Autor(a) Convidado(a)
É procurador do Estado do Espírito Santo e mestre em Direito Público (UERJ)

Com escassez de soluções e excesso de problemas, Brasil parece abandonado

Não bastasse a força do vírus, os ciclos do atraso que caracterizam nossa história revelam-se país afora: faltam leitos, falta planejamento, falta infraestrutura, falta tudo

  • Jasson Hibner Amaral É procurador do Estado do Espírito Santo e mestre em Direito Público (UERJ)
Publicado em 02/04/2021 às 02h00
Novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com respirador no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra.
Novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com respirador no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra. . Crédito: Reprodução/TV

Tempos difíceis. Não bastasse a astúcia do vírus, ainda longe de ser compreendido pela ciência, os ciclos do atraso que caracterizam nossa história revelam-se escancaradamente: país afora faltam leitos, falta planejamento, falta infraestrutura, falta tudo!

Neste cenário de escassez absoluta, não falta sofrimento, não faltam lágrimas, não faltam histórias tristes e vidas abruptamente interrompidas. Sobeja populismo minuciosamente arquitetado e potencializado no uso das redes sociais como instrumentos de proliferação de ódio e de boicote àqueles agentes públicos que, à mingua de uma (necessária) política de coordenação central, envidam esforços para garantir dignidade aos cidadãos de seus Estados e de suas cidades.

Entre escassez de soluções e excesso de problemas, somos um Brasil abandonado à própria sorte pela maior autoridade do país. Abandono que preocupa o mundo. O Brasil, antes exemplo mundial de um programa de vacinação robusto e eficiente, passa a ser visto como o local onde a ausência da vacina pode fazer desenvolver cepas cujas consequências ainda não se pode sequer dimensionar.

E o que pode estar por trás de tantas escolhas e atitudes equivocadas que nos fizeram chegar até aqui?

É comum que o valor de uma atitude ou ação seja mensurado pelas consequências que ela produz. É comum e corriqueiro, mas será que é certo?

Minimizar a gravidade da pandemia, não tomar medidas impopulares a fim de garantir uma falsa sensação de normalidade que propicie a perpetuação do poder nas urnas pode ser um exemplo drástico desse tipo de filosofia política. Infelizmente é disso que estamos vivendo.

Mas a filosofia pode ser (e é) muito melhor que isso! Basta fazer a escolha certa!

Immanuel Kant, filósofo do século XVIII cujas ideias até hoje inspiram e fundamentam a defesa da universalidade dos direitos humanos, dizia que o que atribui valor moral a uma ação é o princípio, o motivo que leva a sua prática. As consequências da ação, positivas ou negativas, dependem de circunstâncias que, muitas vezes, fogem ao controle de quem age.

Em outras palavras, diria o filósofo prussiano, a razão e a autonomia (liberdade) de que somos dotados deve nos levar a fazer o certo simplesmente porque é o certo a se fazer. E se há um imperativo que deve nortear nossa conduta, este se traduz em considerar cada ser humano como um fim em si mesmo, que jamais pode ser usado como meio para a consecução de qualquer outro objetivo.

A consideração desse imperativo categórico certamente levaria a medidas antipáticas, restritivas de liberdades, lastreadas no princípio supremo de salvar cada vida com a singularidade que a distingue de qualquer outra existência.

Não é simples, mas um pouco de boa filosofia talvez nos conduzisse a tempos menos sombrios.

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