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É possível se preparar para as chuvas?

É possível se preparar para as chuvas?

Todo ano, as administrações públicas são pegas desprevenidas por chuvas fortes ou secas severas, e os problemas vêm à tona. Como manter planos de contingência para enfrentar esses ciclos da natureza?

Publicado em 16 de abril de 2018 às 18:57

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Um tema, duas visões: como se preparar para as chuvas?. (Arte)

CONSCIENTIZAÇÃO E INOVAÇÃO CONTRA TRAGÉDIAS

Ricardo Antônio Bassetti de Abreu, é engenheiro civil responsável pela Defesa Social Municipal de Cariacica

Apesar de haver tecnologia avançada aplicada ao estudo da meteorologia, os desastres naturais ainda são fenômenos com consequências imprevisíveis, muitas das vezes causando consequências, danos materiais e imateriais a muitas famílias. As variáveis geográficas, climáticas e sociais muitas vezes ditam quais os riscos de ocorrerem esses desastres. Quando uma cidade une características como terreno acidentado e crescimento desordenado a um grande volume de chuva, as probabilidades de sofrer com variações de clima são maiores, principalmente por conta da ocupação indevida de morros e encostas. Como trabalhar a segurança destas pessoas, principalmente em períodos chuvosos? Este é um desafio que a Defesa Civil enfrenta em vários lugares no Brasil.

Aplicada no Recife e, logo depois, em Cariacica, a Geomanta é um exemplo nesta área. Ela cobre as encostas com o objetivo de impermeabilizar o solo, evitando sobrecarga do terreno. A tecnologia é feita de um geocomposto à base de PVC, aplicável em qualquer tipo de formação geológica de encostas. Reconhecendo a eficiência da tecnologia e trabalhando com a necessidade de proteger uma grande área, a cidade capixaba adota esse método desde o ano de 2014, estabilizando 70% das encostas sem a necessidade de desapropriação.

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As variáveis geográficas, climáticas e sociais muitas vezes ditam quais os riscos de ocorrerem esses desastres. Este é um desafio que a Defesa Civil enfrenta em vários lugares no país

Ricardo Antônio Bassetti de Abreu, engenheiro civil
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Durante período de chuva no fim do ano passado, observamos que em cidades que receberam grande volume de água, mas investiram em tecnologia na prevenção, tiveram seus problemas amenizados. É o caso de Vila Velha e Cariacica, que receberam em apenas 48 horas uma média acumulada de precipitação de mais de 80 mm. No município canela-verde a implantação de bombas contribuiu para o rápido escoamento das águas, garantindo a vazão de seus canais e evitando alagamentos prolongados. Já em Cariacica, historicamente afetada com deslizamento de encostas, observou-se a estabilização das encostas protegidas pela geomanta. Isso comprova que o planejamento das gestões municipais e o investimento em prevenção, com a manutenção da limpeza de canais, da rede de drenagem e o investimento em novas tecnologias, é mais eficiente do que agir apenas nos períodos de crise.

Porém, é importante deixar um alerta! Mesmo com ações de prevenção e infraestrutura, a parceria entre a população e o poder público é essencial para evitar tragédias causadas pelos eventos naturais. Cuidados como não jogar lixo em locais indevidos, respeitar horário da coleta do lixo domiciliar, não ocupar e/ou construir em locais impróprios como encostas ou margens de rios são obrigação de todos. Para quem mora em áreas mais sensíveis, manter um diálogo com a Defesa Civil do seu município também é fundamental.

PLANEJAMENTO PARA MELHORAR AS CIDADES

Tito Carvalho, é arquiteto e urbanista e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES)

Hoje, com os riscos de alagamentos e deslizamentos de terras no Estado, nos perguntamos: como lidar com o desafio das chuvas em volume tão expressivo?

Além disso, estamos sempre nos perguntando sobre como lidar com o trânsito, a falta de infraestrutura, o grande volume de cidadãos sem moradia, a violência urbana, entre tantos outros problemas sociais.

Infelizmente, a prática de planejamentos fragmentados e de curto prazo nas cidades tem gerado situações críticas. Nossas legislações (federal, estaduais e municipais) obrigam aos gestores a produzir um enorme conjunto de planos setoriais sem garantir o essencial, que é a sua integração, desde o planejamento até a gestão.

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Infelizmente, a prática de planejamentos fragmentados e de curto prazo nas cidades tem gerado situações críticas. Cada novo ciclo de desafios, perguntamos: qual é a cidade que precisamos?

Tito Carvalho, arquiteto e urbanista
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Neste emaranhado de regras e obrigações, o essencial se perde, como é o caso da falta de planejamentos e ações eficazes que evitem transtornos urbanos como os constantes alagamentos e deslizamentos de terras nos períodos de chuvas fortes. Para evitar este e outros problemas, é necessário pensar na qualidade de vida das cidades e sua viabilidade no longo prazo.

Para isso, os governantes com a participação da sociedade civil organizada precisam refazer a forma de planejar e produzir cidades. A qualidade de vida depende da disponibilidade de água tratada para todos, assim como do tratamento de esgoto, da possibilidade de circular de forma rápida e agradável por toda cidade. Depende da geração de riquezas, mas também da manutenção do meio ambiente. Depende de compreender a história de cada local e viabilizar seu futuro. Isso é pensar a cidade, isso é pensar urbanismo. 

Essas questões não são apenas parte de uma realidade capixaba ou brasileira. O mundo já compreendeu que as estratégias que usamos nos últimos 50 anos para manter e ampliar a qualidade de vida nas cidades não foram suficientes. O urbanismo nos oferece muitas ferramentas para preparar nossas cidades, e todas vinculando a questão da água (meio ambiente) e qualidade de vida.

Uma ótima possibilidade é a construção de parques lineares nas áreas de maior risco de inundação já preparados para absorver o maior volume de águas em períodos de chuva.

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Outra questão importante é trazer maior permeabilidade às ruas. Pisos que permitam a circulação e, ao mesmo tempo, a possibilidade de absorção de águas pluviais. O grande volume de ocupações de área de encostas de morros nos obriga a uma vigilância permanente. Precisamos de programas habitacionais que tratem esses espaços gerando segurança e qualidade de vida urbana. Assim, cada novo ciclo de desafios, somos obrigados a nos questionar: qual é a cidade que precisamos?

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