No último sábado (19), completou-se um ano do ataque à Escola Municipal de Ensino Fundamental Eber Louzada Zippinotti, em Vitória. Foi um dia em que nós, famílias, estudantes, professores e profissionais da educação, tivemos um sofrimento extremo. De ver nossa comunidade exposta ao risco de vida em um espaço feito para aprender e ser feliz. Dor essa que aumentou e que se une à da comunidade escolar e das famílias de Aracruz, que perderam seus entes queridos em um ataque a duas escolas em novembro do ano passado.
Sabemos que essa dor atinge muitas outras comunidades e famílias pelo Brasil e pelo mundo. E é nesse espírito de solidariedade que gostaria de aclamar a todas as famílias, as autoridades e a sociedade civil para que, em memória dessas pessoas, e em nome de quem sobreviveu e está lidando com diversos traumas, tome todas as medidas para que tais atrocidades nunca mais ocorram e as crianças possam estar seguras nas escolas, nas ruas, nas casas.
Foi muito difícil voltar à escola. Mais difícil para quem viveu o trauma mais de perto. Para a maioria, a sensação de insegurança foi diminuindo na medida em que medidas foram tomadas: a verificação do espaço, o reforço na segurança física da escola, as novas rotinas de entrada e saída, a organização de uma equipe de patrulha escolar na Guarda Civil Metropolitana, protocolos e procedimentos de segurança escolar unificados no âmbito do Estado, ações federais de combate à ciberviolência.
Medidas pedagógicas também nos deixam mais seguros: um cuidado maior com a disciplina, um acompanhamento mais próximo de situações de desrespeito e bullying, um acolhimento maior de quem está isolado. Fortalecemos, assim, a parceria entre família e escola, ao mesmo tempo em que vimos nascer políticas públicas para garantir a segurança nas escolas. Mas mesmo com todas essas medidas, para alguns, as consequências perduram e os tratamentos seguem sendo necessários.
E ainda há muito o que fazer. A começar pelos treinamentos para lidar com ataques e outras situações de risco, como incêndios, e orientações sobre primeiros-socorros. É sabido que não havia especialistas em ataques no Estado antes de eles ocorrerem, mas para nós, famílias, a demora de um ano para desenvolver esse conhecimento ou contratar alguém de fora para oferecê-lo é demasiada. Isso sem falar na possibilidade de oferecer primeiro os treinamentos para incêndios e primeiros-socorros, jamais consolidados. Esses conhecimentos deixariam as crianças mais seguras para estarem no ambiente escolar, no entanto, ainda não foram ofertados.
Também é urgente repensar as dinâmicas e as necessidades das escolas. Nesse sentido, a audiência pública da Câmara Municipal de Vitória, realizada, por iniciativa da vereadora Karla Coser, no último dia 27 de junho, na Emef Álvaro de Castro Mattos, foi um primeiro passo importante, de um longo diálogo que precisa ser continuado.
Naquela audiência pública, foram apresentadas propostas fundamentais para o fortalecimento da atuação nas escolas, com uma presença maior de profissionais para educar, acolher, orientar e garantir uma escola não só segura, mas também feliz e com uma educação de qualidade para as crianças. Isso envolve um corpo profissional com mais educadores, mas também a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas para ajudar a acompanhar e encaminhar as crianças para tratamento, e também uma política multissetorial mais integrada, com mais profissionais, na área de saúde (inclusive a mental), assistência social e psiquiátrica, apoio aos direitos das crianças, entre outras.
Além disso, é necessário garantir que as políticas públicas efetuadas até agora se tornem permanentes, bem como os profissionais já contratados – dos quais muitos vieram de forma temporária. Nós, famílias, conclamamos toda a sociedade a se envolver neste debate e a buscar soluções efetivas e duradouras para que as escolas sejam efetivamente lugares seguros, de aprendizado e de felicidade, para toda a comunidade escolar. Não queremos ataques a escolas nunca mais!
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