Publicado em 18 de abril de 2019 às 18:50
De repente, os carinhos diminuem. As risadas já não são mais as mesmas e o cotidiano parece não ter a mesma graça. A cumplicidade desaparece e até o sexo esfria. Os sintomas de que uma relação está em crise são mais comuns do que imaginamos, o problema é que poucos casais encaram o fato de frente. Preferem continuar fingindo que nada está acontecendo e empurrando o casamento com a barriga para não encarar o que muitas vezes é óbvio: o fim do amor.>
Ninguém entra em um relacionamento pensando em terminá-lo, mas às vezes o fim é inevitável e, apesar de dolorido, necessário para o início de uma nova fase, que pode ser mais feliz, como veremos nesta terça-feira, no auditório da Rede Gazeta. O fim do amor é o tema da primeira palestra da segunda edição do Encontros do Saber, uma parceria da Rede Gazeta com a Casa do Saber Rio, que tem a Revista.ag novamente como anfitriã. A psicanalista Sandra Flanzer e a juíza Andréa Pachá falarão sobre o término dos relacionamentos sob a ótica da Psicanálise e do Direito.>
Quando a frase Eu não te amo mais ecoa sem cessar na mente e no coração de um dos cônjuges, é um forte sinal. O casal que não se ama mutuamente vira irmão, companheiro e amiguinho para sair e jantar, sem pegada, sem olhares, explica a psicóloga e colunista da Revista.ag, Gina Strozzi. Para ela, a união sem o vínculo do amor faz sobrar dó, cobranças desmedidas e solidão. Quando se está junto, mas não se ama mais, cria-se um clima de: não quero saber, deixa pra lá, diz.>
Já Adriana Müller, psicóloga e comentarista da rádio CBN, ressalta que o relacionamento requer alguns acordos, claros e de conhecimento de ambos. Tais acordos podem ser revistos com o passar da vida conjugal, até porque cada etapa da vida a dois requer um determinado ajuste na forma como cada um vai agir e nas expectativas sobre as ações do outro. Saber entrar em acordo é uma das grandes virtudes de pessoas que mantêm relacionamentos duradouros, ressalta.>
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A decisão de separar-se é algo construído e, muitas vezes, vem cercada de brigas e desavenças que só desgastam ainda mais a relação. Além disso, esses conflitos do fim do casamento confirmam na mente e no coração de quem pede a separação que isso é o melhor a ser feito, acrescenta Adriana. Para ela, caso a decisão seja pela separação, o ideal é que o casal possa ser acompanhado por um terapeuta de família e por um advogado da área de família. O psicólogo vai ajudar o casal a manter o foco na história que construíram juntos, para que ela não seja completamente desprezada e desqualificada nesse momento de dor. Enquanto o advogado vai ajudar o casal a encontrar o ponto de equilíbrio jurídico para que a separação aconteça de forma a preservar essa história sem que haja uma polarização (muito comum nas separações) de vítima e vilão.>
Recomeço>
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A advogada Vania Carvalho, 46 anos, foi casada durante seis anos até que o amor acabou. Pedi a separação depois de cinco anos de relacionamento. Durante o processo para alcançar a separação houve um desgaste muito grande, mas persisti, levei um ano para convencer meu marido a separar amigavelmente. Depois que isso aconteceu, minha saúde física melhorou muito, mas ainda fiquei com o emocional abalado, aos poucos fui curando isso também, lembra.>
Para superar o fim do amor, ela conta que a primeira atitude foi se isolar de qualquer coisa que a referisse ao passado. Pedi para que os mais próximos não tocassem no assunto, guardei fotos, evitei lembranças, fiz um detox. Por fim, fiz terapia psicológica, com ênfase em buscar sempre os aspectos positivos de qualquer situação, para superar o trauma e poder viver outro relacionamento. Precisei me manter ativa e trabalhando para cuidar da minha filha pequena, da minha mãe doente e resolver problemas financeiros. Precisei reconstruir minha vida do zero, tudo isso tirou o foco do passado. Criei um distanciamento das dores que vivi no casamento. Comecei a rever amigos, sair e conhecer gente nova, conta ela, que teve outros relacionamentos, bons e duradouros, depois da separação, mas está sozinha. Aprendi a não manter uma relação que faz com que me sinta mal. Hoje estou sozinha e bem, mas gostaria de ter alguém, que me faça feliz de verdade.>
E os filhos?>
Na época da separação, a filha de Vania estava com três anos e não foi envolvida. Deixei ela crescer para contar o que houve, mais detalhadamente, mas ainda assim ela absorveu muito. Foi muito pesado.>
Gina Strozzi explica que o fim do relacionamento significa um luto para o casal e para as crianças, já que haverá a perda da rotina e dos papéis construídos dentro do contexto familiar. O final desejável de uma separação é que os pais não confundam o casal conjugal desfeito com o parental, que continua para sempre. Misturar os papéis implica vivenciar um divórcio de forma melancólica, insegura e instável. Por isso, é fundamental conversar com as crianças, independentemente da idade. Elas sentem necessidade de nomear, ou seja, encontrar um significado para o que estão vivendo. É um momento da perda essencial, do arrimo da vida delas. A casa com os país é o locus da segurança e do pertencimento.>
Quando o amor acaba apenas de um lado, também é comum ver os filhos serem usados por um dos cônjuges para punir o outro, o que é extremamente condenado pelas especialistas. Segundo elas, a criança precisa saber o que está acontecendo, mas nunca pode ser manipulada para ficar contra o pai ou a mãe. Afinal, o casamento pode ter acabado, mas pai e mãe é para o resto da vida.>
Amor próprio>
A gerente comercial Michelli Lobo, 38 anos, também superou o fim do amor. O meu casamento acabou depois de nove anos, mas foi bom enquanto durou. Não havia brigas, era tudo muito tranquilo. Mas com o passar dos anos percebemos que estávamos vivendo como irmãos dentro de casa. Nos dávamos muito bem, pois durante anos eu me privava de minhas vontades para satisfazê-lo, não gostava de deixá-lo insatisfeito. Preferia fazê-lo feliz a fazer as minhas vontades. Só que dessa forma eu me sentia infeliz.>
Mesmo assim, após o fim do casamento ela se sentiu perdida. Foi difícil encontrar um início, me tranquei dentro de casa por um bom tempo. Até que uma amiga, que não encontrava há tempos, me convidou para ir na praia numa tarde de domingo. Naquele dia eu consegui sentir a beleza daquele mar, foi quando eu respirei fundo e me senti viva novamente, relata ela, dizendo que aprendeu que o verdadeiro amor é o próprio.>
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