O ano de 2023 será marcado pelo início de um novo ciclo de governo no Espírito Santo. A missão de comandar o Estado será mais uma vez do atual governador Renato Casagrande (PSB), que foi reeleito nas eleições de 2022 para mais quatro anos de gestão.
Mas com o novo governo, também chegam novos desafios a serem superados para melhorar a qualidade de vida e ambiente de negócios para os capixabas. Dessa forma, especialistas apontam os principais pontos de atenção em áreas prioritárias para o desenvolvimento do Espírito Santo como saúde, educação, infraestrutura, cultura e segurança pública. Confira a seguir:
Saúde
Na área da saúde, os pontos a avançar nos próximos quatro anos são a ampliação do atendimento e cobertura em saúde da família, melhorar o acesso a consultas com especialistas e a realização de cirurgias eletivas represadas para reduzir a fila de procedimentos como cirurgia de vesícula e de retirada de miomas no útero, por exemplo. A avaliação é do coordenador do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes, Edson Theodoro.
Outro desafio destacado por ele é ter mais profissionais de especialidades médicas, principalmente no interior do Estado, pois há dificuldade de fixação dos profissionais fora da Região Metropolitana. Ele lembra que, muitas vezes, há equipamento e infraestrutura, mas a rotatividade dos profissionais é grande, o que prejudica a assistência.
O coordenador da Ufes ressalta ainda sobre a importância do desenvolvimento do e-health, a saúde eletrônica ou telesaúde, que já é realidade. Ele lembra que existiam iniciativas antes da pandemia, mas esse cuidado inteligente da saúde deve ser fortalecido, pois aumenta o acesso e reduz filas, além de evitar o deslocamento nas estradas de pacientes do interior.
Nesse modelo, além do prontuário eletrônico, o paciente conta com profissionais de apoio e consultas on-line, então um profissional pode atender em uma cidade do interior e passar dados de radiografia e exames para outro profissional especializado que fica em outra região.
O professor destaca ainda que outro desafio do Espírito Santo e também do mundo é o envelhecimento populacional. “Nós temos um desafio superimportante no país. As pessoas estão envelhecendo doentes. Se compararmos um idoso de 80 anos no Brasil e outro no Japão, lá a maioria não toma remédio nenhum aos 80 anos. Aqui a maioria tem o que chamamos de multicomorbidade complexa, que causa doenças em vários sistemas diferentes do organismo, o que o deixa dependente do consumo excessivo de medicação e com baixa qualidade de vida”, afirma.
Educação
Na educação, o Espírito Santo tem vantagem e condições favoráveis para garantir avanços nos próximos anos, visto que vem de boas sequência de gestão na educação e conseguiu ter bons resultados. A avaliação é de Priscila Cruz, presidente-executiva do Instituto Todos pela Educação.
Para Priscila Cruz, o que o Espírito Santo precisa é avançar na política de apoio aos municípios, na expansão da educação em tempo integral e na alfabetização. Uma das potencialidades que podem ser exploradas na sua avaliação é a educação profissional voltada para as novas economias.
“Tem algo que acho que é pauta nova no Brasil, mas pelo Espírito Santo ter uma boa gestão, ele pode correr na frente e ser um exemplo. Com o novo ensino médio, é possível ofertar no currículo educação profissional para as economias digital, verde e criativa. São áreas que os jovens se interessam muito e a educação profissional moderna e antenada com as vocações e desejos dos jovens pode ser um grande exemplo para o Brasil”, destaca.
Priscila Cruz
Presidente-executiva do Instituto Todos Pela Educação
"Com o novo ensino médio, é possível ofertar no currículo educação profissional para as economias digital, verde e criativa. São áreas que os jovens se interessam muito"
Infraestrutura
Projetos de infraestrutura para conectar o Espírito Santo com vários pontos produtivos do país são importantes para o desenvolvimento. E nessa agenda, o desafio é tirar obras antigas do papel.
O consultor em Infraestrutura e Energia da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Luis Claudio Montenegro, destaca as principais áreas a serem priorizadas nos próximos quatro anos. Entre elas, está a área de portos, com o desafio de agilizar os serviços públicos necessários à efetivação dos projetos portuários do Porto Central, Imetame e Petrocity.
