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É coordenadora de Sustentabilidade em Mudanças Climáticas da Suzano

Descarbonização não se faz apenas com boas intenções ou discursos

Eu diria que descarbonizar não pode ser uma tarefa da minha empresa ou da minha área essencialmente. É uma missão coletiva e o tempo de agir já está rodando

  • Nathalia Fan Naville É coordenadora de Sustentabilidade em Mudanças Climáticas da Suzano
Publicado em 08/07/2025 às 14h51

Falar sobre descarbonização é muito mais do que tratar de metas e indicadores. É encarar uma transformação profunda e transversal, que exige decisões ousadas, articulação entre áreas diversas e, sobretudo, colaboração entre empresas, governos e a sociedade.

Na Suzano, onde atuo na área de Sustentabilidade em Mudanças Climáticas, temos a clareza de que o tema climático é urgente, mas é tão complexo quanto. E justamente por ser tão desafiador é que precisa ser enfrentado de forma coletiva, é preciso que haja um senso comum em prol deste assunto tão recorrente nas indústrias.

Tenho aprendido, ao longo dessa jornada, que descarbonizar não se faz apenas com boas intenções ou discursos. É preciso inserir essa agenda no centro das decisões estratégicas, e isso inclui, por exemplo, adotar ferramentas como o Preço Interno de Carbono (PIC).

Na prática, isso significa monetizar o impacto das reduções de emissões de gases de efeito estufa em nossos projetos. O PIC é integrado à avaliação de novos investimentos e é um critério obrigatório de análise no processo de aprovação de projetos de CAPEX para modernização e expansão, reforçando nossos esforços para a transição para uma economia de baixo carbono.

Mas mesmo com essa estrutura interna bem desenvolvida, os desafios externos permanecem grandes. Um dos pontos mais sensíveis é a logística. Transportar madeira e celulose no Brasil exige um esforço imenso e, muitas vezes, ainda dependente de modais com alta emissão.

Falar de transição aqui é falar de infraestrutura, de incentivos e da capacidade de investir em alternativas viáveis, como biocombustíveis e eletrificação. São soluções possíveis, mas que ainda esbarram em muitos obstáculos.

Outro ponto crítico é a matriz energética. Embora o Brasil tenha uma matriz elétrica relativamente limpa, a matriz energética como um todo (que inclui o consumo de combustíveis fósseis) ainda é altamente emissora. Nas operações florestais, por exemplo, o uso do diesel é, em muitos casos, a única opção disponível. A saída está em ampliar o acesso a soluções como biometano, energia solar em escala descentralizada e eletrificação de equipamentos. Mas, de novo, isso demanda articulação, tempo e investimento.

Descarbonizar também exige olhar para a cadeia de valor. Boa parte das emissões está fora do nosso controle direto, no chamado escopo 3, ou seja, é nossa responsabilidade, mas como resolver se não temos a devida autonomia? Por isso, apoiar nossos fornecedores é essencial, e muitos deles são de pequeno e médio porte, ou tem baixa maturidade no tema, mas precisam ter a mesma atenção e responsabilidade. Oferecendo capacitação, incentivando o uso de insumos mais limpos ou criando mecanismos de apoio técnico, precisamos construir um ecossistema de baixo carbono. Mas o primeiro passo é saber que ninguém descarboniza sozinho.

Suzano mantém mais de 108 hectares de áreas preservadas e é responsável por cerca de 5.800 empregos no Espírito Santo
Suzano mantém mais de 108 hectares de áreas preservadas e é responsável por cerca de 5.800 empregos no Espírito Santo. Crédito: Suzano/ Divulgação

A inovação tem sido nossa grande aliada. Na Suzano, trabalhamos para transformar a celulose em matéria-prima de produtos que substituem plásticos, tecidos sintéticos e outros itens de origem fóssil. Já desenvolvemos fibras têxteis sustentáveis, embalagens biodegradáveis e até componentes industriais a partir da biomassa. É um caminho promissor, que exige pesquisa, parcerias e visão de longo prazo. E é nesse espaço que conseguimos unir sustentabilidade e competitividade.

Mas não somos apenas nós, as empresas, que precisamos fazer nossa parte. A presença do Estado é decisiva e sem políticas públicas robustas, sem um marco regulatório estável e sem mecanismos como o mercado regulado de carbono, os avanços tendem a ser pontuais e demasiadamente lentos. A previsibilidade é o que move grandes investimentos, e a regulação pode e deve ser um vetor de transformação.

A jornada segue e, cada vez mais, vai requerer olhares atentos aos desafios, estratégias eficazes e a mentalidade comprometida com a solução. Certamente não será fácil, mas qualquer grande mudança é desafiadora, porém possível, urgente e necessária para o planeta.

Finalizando, eu diria que descarbonizar não pode ser uma tarefa da minha empresa ou da minha área essencialmente. É uma missão coletiva e o tempo de agir já está rodando.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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