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A mania dos homens de interromperem as mulheres na política e no dia a dia

A mania dos homens de interromperem as mulheres na política e no dia a dia

Nas sabatinas e debates dessas eleições, jornalistas mulheres têm sido interrompidas diversas vezes por candidatos homens; a prática tem nome: manterrupting

Publicado em 25 de setembro de 2022 às 18:20

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura
Júlia Afonso
Repórter / [email protected]

Quem já assistiu a um debate político sabe que, muitas vezes, os ânimos ficam à flor da pele. No entanto, nas últimas sabatinas que vêm acontecendo neste ano, é possível observar certa agressividade quando candidatos homens respondem especialmente a jornalistas mulheres. Além disso, internautas têm apontado, com frequência, quando os políticos interrompem as entrevistadoras antes mesmo delas terminarem a pergunta.

Foi o caso do presidente Jair Bolsonaro (PL) na entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, em agosto. Renata Vasconcellos questionou o candidato sobre o comportamento dele durante a pandemia da Covid-19, e perguntou se ele não se arrependia de ter imitado pacientes com falta de ar.

Antes mesmo dela concluir a pergunta, ele a interrompeu, mais de uma vez, inclusive elevando o tom de voz. O caso repercutiu nas redes sociais, trazendo o alerta para o manterrupting, expressão em inglês que junta os termos “man” e “interrupting”. Você sabe o que é isso? Confira no vídeo acima.

SITE FEZ LEVANTAMENTO DE QUANTAS VEZES RENATA FOI INTERROMPIDA

O portal Diário Catarinense chegou a fazer um levantamento de quantas vezes Renata Vasconcellos foi interrompida nas sabatinas, em comparação ao colega de bancada, William Bonner.

Segundo o site, a apresentadora do JN foi interrompida 17 vezes nas entrevistas dos três candidatos, mais do que o dobro das intervenções sofridas por Bonner.

Ainda de acordo com o Diário Catarinense, Bolsonaro interrompeu 12 vezes Renata durante perguntas ou apontamentos da apresentadora. Lula interrompeu Renata quatro vezes, enquanto Ciro a interrompeu uma vez.

Já o editor-chefe do JN teve as falas bloqueadas oito vezes — quatro por Bolsonaro, três por Lula e uma por Ciro.

OUTROS CASOS

Também no meio político, mulheres seguem sofrendo outros tipo de violências de gênero. Foi o caso da vereadora de Vitória Karla Coser (PT) e a vereadora da Serra Raphaela Moraes (Rede), hostilizadas por colegas do sexo masculino em plenário, em junho deste ano.

Na Câmara de Vitória, a petista virou alvo do vereador Luiz Emanuel (Cidadania) e do presidente da Casa, Davi Esmael (PSD), após manifestar-se a respeito do caso envolvendo uma criança de 11 anos vítima de estupro, em Santa Catarina, que ficou grávida e foi impedida pela juíza que atuou no processo de fazer o aborto previsto na legislação penal em casos de violência sexual.

As manifestações dos vereadores não ficaram concentradas na divergência de opinião com a colega. Eles questionaram a legitimidade da vereadora para falar sobre o assunto e utilizaram, para isso, termos como “você é uma menina mimada”, “você é uma mulher que se faz de coitada” , “você não tem noção”, “quem é você, vereadora? Você não é mãe”.

Na Câmara da Serra, a vereadora Raphaela foi chamada de "oportunista" e "hipócrita" pelo vereador Pablo Muribeca (Podemos) depois de relatar uma situação vivida em uma unidade de saúde do município, onde foi para se vacinar. "A vereadora usa de oportunismo para se promover e despromover uma profissional maravilhosa. Não vem contar mentira. Não vou aceitar injustiça e vou fazer uma nota de repúdio a Vossa Excelência. Você quer receber respeito, dá respeito. Agora quer chegar com arrogância e prepotência?", atacou Muribeca da tribuna da Casa.

Em seguida, o vereador Sergio Peixoto (Pros) subiu à tribuna da Câmara da Serra e gritou "se controla vereadora, pelo amor de Deus" e repetiu: "está descontrolada, vereadora”.

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