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Dezembrite: entenda a sensação de angústia no fim de ano

Dezembrite: entenda a sensação de angústia no fim de ano

Condição é marcada por sentimentos de tristeza, ansiedade e melancolia dias antes do Natal e do Ano Novo

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 18:00

Condição é marcada por sentimentos de tristeza, ansiedade e melancolia que costumam surgir nessa época
Condição é marcada por sentimentos de tristeza, ansiedade e melancolia que costumam surgir nessa época Crédito: Pexels

No mês de dezembro, enquanto muitos celebram o clima festivo das festas de fim de ano, outras pessoas enfrentam um período de introspecção e desânimo. Conhecida popularmente como “dezembrite”, essa condição é marcada por sentimentos de tristeza, ansiedade e melancolia que costumam surgir nessa época, quando as reflexões sobre o ano que termina e as pressões sociais por felicidade e realizações se tornam mais intensas.

Segundo Mariana Rambaldi, doutora em psicologia e coordenadora do curso de Psicologia do Unesc, esse fenômeno tem base em aspectos emocionais, sociais e até biológicos. “Dezembro é um mês de retrospectiva. Naturalmente, as pessoas tendem a avaliar o que conquistaram ou deixaram de conquistar ao longo do ano. Essa autoavaliação pode gerar frustração, arrependimento e sensação de tempo perdido”, pontua.

Além disso, a psicóloga diz que há uma pressão cultural intensa para que o período seja alegre, festivo e cheio de celebrações. “Quando alguém não se sente dessa forma, pode experimentar uma sensação de inadequação. Soma-se a isso o cansaço acumulado do ano, o estresse financeiro típico das festas e o aumento das lembranças de perdas de pessoas, relações ou oportunidades, o que contribui para a melancolia”, considera.

Mariana Rambaldi acredita que a tristeza tende a ser mais intensa em pessoas que estão vivendo lutos recentes e que sofrem com solidão, sobretudo aquelas afastadas da família ou com poucos vínculos afetivos. Esses sentimentos também podem ser mais aflorados em indivíduos que enfrentam dificuldades financeiras ou que possuem transtornos emocionais prévios, como depressão ou ansiedade.

“Pessoas muito autocríticas ou que têm alta exigência de desempenho pessoal e profissional também se enquadram nos grupos que costumam sentir o peso das comparações e das cobranças de ‘ter um fim de ano feliz’”, acrescenta.

A especialista ressalta que a “dezembrite” é uma manifestação de tristeza reativa e situacional, mas em algumas pessoas, especialmente as mais vulneráveis, ela pode agravar sintomas depressivos ou ansiosos preexistentes.

“O problema é quando a tristeza se torna persistente, há perda de interesse em atividades antes prazerosas, alterações de sono e apetite, fadiga constante e pensamentos negativos recorrentes. Nesses casos, é fundamental buscar ajuda profissional, pois pode estar se configurando um quadro de transtorno depressivo ou de ansiedade generalizada”, alerta.

De acordo com a especialista, algumas estratégias ajudam bastante a vencer esse momento. Entre elas:

  • Reduzir a autocrítica e não se comparar com os outros, já que cada pessoa tem seu próprio ritmo e trajetória
  • Rever expectativas, pois nem todo fim de ano precisa ser festivo
  • Permitir-se viver o período com mais simplicidade e autenticidade. 

“Criar novas tradições, inventando rituais próprios, como um jantar íntimo, uma viagem curta, ou um momento de autocuidado; cuidar da saúde mental praticando atividades físicas; ter momentos de descanso, mantendo uma rotina equilibrada e procurar apoio conversando com amigos, familiares ou um terapeuta ajudam a ressignificar o período e aliviar o peso emocional", diz Mariana Rambaldi.

Uso exacerbado das redes sociais é um dos fatores pode levar as pessoas a fazerem muitas comparações com a vida alheia.
Uso exacerbado das redes sociais é um dos fatores pode levar as pessoas a fazerem muitas comparações com a vida alheia. Crédito: Pexels

Influência das telas

Na visão da psicóloga, o uso exacerbado das redes sociais é um dos fatores pode levar as pessoas a fazerem muitas comparações com a vida alheia.

“As redes sociais, especialmente no fim do ano, tornam-se vitrines de ‘vidas perfeitas’ - viagens, conquistas, festas, corpos e relacionamentos. Isso cria uma comparação irreal e injusta, porque se compara o ‘bastidor’ da própria vida ao ‘palco’ do outro. Esse comportamento pode gerar sentimentos de inadequação, baixa autoestima e ansiedade social, além de alimentar um ciclo de insatisfação e busca constante por validação externa”, alerta.

Uma boa estratégia, de acordo com Mariana Rambaldi, é limitar o tempo de exposição, seguir perfis que tragam conteúdo positivo e inspirador (não apenas aspiracional), e lembrar-se de que as redes mostram recortes, não realidades completas.

A imposição de positividade a todo custo durante esse período pode gerar situações de desconforto. “A chamada ‘positividade tóxica’ é o ato de negar ou minimizar emoções legítimas, exigindo que tudo seja encarado com alegria. Isso gera culpa e repressão emocional, pois a pessoa sente que ‘não tem o direito’ de estar triste. É importante compreender que tristeza, cansaço e frustração fazem parte da experiência humana. Reconhecer e acolher essas emoções é o primeiro passo para atravessá-las de maneira saudável”, afirma a psicóloga.

Para atravessar esse período com maior tranquilidade, Mariana Rambaldi aconselha as pessoas a praticarem a autocompaixão. “Tratar-se com gentileza e paciência, sem cobranças exageradas. Estabeleça limites, afinal, dizer ‘não’ quando necessário evita sobrecarga emocional e social. Valorize pequenas alegrias e conquistas diárias, em vez de metas grandiosas. Manter vínculos afetivos reais, mesmo que com poucas pessoas. O suporte emocional é um dos maiores fatores de proteção. E desconectar-se um pouco das redes e reconecte-se consigo mesmo. O fim de ano não precisa ser um espetáculo de felicidade. Pode ser apenas um momento de pausa, reflexão e autocuidado. E isso já é mais do que suficiente”, conclui.

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