Autor(a) Convidado(a)
É pós-graduada em Segurança do Trabalho e gerente de projetos do Ideias

Deu zebra no ecossistema das startups

Na selva de bichos e startups, nem sempre os que correm sozinhos vencem as maiores batalhas. Muitas vezes, aqueles que se preocupam com o bando são os que permanecem e se multiplicam

  • Giovanna de Medeiros Salotto É pós-graduada em Segurança do Trabalho e gerente de projetos do Ideias
Publicado em 23/08/2022 às 11h42

Em 2013, a investidora-anjo e fundadora da Cowboy Ventures, Aileen Le, revolucionou o mundo das startups ao introduzir em um evento de empreendedorismo em Seattle (EUA) o termo “unicórnio” para definir empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrir seu capital em bolsas de valores, ou seja, antes de realizar o IPO (Initial Public Offering). Raras como seres mitológicos, apenas 39 empresas no mundo eram chamadas de unicórnios, correspondendo a apenas 0,07% dos negócios apoiados por capital de risco.

Em 2022, a realidade é bem diferente. De acordo com dados publicados pela Crunchbase, cerca de 1.300 empresas fazem parte da lista (não tão singela) de empresas consideradas unicórnios. O termo precisou também evoluir para acompanhar o crescimento das empresas e atribuir exclusividade. Para isso, foram criados os decacórnios e os hectocórnios, empresas que possuem valor de mercado acima de US$ 10 e 100 bilhões, respectivamente.

Além da falta de exclusividade, as empresas denominadas unicórnios enfrentam um novo desafio: a cobrança por lucro. Os investidores que buscavam propostas disruptivas e que miravam o valor futuro das empresas, hoje se mostram mais exigentes e questionadores quanto aos resultados de mercado e lucro a curto prazo. Dentre os unicórnios abalados, estão as gigantes Netflix, Uber e a brasileiríssima NuBank, que nunca apresentaram lucro consistente, embora tivessem valor de mercado na casa das dezenas e até mesmo centenas de bilhões de dólares.

NOVAS DENOMINAÇÕES

Os investidores estão buscando afinal, mais do que uma simples aposta. Diante disso, novas denominações inspiradas no reino animal foram criadas para representar outros modelos de gestão, que não sejam necessariamente o crescimento a qualquer custo dos unicórnios.

O portal de notícias Sifted divulgou uma lista com 12 denominações representadas por animais e suas características mais marcantes, como camelos, ursos, gazelas e outros. Porém, um deles vêm ganhando espaço entre as startups: as zebras. Em uma matéria publicada pela Forbes em junho de 2022, denominada “Pare de procurar unicórnios - seja uma Zebra”, ao contrário dos unicórnios, as zebras são enxutas, adaptáveis, aceleram organicamente, resolvem problemas reais e atendem às necessidades do mercado, mostrando-se consistentes e sustentáveis.

Em outras palavras, as “zebras consertam o que os unicórnios quebram”, lema do movimento “Zebras United” criado em 2017 pelas empreendedoras e CEOs Mara Zepeda, Aniyia Williams, Astrid Scholz e Jennifer Brandel. Conforme descrição de Zepeda, uma zebra é “uma cooperativa internacional que está criando capital, cultura e comunidade para a próxima economia”.

SUSTENTABILIDADE DAS ZEBRAS

A sustentabilidade apresentada pelas zebras transpassa os limites econômicos e abrangem também os socioambientais. Em matéria publicada pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital - ABVCAP, André Hotta, COO da Darwin Startups, descreve as zebras como empresas que entendem que “não é preciso sacrificar o bem-estar social na corrida pelo crescimento, e tentam equilibrar o lucro e o retorno positivo à sociedade, sem sacrificar um pelo outro”.

As zebras atendem aos princípios de ESG (ambiental, social e de governança) sem se esquecer do aspecto econômico, tendo como base a economia solidária, onde os negócios buscam o mutualismo, cooperação e prosperidade compartilhada.

No Brasil, o exemplo de uma Zebra bem-sucedida é a GamePlan, única GameTech certificada no Brasil para atender o mercado global de jogos. A vencedora do último desafio Livelo que aconteceu no Rio 2C, maior evento de criatividade da América Latina, espera crescer cerca de 1000% em faturamento em 2022 após já ter crescido 700% em 2021, contando atualmente com cerca de 185 clientes em todo o mundo.

Seu fundador, André Faure, destaca sua preferência por um crescimento sustentável e sólido, optando pela segurança mesmo que seja necessário dar passos menores. Além disso, a empresa apoia a diversidade e tem 50% do quadro de funcionários composto por pessoas LGBTQIA+, com vagas que dão preferência a mulheres, negros, trans, entre outras.

CONSUMO CONSCIENTE

Outro exemplo de zebra que tem em suas listras o verde de uma GreenTech é a Gooxxy, outrora denominada XPrajá. Criada em 2017 com a missão de recolocar produtos no mercado, com o vencimento aproximado, remanufaturados ou descontinuados. O principal objetivo é promover um consumo consciente que gera oportunidades sustentáveis para toda a cadeia: consumidores, indústrias e o varejo.

Mais de 30 empresas se tornaram clientes da Gooxxy, entre elas a P&G, Danone, Unilever, Nestlé, Coca-Cola e outras gigantes. Gigantes também são seus números e cifras: mais de 60 milhões de skus (Stock Keeping Unit) consumidos e R$ 300 milhões recolocados.

Na selva de bichos e startups, nem sempre os que correm sozinhos vencem as maiores batalhas. Muitas vezes, aqueles que se preocupam com o bando, constroem estratégias de sobrevivência, aperfeiçoam a resiliência e melhor convivem com o meio em que vivem são os que permanecem e se multiplicam. E nessa batalha das startups, esperamos que tenhamos mais Zebras, afinal.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Bolsa de Valores empresas Negócios Startup

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.