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É pneumologista e especialista em Medicina do Sono e Vice-presidente da Associação Brasileira do Sono – Regional ES

Dificuldade para dormir? Personalidade pode influenciar o sono

Quando falamos em higiene do sono, não basta apenas desligar o celular ou estabelecer uma rotina de horários. Precisamos considerar o estado emocional em que a pessoa chega na hora de dormir.

  • Jessica Polese É pneumologista e especialista em Medicina do Sono e Vice-presidente da Associação Brasileira do Sono – Regional ES
Publicado em 13/06/2025 às 10h30

Recentemente, um estudo publicado na revista Sleep chamou atenção por trazer uma nova perspectiva sobre a procrastinação do sono, especialmente entre jovens adultos. Traços de personalidade como neuroticismo, extroversão e conscienciosidade estão diretamente ligados à tendência que muitas pessoas têm de adiar a hora de dormir.

Antes de explicar melhor, acho importante esclarecer o que significa cada um desses termos. O neuroticismo, por exemplo, refere-se a um nível crônico de instabilidade emocional e desajustamento; a extroversão é a facilidade que algumas pessoas têm para expressar seus sentimentos; e a conscienciosidade é o traço relacionado à organização e à responsabilidade.

O estudo analisou 390 pessoas, com média de 24 anos, durante 14 dias, por meio de diários e questionários. O que chamou atenção foi a correlação entre o adiamento do sono e traços como maior neuroticismo, além de menor conscienciosidade e extroversão. Muitos desses indivíduos relataram experiências emocionais próximas da depressão, como a predominância de sentimentos negativos e a falta de prazer nas atividades diárias.

Quando atendo pacientes que procrastinam o sono, vejo que não se trata apenas de falta de disciplina. Eles sabem que deveriam ter uma melhor higiene do sono, mas não conseguem se desligar, por questões emocionais, pelo uso excessivo de telas ou por estarem em um estado de alerta constante. Esse comportamento está muito mais ligado ao perfil emocional da pessoa do que costumamos imaginar.

É importante destacar que essa procrastinação costuma gerar um ciclo de privação de sono e fadiga crônica, que afeta não só o rendimento profissional e acadêmico, mas a saúde como um todo, especialmente a mental.

Por isso, sempre reforço a importância de olhar para a regulação emocional como parte do tratamento da procrastinação do sono. Quando falamos em higiene do sono, não basta apenas desligar o celular ou estabelecer uma rotina de horários. Precisamos considerar o estado emocional em que a pessoa chega na hora de dormir. Se ela está ansiosa, frustrada ou deprimida, será muito mais difícil conseguir adormecer. Compreender essa ligação entre personalidade e sono pode ajudar a buscar estratégias mais eficazes para melhorar o descanso e a qualidade de vida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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