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É advogada, psicóloga e idealizadora do Projeto Ressignificando (@ressignificando_projeto)

Assistência de padre Julio Lancellotti nas ruas de São Paulo não é esmola

A Pastoral do Povo da Rua tem como função auxiliar pessoas em relação a suas necessidades básicas, mas além disso cadastrar e conhecer cada vida ali abordada

  • Sátina Priscila M. Pimenta É advogada, psicóloga e idealizadora do Projeto Ressignificando (@ressignificando_projeto)
Publicado em 11/08/2021 às 14h01
O padre Julio Lancellotti
O padre Julio Lancellotti em ação com moradores de rua de São Paulo. Crédito: Reprodução Twitter @pejulio

No domingo (8), a deputada estadual Janaina Paschoal disparou nas redes sociais: “As pessoas que moram e trabalham naquela região já não aguentam mais. O padre e os voluntários ajudariam se convencessem seus assistidos a se tratarem e irem para os abrigos. A distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime. O tema precisa ser debatido com honestidade”.

O conteúdo diz respeito a reportagens que informavam que a polícia tentou impedir a ação do padre Julio Lancellotti de ofertar marmitas na Cracolândia de São Paulo.

A deputada foi chamada de higienista. Mas o que é isso? A política higienista é uma política que visa a limpeza dos espaços públicos, e ela acontece no Brasil desde sempre! A Revolta da Vacina, os hospitais “psiquiátricos” que escondiam os “desajustados” e ainda a criminalização dos comportamentos “desviantes” para justificar a prisão de pessoas são exemplos dela.

Porém, enganam-se aqueles que pensam que o padre quer manter aquelas pessoas ali, assim como a deputada ele quer que a situação seja modificada.

A Pastoral do Povo da Rua tem como função auxiliar pessoas em relação a suas necessidades básicas, mas além disso cadastrar e conhecer cada vida ali abordada. Com tais informações, atuam com as equipes multidisciplinares de Consultórios de Rua (SUS) e Abordagem de Rua (Assistência Social) e buscam formas para incentivá-las a mudar de vida.

A diferença entre o trabalho realizado pelo padre e o das pessoas que sacam moedas, dão marmitas na saída de restaurantes ou compram jujubas de crianças nas baladas é esta: o padre presta assistência e os outros só estão dando esmolas.

E são as esmolas que mantém a pobreza. Os que realizam doações indiscriminadamente o fazem para satisfazer apenas a si, pois em nada contribuem para a mudança na vida daquela pessoa, na verdade eliminam apenas uma necessidade (fome, drogas, etc), mas não trazem reflexão, acolhimento e encaminhamento. Ao contrário, reforçam a situação nas ruas e fortalecem o vínculo da pessoa com o crime e o tráfico, pois, depois que fazem a doação, eles dão as costas e vão embora.

Se há o interesse em apoiar o certo é buscar por locais sérios. Nos municípios do Espírito Santo possuímos CREASPOP (Centro de Referência a População de Rua), que na capital podem ser acionados pelo disk 156. Há ONGs que garantem que sua contribuição chegue a quem realmente necessitam como @obemquecontagia.

Portanto, precisamos sim fazer a nossa parte, mas é preciso fazer com consciência e não só para conquistar um pedacinho no céu.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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