Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU. Crédito: Divulgação/ Sesa

Especialistas apontam quais devem ser as prioridades do ES nos próximos anos

Especialistas elencam quais devem ser as ações prioritárias do governo estadual em cinco áreas estratégicas

Tempo de leitura: 6min
Vitória
Publicado em 19/12/2022 às 07h00

O ano de 2023 será marcado pelo início de um novo ciclo de governo no Espírito Santo. A missão de comandar o Estado será mais uma vez do atual governador Renato Casagrande (PSB), que foi reeleito nas eleições de 2022 para mais quatro anos de gestão.

Mas com o novo governo, também chegam novos desafios a serem superados para melhorar a qualidade de vida e ambiente de negócios para os capixabas. Dessa forma, especialistas apontam os principais pontos de atenção em áreas prioritárias para o desenvolvimento do Espírito Santo como saúde, educação, infraestrutura, cultura e segurança pública. Confira a seguir:

Saúde

Na área da saúde, os pontos a avançar nos próximos quatro anos são a ampliação do atendimento e cobertura em saúde da família, melhorar o acesso a consultas com especialistas e a realização de cirurgias eletivas represadas para reduzir a fila de procedimentos como cirurgia de vesícula e de retirada de miomas no útero, por exemplo. A avaliação é do coordenador do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes, Edson Theodoro.

Outro desafio destacado por ele é ter mais profissionais de especialidades médicas, principalmente no interior do Estado, pois há dificuldade de fixação dos profissionais fora da Região Metropolitana. Ele lembra que, muitas vezes, há equipamento e infraestrutura, mas a rotatividade dos profissionais é grande, o que prejudica a assistência.

O coordenador da Ufes ressalta ainda sobre a importância do desenvolvimento do e-health, a saúde eletrônica ou telesaúde, que já é realidade. Ele lembra que existiam iniciativas antes da pandemia, mas esse cuidado inteligente da saúde deve ser fortalecido, pois aumenta o acesso e reduz filas, além de evitar o deslocamento nas estradas de pacientes do interior.

Nesse modelo, além do prontuário eletrônico, o paciente conta com profissionais de apoio e consultas on-line, então um profissional pode atender em uma cidade do interior e passar dados de radiografia e exames para outro profissional especializado que fica em outra região.

O professor destaca ainda que outro desafio do Espírito Santo e também do mundo é o envelhecimento populacional. “Nós temos um desafio superimportante no país. As pessoas estão envelhecendo doentes. Se compararmos um idoso de 80 anos no Brasil e outro no Japão, lá a maioria não toma remédio nenhum aos 80 anos. Aqui a maioria tem o que chamamos de multicomorbidade complexa, que causa doenças em vários sistemas diferentes do organismo, o que o deixa dependente do consumo excessivo de medicação e com baixa qualidade de vida”, afirma.

Educação

Na educação, o Espírito Santo tem vantagem e condições favoráveis para garantir avanços nos próximos anos, visto que vem de boas sequência de gestão na educação e conseguiu ter bons resultados. A avaliação é de Priscila Cruz, presidente-executiva do Instituto Todos pela Educação.

Para Priscila Cruz, o que o Espírito Santo precisa é avançar na política de apoio aos municípios, na expansão da educação em tempo integral e na alfabetização. Uma das potencialidades que podem ser exploradas na sua avaliação é a educação profissional voltada para as novas economias.

“Tem algo que acho que é pauta nova no Brasil, mas pelo Espírito Santo ter uma boa gestão, ele pode correr na frente e ser um exemplo. Com o novo ensino médio, é possível ofertar no currículo educação profissional para as economias digital, verde e criativa. São áreas que os jovens se interessam muito e a educação profissional moderna e antenada com as vocações e desejos dos jovens pode ser um grande exemplo para o Brasil”, destaca.

Priscila Cruz

Presidente-executiva do Instituto Todos Pela Educação

"Com o novo ensino médio, é possível ofertar no currículo educação profissional para as economias digital, verde e criativa. São áreas que os jovens se interessam muito"
Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento Todos pela Educação
Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento Todos pela Educação. Crédito: Todos pela Educação/Divulgação

Infraestrutura

Projetos de infraestrutura para conectar o Espírito Santo com vários pontos produtivos do país são importantes para o desenvolvimento. E nessa agenda, o desafio é tirar obras antigas do papel.

