Navio de minério tem velas rotativas, que geram energia limpa
Navio de minério tem velas rotativas, que geram energia limpa. Crédito: Divulgação

Tecnologia aquece motor das ideias sustentáveis no Espírito Santo

Grandes plantas industriais instaladas no Espírito Santo têm ido além da inovação, com o propósito de descobrir fontes de energia barata e renovável para operarem

Tempo de leitura: 5min
  • Simone Azevedo
Publicado em 12/12/2022 às 02h30

Energia que sopra da força dos ventos, navio mineraleiro equipado com velas rotativas, veículos elétricos que dispensam o uso do diesel, produto de minério menos poluente para fabricar aço, reutilização de gases e dessalinização da água do mar. O que parecia invenção de filmes de ficção científica, há pouco menos de 10 anos, hoje são realidades que se conectam a um futuro mais sustentável.

Esse novo rumo, construído com a união entre responsabilidade socioambiental e desenvolvimento econômico, tem no Espírito Santo um expoente importante do progresso.

Ciente de que a economia não sobrevive sem o enfrentamento da crise climática, a indústria tem investido em novos produtos e iniciativas inovadoras para minimizar danos ao ambiente durante os processos produtivos e promover a chamada “economia verde”.

O briquete verde da Vale, novo tipo de aglomerado de minério, traz para a indústria siderúrgica mundial a expectativa de reduzir em até 10% a emissão de gases de efeito estufa na produção do aço. O produto menos poluente demanda menos energia. Com isso, há menor gasto de combustíveis fósseis e de emissão de carbono.

A descarbonização da economia até 2050 é uma prioridade para diversos países, que representam mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) global, incluindo o Brasil. No Espírito Santo, a indústria firmou junto ao governo do Estado o compromisso de zerar a emissão líquida de gases de efeito estufa em três décadas. O desafio dessa agenda global à qual o Estado se conecta é construir uma economia menos poluente.

Mudas para florestas plantadas, que serão matéria-prima para produtos sustentáveis
Mudas para florestas plantadas, que serão matéria-prima para produtos sustentáveis. Crédito: Ricardo Teles

2050

É o ano que o Espírito Santo e empresas estabeleceram como meta, no pacto global, para zerar a emissão de carbono na atmosfera

A primeira unidade produtora do briquete verde da Vale começa a operar na Unidade de Tubarão, em Vitória, em 2023. Contudo, mais de 40 siderúrgicas de todo o mundo já estão em negociação com a mineradora brasileira para experimentar o produto, que tem representado a esperança global de uma indústria que traçou metas arrojadas para a descarbonização.

O material inclui em sua composição areia proveniente do tratamento de rejeitos de mineração e é capaz de resistir às temperaturas elevadas do alto-forno sem se desintegrar.

Em nota, a Vale destacou que a mineradora protege aproximadamente 1 milhão de hectares de floresta no mundo e assumiu o compromisso de recuperar e proteger 500 mil hectares até 2030. A conservação ambiental vem aliada com a meta de zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.

A Vale tem ainda duas locomotivas 100% elétricas. A primeira começou a operar em 2020, na Unidade de Tubarão, e a segunda encontra-se no Pará. “Elas fazem parte do programa PowerShift, criado pela empresa, que visa a substituir sua matriz energética por fontes limpas e renováveis. Além de cortar as emissões de gases de efeito estufa pela substituição de diesel por eletricidade, o equipamento também diminuirá ruídos”, informa a empresa.

É importante lembrar que o primeiro navio mineraleiro do mundo equipado com velas rotativas passou a integrar a frota da Vale e atracou no Porto de Tubarão pela primeira vez em 2021. Os equipamentos são rotores cilíndricos gigantes, que equivalem ao tamanho de um prédio de sete andares. Durante operação, giram em diferentes velocidades, para criar uma diferença de pressão de forma a mover o navio para a frente.

Parte do programa PowerShift, o navio tem cinco velas instaladas ao longo da embarcação que permitem ganho de eficiência de até 8% e uma consequente redução de até 3,4 mil toneladas de CO2 equivalente por embarcação ao ano. Caso a tecnologia se mostre eficiente, 40% da frota atual estaria apta a usar esse tipo de vela, o que impactaria em uma redução de quase 1,5% das emissões anuais do transporte marítimo da companhia.

A Suzano, maior produtora de celulose do mundo, informa que já representa carbono negativo, pois remove mais CO2 da atmosfera do que emite. A empresa, com a indústria de celulose em Aracruz e fábrica de papel em Cachoeiro de Itapemirim, tem como meta para 2025 a remoção líquida de 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera e a redução em 15% da água captada nas operações industriais até 2030.

“Por ser uma empresa de base florestal, a conservação ambiental está no core das nossas atividades. Um dos nossos compromissos para renovar a vida é disponibilizar, até 2030, 10 milhões de toneladas de produtos de origem renovável, que podem substituir o plástico e derivados do petróleo. São exemplos alguns tipos de papéis produzidos a partir das nossas árvores e que são utilizados em copos e canudos biodegradáveis. Há também a lignina, subproduto do nosso processo de produção, que pode substituir materiais plásticos e derivados do petróleo em diversos componentes. A diferença é que a lignina é obtida de plantios florestais 100% renováveis”, informa a empresa.

Com a meta ser carbono neutro até 2050, a ArcelorMittal Tubarão, entre a Serra e Vitória, construiu um estacionamento coberto com placas solares que captam e convertem a luz do sol em energia elétrica para a rede da empresa. Além disso, mantém um cinturão verde, com mais de 2,6 milhões de árvores, lagoas e mangues, onde habitam várias espécies de animais, como cobras, jacarés, gambás e macacos.

Já em operação na usina, a planta de dessalinização de água do mar para fins industriais tem capacidade inicial para dessalinizar 500 m³/hora de água, podendo garantir maior segurança hídrica para a empresa e para o Espírito Santo.

“O projeto poderá substituir parte do volume consumido do Rio Santa Maria da Vitória, permitindo maior disponibilidade do recurso para a sociedade e está alinhado à estratégia da empresa frente a futuros cenários de escassez hídrica”, afirma o CEO da ArcelorMittal Aços Planos América Latina, Jorge Oliveira.

Outra iniciativa sustentável de destaque da companhia é a reutilização dos gases siderúrgicos. A ArcelorMittal atua com sistemas de recuperação de calor e reaproveitamento dos gases provenientes dos processos produtivos. A unidade conta com uma geração interna de energia equivalente ao consumo de 1,3 milhão de pessoas no ano. Além disso, a usina tem centrais termelétricas e um centro de energia onde se faz controle da produção, consumo e distribuição de combustíveis. “Ao aproveitar as fontes de energia disponíveis, a ArcelorMittal permite maior estabilidade para os seus processos, redução de custo além de contribuir para menor pegada de carbono”, destaca Oliveira.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.