Repórter / vlodi@redegazeta.com.br
Publicado em 17 de abril de 2025 às 10:37
- Atualizado há 11 dias
A Polícia Federal (PF) deflagrou, na quarta-feira (16), a Operação Teatro Invisível 2 — com foco em combater uma rede de desinformação que atuava no Rio de Janeiro em períodos eleitorais. Segundo as investigações, os atores contratados para encenar diálogos em locais de grande circulação a fim de influenciar o eleitorado foram pagos com o dinheiro público de contratos de serviços inexistentes. Um dos alvos é o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL), que na semana passada enviou um grupo de pessoas em situação de rua para Linhares, no Norte do Espírito Santo. As informações são do portal g1RJ.
Os agentes da PF cumpriram 10 mandados de busca e apreensão, sem ordens de prisão. A investigação busca recuperar cerca de R$ 3,5 bilhões de prejuízo causado aos cofres públicos. A Justiça determinou o bloqueio nas contas dos investigados de valores que somam os R$ 3,5 bilhões e a suspensão das atividades econômicas de oito empresas, segundo apuração do g1RJ.
Houve também mandados de busca a dois candidatos a prefeito derrotados, nas cidades de São João do Meriti e Mangaratiba, e outro que disputou a eleição sob judice em Itaguaí, e foi impedido de tomar posse em 2024. Outro alvo, Didê (PSDB), presidente do Instituto Rio Metrópole, teve um relógio avaliado em R$ 39 mil apreendido.
A 2ª fase da Operação Teatro Invisível mira o financiamento das encenações. A PF descobriu que os atores eram pagos com o dinheiro de contratos genéricos firmados entre prefeituras com aquelas oito empresas. O grupo é suspeito de obstrução de justiça, caixa 2, fraude em procedimentos licitatórios e lavagem de dinheiro.
Conforme as investigações da instituição, o grupo criminoso destruiu provas que poderiam incriminar seus integrantes, que estavam armazenadas, principalmente, em meios digitais.
As apurações evidenciaram que o grupo utilizou recursos não declarados à Justiça Eleitoral, com objetivo de favorecer candidatos políticos. Além disso, alguns dos investigados são proprietários de empresas que fraudaram o caráter competitivo de procedimentos licitatórios em quatro municípios.
“Há novas provas contundentes de atos de lavagem de dinheiro praticados de maneira sistemática pela organização criminosa. O esquema incluía transações ilegais por meio de contas de passagem, uso de dinheiro em espécie, empresas com vasta atividade econômica e a aquisição de bens de alto valor”, descreveu.
Se condenados pelos crimes cometidos, os investigados se sujeitarão a penas máximas que, somadas, podem ultrapassar 27 anos de reclusão.
Em setembro do ano passado foram presas quatro pessoas. O grupo tem registro de atuação em pelo menos 13 cidades do estado.
Segundo a PF, os envolvidos criavam peças improvisadas de teatro político, com roteiros cuidadosamente pensados para parecerem espontâneos. Esses atores simulavam diálogos entre eleitores, brigas em comícios, denúncias falsas de corrupção e cenas de suposta violência ou vandalismo atribuídas a apoiadores de determinados políticos. Tudo era gravado com celulares ou câmeras disfarçadas e depois disseminado de forma coordenada nas redes sociais — muitas vezes com legendas e montagens que reforçavam a falsidade.
O Fantástico, da TV Globo, trouxe detalhes do esquema, com depoimentos de atores que participaram das encenações. Um deles relatou ter recebido R$ 250 por dia para “atuar como eleitor indignado” em feiras livres e terminais de transporte. Outros admitiram que os roteiros muitas vezes envolviam temas sensíveis, como segurança pública, corrupção e questões raciais, o que aumentava o potencial de viralização nas redes.
Em nota, a Prefeitura de Cabo Frio informou na quarta-feira (16) que não dispõe de informações concretas sobre a operação. “Assim que houver dados confirmados e que digam respeito à atuação do prefeito do município, todos os esclarecimentos serão prestados com a máxima transparência e responsabilidade”.
A reportagem de A Gazeta procurou a administração do município fluminense na manhã desta quinta-feira (17), mas ainda não obteve retorno. Quando a resposta chegar, o texto será atualizado.
Um grupo de 12 pessoas, moradores de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, foi deixado por um micro-ônibus no Centro de Linhares, no Norte do Espírito Santo, na tarde de terça-feira (8). Todos afirmam foram levados com falsas promessas de emprego no município.
Em nota, a Prefeitura de Cabo Frio admitiu o envio das pessoas para a cidade capixaba e alegou que todas assinaram um documento, de forma espontânea, em que a administração fluminense se responsabilizaria apenas pelo transporte das pessoas, sem intermediação de emprego ou moradia.
No entanto, o pedreiro Júlio César Freire, parte do grupo que veio para Linhares, relatou para a reportagem da TV Gazeta que todos foram praticamente exigidos a assinarem o documento. “Um representante da Casa de Passagem, da Prefeitura de Cabo Frio, falou que tinham ganhado dinheiro na colheita do café. Fizeram a gente assinar o documento. Nós não lemos. Eles disseram que se não assinássemos, iríamos ficar na rua".
Um ônibus foi enviado de Cabo Frio para Linhares e levou de volta para a cidade fluminense seis das 12 pessoas. No grupo, quatro delas prefeririam permanecer no Norte capixaba e duas delas retornaram para as famílias, em Minas Gerais e na Bahia.
O caso é acompanhado pelo Ministério Público do Espírito Santo e do Rio de Janeiro.
*Com informações do g1RJ
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