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É economista e advogado, com MBA pela Columbia University (Nova York) e mestre em Finanças pela FAU (Flórida), foi diretor financeiro do Banestes de 2017 a 2019 e, nos últimos 25 anos, atua em transações de fusões e aquisições no Brasil e no exterior

BYD, Sigma Lithium, WEG: tecnologia limpa é a indústria do futuro

Se o Brasil quer entrar em definitivo no século XXI, devemos parar de olhar para trás e passar a olhar para frente. O petróleo é nosso, mas o futuro pertence à energia limpa e às empresas de alto valor agregado

  • João Fabio Tavares É economista e advogado, com MBA pela Columbia University (Nova York) e mestre em Finanças pela FAU (Flórida), foi diretor financeiro do Banestes de 2017 a 2019 e, nos últimos 25 anos, atua em transações de fusões e aquisições no Brasil e no exterior
Publicado em 01/03/2024 às 13h43

O Espírito Santo, com sua proximidade com o centro consumidor do país, sua infraestrutura de portos e vocação para logística de minerais e produtos de exportação, pode se beneficiar na nova onda de investimentos em “cleantech”. A área de tecnologias limpas envolve todos os segmentos que podem endereçar os riscos climáticos, índices de poluição, entre outros, para benefício das próximas gerações.

Os governos dos países norte-americanos, tanto EUA quanto Canadá, estão na vanguarda desse movimento, subsidiando e provendo empréstimos significativos para promover investimentos em energias limpas (solar e eólica), eletrificação dos transportes (veículos elétricos, baterias e mineração), incluindo subsídio aos consumidores finais dessas tecnologias.

Nos EUA, por exemplo, um consumidor que invista em uma instalação solar no telhado da sua casa pode abater parte do valor na sua declaração de Imposto de Renda.

Falando de investimentos na eletrificação dos transportes e, mais especificamente, no segmento de baterias elétricas para veículos, o governo do Canadá (nível federal e estadual) já investiu quase US$ 8 bilhões, de modo a atrair investimentos em 10 novas plantas industriais focadas no segmento de veículos elétricos. Em um relatório oficial de 2022, o governo canadense estima que os investimentos em “energia limpa” podem gerar 250 mil empregos e adicionar quase US$ 50 bilhões ao PIB anual canadense.

O BNDES e o Bandes podem ser peças fundamentais para financiar esses novos investimentos, mas são os royalties do petróleo recebidos pelo governo estadual e pelos municípios capixabas que devem ser empregados para transformar o dinheiro da energia “suja” em investimentos para o futuro. Até países árabes, famosos produtores de petróleo, têm anunciado aplicação de recursos para diversificar sua base econômica.

Existem também fontes privadas de capital, como “green bonds”, e fundos focados em financiamento de novas infraestruturas, como o Pátria Infra Crédito FIDC, que foi anunciado neste mês, com recursos de R$ 1,5 bilhão e engloba os setores de energia, saneamento, logística e transporte, mobilidade urbana e telecomunicações.

A grande estrela do lítio no Brasil é a empresa Sigma Lithium, listada no Nasdaq (mercado de ações norte-americano), mas de capital humano 100% nacional, que já começou a produzir e exportar concentrado de lítio a partir do Vale do Jequitinhonha, no meio do caminho entre Montes Claros e o litoral do Espírito Santo.

O BNDES já assinou uma carta de intenções para financiar o investimento de R$ 500 milhões em uma segunda planta industrial de concentrado de lítio para dobrar a capacidade de produção anual para 500 mil toneladas.

Não podemos esquecer que a brasileira WEG, maior produtora global de motores elétricos industriais, anunciou no final de 2022 um investimento de R$ 660 milhões, boa parte para a nova fábrica que será dedicada a motores para o segmento de mobilidade elétrica e que vai ser concluída ainda neste ano.

Em parceria com a Volkswagen, vai equipar o primeiro caminhão elétrico 100% brasileiro, o e-Delivery, que já é utilizado para a última milha das entregas em centros urbanos por empresas como Ambev, Femsa e Heineken.

E o que temos ao Norte do Espírito Santo? O maior investimento ligado a veículos elétricos no Brasil, no valor de R$ 3 bilhões, anunciado em 2023 pela gigante chinesa BYD. Para quem não conhece, é a empresa que superou a Tesla em vendas globais de veículos elétricos. Além disso, a BYD é conhecida também pelos veículos híbridos (que a Tesla não produz). A motorização híbrida é a solução mais adequada ao mercado brasileiro pela incipiente infraestrutura para atender veículos 100% elétricos.

BYD Dolphin Mini
A bateria carrega em até 30 minutos com 80% de sua carga. Crédito: BYD/Divulgação

Outro detalhe importante: a BYD nasceu como empresa de baterias e depois de 15 anos de crescimento se tornou a maior fabricante chinesa de baterias recarregáveis. Esse seria o projeto dos sonhos para o Espírito Santo (e para o Brasil): uma giga-fábrica de baterias de veículos elétricos para atender o mercado local e a exportação, utilizando o lítio a ser extraído no Vale do Jequitinhonha.

Se o Brasil quer entrar em definitivo no século XXI, devemos parar de olhar para trás e passar a olhar para frente. O petróleo é nosso, mas o futuro pertence à energia limpa e às empresas de alto valor agregado. O Espírito Santo tem a oportunidade de se posicionar como um polo industrial e exportador de cleantech, como fez em tempos passados com o aço e com a celulose.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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