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É coronel RR da PMES e idealizador da Repas

A evolução da Repas em Guarapari: uma jornada pela segurança cidadã

A cidade merece ser referência não só por suas praias, mas também pela forma inovadora e humana com que protege seus cidadãos e visitantes

  • Jailson Miranda É coronel RR da PMES e idealizador da Repas
Publicado em 06/06/2025 às 13h00

Guarapari, uma das cidades mais emblemáticas do litoral capixaba, há anos combina beleza natural e vitalidade turística com os desafios típicos de segurança pública que emergem em regiões de grande fluxo populacional. Foi nesse cenário que, em 2008, surgiu a Rede de Promoção de Ambientes Seguros (Repas), uma iniciativa pioneira da Polícia Militar do Espírito Santo com foco na prevenção da violência por meio da integração comunitária e da gestão participativa da segurança.

Inspirada no modelo interativo de polícia e na Teoria das Janelas Quebradas — que preconiza o combate à desordem como forma de prevenir crimes mais graves —, a Repas se estruturou a partir de um diagnóstico feito por soldados da PMES. O objetivo era claro: transformar espaços urbanos vulneráveis em ambientes organizados, iluminados, cuidados e seguros.

Mas a inovação da REPAS não se limitava ao patrulhamento ostensivo. O diferencial estava na conexão direta com a população. A polícia, ao invés de atuar isoladamente, envolvia moradores, comerciantes, lideranças e órgãos públicos em reuniões, diagnósticos e decisões compartilhadas. Essa abordagem colaborativa se mostrou eficaz: áreas críticas viram seus indicadores de violência recuar, e a sensação de segurança melhorar significativamente.

Localizado no Centro de Guarapari, o Siribeira foi fundado há 75 anos
Guarapari. Crédito: Marcelo Moryan

O reconhecimento não demorou. Em 2009, a Repas foi premiada na 1ª Feira do Conhecimento em Segurança Pública, durante a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg), em Brasília, como melhor prática do Brasil em prevenção à criminalidade. No ano seguinte, conquistou o Prêmio Inoves, destaque estadual em inovação na gestão pública.

A experiência de Guarapari se tornou referência, sendo replicada em outras regiões do Espírito Santo e debatida em fóruns nacionais. A Repas demonstrou, na prática, que políticas de segurança podem ser cidadãs, humanas e eficazes.

Apesar do legado positivo, a continuidade da Repas enfrenta obstáculos. A ausência de políticas municipais estruturadas e de um compromisso efetivo da administração local com a segurança pública limitam seu pleno desenvolvimento. A experiência acumulada desde 2008 mostra que é essencial uma atuação integrada entre Estado, prefeitura e sociedade civil.

Nesse contexto, algumas medidas são indispensáveis para a consolidação do modelo: criação da Guarda Municipal de Guarapari, com formação comunitária; Implantação de um Gabinete de Gestão Integrada Municipal, promovendo a articulação entre forças de segurança, secretarias e comunidade; uso de tecnologia em segurança pública, como videomonitoramento, alarmes comunitários e integração de dados; fortalecimento da rede de Conselhos Comunitários de Segurança, promovendo cidadania e participação ativa; ações urbanas preventivas, como iluminação pública, combate à poluição sonora, ordenamento do uso do solo e limpeza urbana.

A parceria entre a Polícia Militar e a prefeitura precisa ser institucionalizada e contínua, com orçamento, metas claras e envolvimento das secretarias de turismo, educação, saúde e assistência social. A segurança não pode ser tratada apenas como um tema policial; ela é transversal e exige corresponsabilidade.

A Repas representa um divisor de águas na gestão da segurança em Guarapari. Ela mostrou que é possível construir um modelo de prevenção eficaz, com base na confiança, no diálogo e na ação compartilhada. Mas para que continue sendo exemplo, é preciso mais do que boas intenções: é necessária vontade política e investimento.

O futuro da segurança pública em Guarapari passa pela institucionalização da Repas como política de Estado municipal, com estrutura, metas e avaliação. A cidade merece ser referência não só por suas praias, mas também pela forma inovadora e humana com que protege seus cidadãos e visitantes.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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