooperativa e guiada por uma visão de longo prazo

  • Walter Lídio Nunes É engenheiro e administrador. É membro fundador do Movimento ES em Ação. Foi diretor da Aracruz Celulose, da Fibria e presidente da CMPC. Atualmente integra o Conselho de Administração da CMPC
Publicado em 09/07/2025 às 10h30

Vivemos no Brasil uma sensação cotidiana de frustração. O desgoverno é estrutural, alimentado por uma cultura política patrimonialista, clientelista e personalista. A democracia representativa, desprovida de uma base sólida de educação cidadã, torna-se um ritual vulnerável à manipulação emocional e à desinformação, abrindo espaço para lideranças populistas sem compromisso com o futuro.

Governos se sucedem sem continuidade, movidos por interesses imediatistas e alianças de ocasião. Falta ao país uma verdadeira agenda de Estado, capaz de transcender mandatos e orientar-se pelo bem comum. A máquina pública permanece fragmentada, ineficiente e frequentemente refém de disputas entre poderes, enquanto a sociedade civil está desmobilizada e descrente.

A crise brasileira é múltipla — política, institucional, moral e educacional — e revela também a omissão da própria sociedade. O avanço de discursos autoritários reflete o enfraquecimento da cultura democrática. Defender a democracia vai além da preservação de suas estruturas: exige cidadania ativa, educação crítica e participação organizada. Democracias sólidas se constroem com engajamento, controle social e qualidade da representação.

No plano social, nossas entidades evoluíram sob uma lógica extrativista e corporativista, com baixa visão sistêmica e pouco compromisso com o bem comum. Falta-nos um ambiente supracorporativo, que articule interesses diversos em torno de um projeto nacional de desenvolvimento sustentável.

Diante desse cenário, torna-se urgente a construção de um pacto nacional em torno de uma agenda de Estado de longo prazo, fruto do diálogo despolarizado e da convergência entre lideranças públicas e sociais. Isso exige reformas estruturais, valorização da cidadania desde a base educacional, fortalecimento de entidades com responsabilidade pública e uma reforma política que enfrente a fragmentação e qualifique a representação.

Neste contexto nacional de desgoverno, o Espírito Santo desponta como um exemplo inspirador de reconstrução baseada na mobilização da sociedade civil e em lideranças públicas com visão de Estado. Após viver uma grave crise institucional — marcada por corrupção, colapso fiscal e descrédito — o estado respondeu com uma articulação inédita da sociedade.

Essa reação deu origem ao Espírito Santo em Ação (ESEA), entidade apartidária que se consolidou como referência nacional em articulação cívica. Com base em planejamento, evidências e compromisso com o bem público, o ESEA passou a influenciar positivamente os rumos do Estado, estabelecendo uma rede de cooperação com diversos setores sociais e apoiando, de forma apartidária, a eleição de governos comprometidos com uma agenda estratégica.

Lideranças como Paulo Hartung e Renato Casagrande assumiram e deram continuidade a essa agenda, com marcos como o ES 2025, ES 2030 e ES 500 — voltados à responsabilidade fiscal, modernização da gestão, educação, segurança, inovação e justiça social. O Espírito Santo tornou-se exemplo de equilíbrio institucional, resistindo à polarização nacional e à lógica populista que compromete tantos outros estados.

Palácio Anchieta, Vitória
Palácio Anchieta, Vitória. Crédito: Ricardo Medeiros

Essa transformação não foi exclusividade da política institucional, mas fruto do diálogo e da convergência entre Estado e sociedade civil organizada. O caso capixaba demonstra que o desgoverno não é um destino inevitável. Pode ser superado por uma cidadania mobilizada, cooperativa e guiada por uma visão de longo prazo.

O Espírito Santo prova que, onde há articulação cívica, é possível reconstruir a confiança pública, alcançar resultados concretos e criar uma cultura de governança baseada na continuidade, inclusão e planejamento.

Essa experiência precisa ser reconhecida e valorizada. O Brasil deve aprender com exemplos como esse — onde a omissão foi substituída pela participação e o improviso, pelo planejamento compartilhado. A travessia rumo a um Brasil governado exige coragem, consciência, cooperação e o protagonismo de entidades inclusivistas que construam pontes entre Estado e sociedade, mobilizando as forças vivas da nação em torno de um projeto coletivo e despolarizado de futuro.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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