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Kelder é vigário Episcopal para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória. Alexandre é mestre em Comunicação e Territorialidades

Campanha da Fraternidade 2025: o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação ambiental

A Campanha da Fraternidade proposta pela Igreja Católica à sociedade no Tempo da Quaresma é um chamado à ação e à esperança

  • Kelder José Brandão Figueira e Alexandre Lemos Kelder é vigário Episcopal para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória. Alexandre é mestre em Comunicação e Territorialidades
Publicado em 05/03/2025 às 10h00

A Campanha da Fraternidade de 2025, que se inicia nesta quarta-feira (5) em todo o Brasil, com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), nos impele a duas importantes ações: a refletir sobre nossa relação com a criação e a assumir a responsabilidade de proteger o meio ambiente. Em tempos de crises ambientais e sociais, esse chamado nos lembra que cuidar da terra é cuidar da vida, em todas as suas formas.

No Espírito Santo, o impacto da degradação ambiental é evidente. As recentes enchentes em cidades como Mimoso do Sul, que deixaram famílias desabrigadas e destruíram propriedades, são consequências de um desequilíbrio causado, em parte, pela ocupação desordenada e pela falta de cuidado com áreas naturais.

Pessoas tentam encontrar alimentos em meio à lama da destruição em Mimoso do Sul
Pessoas tentam encontrar alimentos em meio à lama da destruição em Mimoso do Sul. Crédito: Fernando Madeira

A vegetação que antes protegia encostas e margens de rios foi removida para dar lugar à exploração econômica, tornando comunidades inteiras mais vulneráveis às chuvas intensas, principalmente, os mais empobrecidos, obrigados a construir suas moradias em lugares de risco.

Esses locais, além de serem patrimônio ambiental, são refúgios de biodiversidade e fundamentais para o equilíbrio ecológico. A possível privatização gera receio sobre o acesso da população e o verdadeiro compromisso com a preservação desses espaços. A gestão dessas áreas deve priorizar o bem comum, e não interesses econômicos que possam comprometer sua integridade.

A Campanha da Fraternidade nos convida a uma conversão ecológica, como enfatiza o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’. Não se trata apenas de ações pontuais, mas de adotar um novo estilo de vida que respeite a criação. Isso inclui atitudes simples, como a redução do consumo de descartáveis, o incentivo à reciclagem e o uso consciente da água.

Mais do que isso, exige o engajamento em debates políticos e sociais, cobrando políticas públicas que garantam a proteção do meio ambiente e promovam justiça social, como por exemplo, o enfrentamento ao pó preto, lançado no ar da Grande Vitória por empresas poluidoras.

O lema, inspirado no relato bíblico da criação, nos recorda que tudo o que Deus criou é “muito bom” e nos foi confiado para cultivar e guardar. Esse cuidado implica enxergar a interdependência entre a humanidade e a natureza. Quando destruímos os recursos naturais, estamos não apenas ferindo o planeta, mas também prejudicando as populações mais vulneráveis, que sofrem com os impactos de desastres ambientais e com a desigualdade no acesso aos bens da criação.

Aqui, no Espírito Santo, temos a oportunidade de liderar pelo exemplo, protegendo nosso rico patrimônio natural e promovendo ações integradas entre comunidades, organizações e governos. A experiência nos mostra que a negligência com a natureza custa caro, tanto para o presente quanto para o futuro.

A Campanha da Fraternidade proposta pela Igreja Católica à sociedade no Tempo da Quaresma é um chamado à ação e à esperança. Que possamos, como agentes de transformação, lutar pelo equilíbrio entre desenvolvimento e preservação. Afinal, cuidar da criação é honrar a bondade de Deus e garantir um futuro digno para todos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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