O consultor em Infraestrutura e Energia da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Luis Claudio Montenegro, destaca as principais áreas a serem priorizadas nos próximos quatro anos. Entre elas, está a área de portos, com o desafio de agilizar os serviços públicos necessários à efetivação dos projetos portuários do Porto Central, Imetame e Petrocity.

“O Espírito Santo tem hoje o melhor cenário natural para portos. O Porto da Imetame está em obras com potencial enorme de carga geral e industrial com possibilidade de escoamento de grãos e produtos do agronegócio. Aracruz tende a se tornar o principal complexo portuário do Brasil”, aponta.

Outros compromissos que devem ser assumidos pelo governo é garantir a efetivação de contratos que ampliem a competitividade da malha ferroviária do Espírito Santo, tanto em direção ao centro-oeste brasileiro, a partir da Ferrovia Centro Atlântica, quanto em direção ao Sul do Estado, com a extensão da Estrada de Ferro Vitória a Minas até Anchieta.

E ainda propor ações que viabilizem a efetivação dos novos projetos ferroviários no Estado, como por exemplo a Estrada de Ferro-118, que está em fase de planejamento e busca ligar Anchieta a Presidente Kennedy.

Já no campo das rodovias, diante do entrave nas obras de duplicação da BR 262 e a devolução do BR 101 pela Eco101, o desafio apontado será garantir a concessão da exploração da infraestrutura e melhorias da BR 262 e BR 381. E também garantir os investimentos necessários para a conclusão das obras de duplicação e ampliação do nível de serviço da BR 101, de forma a superar este gargalo logístico e reduzir os impactos sobre o setor produtivo.

Segurança pública

O Espírito Santo nos últimos anos acumulou melhorias nos índices de violência e redução de homicídios e tem aumentado o efetivo nas forças de segurança pública, mas ainda há desafios a serem alcançados na segurança pública.

Para a professora Adriana Ilha, do Programa de Pós-Graduação em Política Social e Saúde Coletiva (PPGPS) e coordenadora do Núcleo de Estudos de Violência e Segurança Pública (Nevi) da Ufes, o caminho para as melhorias na segurança passa pela educação, capacitação e oferecimento de oportunidades para as pessoas das regiões mais vulneráveis do Espírito Santo.

Segundo ela, é preciso mudar a facilidade do acesso às armas e hipermilitarização para combater a violência, além de investir em saúde, educação e política social das pessoas mais pobres. Para evitar que os jovens caminhem para a criminalidade.

“Precisamos formar uma polícia que entenda que direitos humanos não é defender bandido e, sim, a integridade do ser humano. A segurança pública é consequência da segurança de direitos. Quando se consegue dar condições das pessoas terem escola, lazer e professar sua fé sem medo da violência, diversidade e pluralidade, ocorre uma mudança de cultura a respeito do outro e as pessoas passam a ter mais expectativas e perspectivas para a vida”, aponta.

Segundo a pesquisadora, o caminho para a segurança de direitos que vai trazer a segurança pública passa por criar condições e oportunidades que satisfaçam as necessidades da população, principalmente a parcela mais pobre. “Todos têm anseios, mas muitos não têm condições nem oportunidades para alcançá-los.”

No caso da violência contra a mulher, um problema recorrente no Espírito Santo, Adriana fala que não adianta ter um botão do pânico para a mulher apertar e o Estado não ter efetivo preparado para ir até lá e socorrê-la. E quando funciona, o homem paga fiança e vai embora, lembra a professora. Ela reflete que a melhora no cenário passa por avaliar a formação que está sendo dada para os homens na sociedade.

Edson Theodoro

Coordenador do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes

"Temos um desafio superimportante no país. As pessoas estão envelhecendo doentes. Se compararmos um idoso de 80 anos no Brasil e outro no Japão, lá a maioria não toma remédio nenhum aos 80 anos. Aqui, a maioria tem multicomorbidade"

Cultura

Para o secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, o novo mandato de Casagrande deve priorizar a modernização dos espaços públicos culturais sobre administração do Estado, como os teatros Carlos Gomes e Carmélia. Quando se fala em futuro na cultura, ele também conside­ra como fundamental finalizar o espaço Cais da Artes, que será um importante local do segmento no Estado. Borges também defende a manutenção da lei estadual de incentivo criada pelo governo do Estado que contribuiu para o desenvolvimento cultural.

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