“O Espírito Santo tem hoje o melhor cenário natural para portos. O Porto da Imetame está em obras com potencial enorme de carga geral e industrial com possibilidade de escoamento de grãos e produtos do agronegócio. Aracruz tende a se tornar o principal complexo portuário do Brasil”, aponta.
Outros compromissos que devem ser assumidos pelo governo é garantir a efetivação de contratos que ampliem a competitividade da malha ferroviária do Espírito Santo, tanto em direção ao centro-oeste brasileiro, a partir da Ferrovia Centro Atlântica, quanto em direção ao Sul do Estado, com a extensão da Estrada de Ferro Vitória a Minas até Anchieta.
E ainda propor ações que viabilizem a efetivação dos novos projetos ferroviários no Estado, como por exemplo a Estrada de Ferro-118, que está em fase de planejamento e busca ligar Anchieta a Presidente Kennedy.
Já no campo das rodovias, diante do entrave nas obras de duplicação da BR 262 e a devolução do BR 101 pela Eco101, o desafio apontado será garantir a concessão da exploração da infraestrutura e melhorias da BR 262 e BR 381. E também garantir os investimentos necessários para a conclusão das obras de duplicação e ampliação do nível de serviço da BR 101, de forma a superar este gargalo logístico e reduzir os impactos sobre o setor produtivo.
Segurança pública
O Espírito Santo nos últimos anos acumulou melhorias nos índices de violência e redução de homicídios e tem aumentado o efetivo nas forças de segurança pública, mas ainda há desafios a serem alcançados na segurança pública.
Para a professora Adriana Ilha, do Programa de Pós-Graduação em Política Social e Saúde Coletiva (PPGPS) e coordenadora do Núcleo de Estudos de Violência e Segurança Pública (Nevi) da Ufes, o caminho para as melhorias na segurança passa pela educação, capacitação e oferecimento de oportunidades para as pessoas das regiões mais vulneráveis do Espírito Santo.
Segundo ela, é preciso mudar a facilidade do acesso às armas e hipermilitarização para combater a violência, além de investir em saúde, educação e política social das pessoas mais pobres. Para evitar que os jovens caminhem para a criminalidade.
“Precisamos formar uma polícia que entenda que direitos humanos não é defender bandido e, sim, a integridade do ser humano. A segurança pública é consequência da segurança de direitos. Quando se consegue dar condições das pessoas terem escola, lazer e professar sua fé sem medo da violência, diversidade e pluralidade, ocorre uma mudança de cultura a respeito do outro e as pessoas passam a ter mais expectativas e perspectivas para a vida”, aponta.
Segundo a pesquisadora, o caminho para a segurança de direitos que vai trazer a segurança pública passa por criar condições e oportunidades que satisfaçam as necessidades da população, principalmente a parcela mais pobre. “Todos têm anseios, mas muitos não têm condições nem oportunidades para alcançá-los.”
No caso da violência contra a mulher, um problema recorrente no Espírito Santo, Adriana fala que não adianta ter um botão do pânico para a mulher apertar e o Estado não ter efetivo preparado para ir até lá e socorrê-la. E quando funciona, o homem paga fiança e vai embora, lembra a professora. Ela reflete que a melhora no cenário passa por avaliar a formação que está sendo dada para os homens na sociedade.
Edson Theodoro
Coordenador do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes
"Temos um desafio superimportante no país. As pessoas estão envelhecendo doentes. Se compararmos um idoso de 80 anos no Brasil e outro no Japão, lá a maioria não toma remédio nenhum aos 80 anos. Aqui, a maioria tem multicomorbidade"
Cultura
Para o secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, o novo mandato de Casagrande deve priorizar a modernização dos espaços públicos culturais sobre administração do Estado, como os teatros Carlos Gomes e Carmélia. Quando se fala em futuro na cultura, ele também considera como fundamental finalizar o espaço Cais da Artes, que será um importante local do segmento no Estado. Borges também defende a manutenção da lei estadual de incentivo criada pelo governo do Estado que contribuiu para o desenvolvimento cultural.
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