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É publicitária especialista em branding e posicionamento de marca

Caso Tânia Bulhões: confiança é como uma xícara de porcelana

A crise de Tânia Bulhões reforça a necessidade de consistência entre proposta e entrega. Os consumidores esperam que as marcas sejam transparentes, coerentes e alinhadas com os valores que pregam

  • Petúnya Rébuli É publicitária especialista em branding e posicionamento de marca
Publicado em 13/02/2025 às 15h34

A recente polêmica envolvendo a marca Tânia Bulhões trouxe à tona discussões sobre autenticidade e posicionamento de marca. O caso começou quando um vídeo viral no TikTok mostrou que xícaras idênticas às da coleção Marquesa, vendidas pela grife brasileira por R$ 210 a unidade, podiam ser encontradas em um estabelecimento simples na Tailândia, onde eram usadas para servir “um café de R$ 5”. Chamou atenção o fato de as peças não possuírem nenhum logotipo, ao contrário das supostamente originais que trazem o selo no fundo de cada xícara.

A descoberta gerou questionamentos sobre a origem das peças e a coerência do discurso da marca, que afirmava que sua louça era desenhada por Tânia Bulhões e inspirada nas fazendas mineiras. A curiosa presença de um limão siciliano no design – uma fruta originária do Sudeste Asiático e não de Minas Gerais – inflamou ainda mais a opinião pública e a repercussão do caso tomou grandes proporções.

Diante da pressão, a marca reconheceu que até 2023 suas porcelanas eram produzidas por fornecedores externos e anunciou a descontinuação de quatro coleções. A empresa também destacou a aquisição da fábrica Royal Limoges e a construção de uma unidade de produção própria no Brasil como medidas para reforçar o controle sobre sua cadeia produtiva. No entanto, os vídeos com críticas à marca continuam viralizando nas redes.

Esse episódio levanta uma reflexão mais ampla sobre a relação entre marcas e consumidores. Em um cenário onde autenticidade e propósito são diferenciais estratégicos, qualquer incoerência entre discurso e prática pode ser rapidamente exposta e gerar uma crise de credibilidade. Isso se aplica não apenas à Tânia Bulhões, mas a qualquer empresa que construa sua identidade com base em valores como exclusividade, tradição e originalidade.

O caso evidencia como a percepção do público sobre uma marca não se limita ao produto final, mas envolve toda a narrativa construída ao redor dele. Quando uma empresa vende uma xícara como uma peça autoral e artesanal, mas o consumidor descobre que se trata de um item de produção massificada, a confiança é abalada. A valorização de uma marca vai além do material ou da funcionalidade do produto; ela está no significado atribuído a ele, na experiência que proporciona e na história que conta.

Xícara Tânia Bulhões
Xícara da grife de Tânia Bulhões. Crédito: Reprodução / Tânia Bulhões

Além disso, a transparência na comunicação é essencial. Em um ambiente digital onde a informação circula rapidamente, os consumidores estão mais atentos e exigentes. A internet amplifica debates e pode colocar em xeque a reputação de uma empresa em questão de horas. Por isso, marcas que adotam um posicionamento claro e verdadeiro, evitando promessas exageradas ou desconexas com a realidade, tendem a construir relacionamentos mais sólidos com seu público.

A crise de Tânia Bulhões reforça a necessidade de consistência entre proposta e entrega. Os consumidores esperam que as marcas sejam transparentes, coerentes e alinhadas com os valores que pregam. Afinal, confiança é como uma xícara de porcelana: uma vez quebrada, nunca volta a ser a mesma.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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