No ano passado, viralizou nas redes sociais uma postagem fazendo uma comparação entre o prédio da Câmara de Vitória e o bombom Alpino da Nestlé. No Twitter, o prédio da Câmara também foi comparado a um pudim, um queijo, uma tampa de creme dental e um copinho de café.
Para nós capixabas que costumamos esquecer os nossos heróis e não nos importar com a própria história, é bom esclarecer que o projeto da Câmara de Vitória é resultado de um concurso de arquitetura realizado em 1972, vencido por um jovem e talentoso arquiteto, nascido em Cachoeiro de Itapemirim.
O edifício só foi inaugurado em 1976, quando ainda predominava o estilo modernista e a estética dos volumes puros, tais como o cubo, o paralelepípedo, o cilindro, a semiesfera, e no caso da Câmara, o cone.
É importante esclarecer que somente o auditório da Câmara de Vitória tem forma de cone e que as salas e gabinetes dos vereadores estão localizados ao fundo do conjunto edificado. Esse formato cônico foi usado em muitos outros edifícios pelo país afora, como na Catedral de São Sebastião, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.
O que provavelmente levou à comparação do auditório da Câmara com o bombom da marca suíça foi a ausência de janelas e o acabamento das paredes externas, que valoriza a aparência do concreto e que já foi uma solução plástica muito utilizada.
Quem acompanha arquitetura sabe que os prédios têm mudado muito de aparência e, embora o auge do modernismo já tenha ficado no passado, as formas geométricas puras nunca deixaram de ser utilizadas. O Grande Teatro Nacional de Pequim, por exemplo, inaugurado em 2007, tem a forma de um bolo e a torre de vidro Gherkin inaugurada em 2004 no centro financeiro de Londres foi apelidada de "pepino", devido ao seu formato cilíndrico.
Mas se na capital inglesa o "pepino" foi a maneira espirituosa que os londrinos encontraram de se referir a um ícone da arquitetura contemporânea, aqui na capital capixaba a comparação do auditório da Câmara com um bombom foi claramente depreciativa. Nesse caso, as comparações feitas nas redes sociais não só banalizaram a forma do auditório da Câmara, como sugeriram certa falta de criatividade de quem o projetou.
Como arquiteto, vejo isso como uma injustiça ao autor do projeto, o arquiteto Carlos Alberto (Bebeto) Vivácqua, que mesmo tendo morrido muito cedo, aos 42 anos, e no auge de sua carreira, pontuou a cidade com edifícios de notável qualidade arquitetônica, tais como o Palácio Municipal, o Palácio do Café e a sede da Rede Gazeta.
Entendo que as redes sociais, por conta de sua natureza interativa, estejam inclinadas às chamadas "lacrações". Também compreendo que essas brincadeiras contribuem para deixar nossos dias mais leves. Porém, acredito que seja importante conhecer a nossa própria história e aprender a valorizar os talentos da terra e a nos orgulhar de personalidades como o saudoso arquiteto Bebeto Vivácqua, quem em sua breve passagem contribuiu para fazer da nossa cidade um lugar muito mais bonito e agradável.
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