Publicado em 15 de outubro de 2018 às 16:43
Você compra uma moto. Mas não qualquer moto. Com ela, de brinde, vem um novo estilo de vida, um jeito novo de se vestir, de fazer novos amigos e de se divertir. Por isso, pode-se dizer que quem tem uma Harley-Davidson não anda só. É natural. Você começa a mudar o guarda-roupa e a frequentar outros locais, conquista novas amizades... Junto com a moto ganhei amigos. A galera que anda de HD é fantástica, somos uma família, diz o gerente de negócios Hugo Prudêncio, 37 anos, que pegou carona nessa onda há um ano. E ele garante: é um caminho sem volta.
Mais que uma grife em duas rodas, essa marca de motocicletas famosa no mundo inteiro proporciona um life style cheio de aventura. Mas sem o pé no acelerador. Não que uma HD não tenha um motor potente. Há modelos que atingem 200km/h na estrada. Mas para os harleyros, a velocidade máxima é o que menos importa. Não vendemos adrenalina. Somos contra isso porque existe risco. A proposta é outra, mais ligada à liberdade, a uma coisa mais leve e prazerosa, comenta Diego Lobato, proprietário da Vitória Harley-Davidson. Não abrimos mão da segurança, completa ele. Muito do mito em torno da HD vem do cinema norte-americano, de astros como James Dean, Elvis Presley e do exterminador Arnold Schwarzenegger. Só que desfrutar desse prazer motorizado é para poucos. Esse sonho de consumo está ao alcance de quem pode pagar um valor mínimo de R$ 42,9 mil, preço da moto mais barata à venda aqui na Capital.
Quando abriu as portas da loja, no final de 2015, Diego só ouviu uma coisa: Todo mundo falava que eu era louco. Estávamos no auge da crise. Veio essa percepção negativa a partir daí. Quase três anos depois, a história é outra. Saíram dali os primeiros 850 harleyros capixabas. Vendemos uma média de 35 motos por mês. Somos a quarta maior loja em volume de vendas do Brasil. Em participação em mercado, é a primeira do país desde a inauguração, orgulha-se o empresário.
Quando ele apostou na marca, sabia que ela vinha com um conceito diferente. Sempre focamos em transmitir a imagem de uma marca família e fazemos ações com o objetivo de nos aproximarmos do público em geral. E a estratégia tem dado certo: De 20 e 30% das motos vendidas são para clientes que nem têm habilitação em motos, o que não é comum, observa Diego.
Essa família não se resume aos harleyros do Estado. Quem compra uma HD passa automaticamente a ser membro do Harley Owners Group (Grupo de Proprietários de Harley), ou HOG. Trata-se do maior motoclube que existe no mundo, com mais de 1 milhão de pessoas sendo 15 mil no Brasil.
Além de entrar para essa família, o novo harleyro passa a ser incluído de imediato numa programação intensa, marcada por cafés da manhã aos sábados, dois ou três passeios em grupo por mês por todo o Estado, shows de rock e por aí vai. Nossos eventos são muito focados na família mesmo, tem ações para as mulheres, para as crianças. O objetivo é estimular o relacionamento com a comunidade, afirma Diego Lobato.
Tatuagem e tema de aniversário do filho
De paixão antiga virou um sonho real. O desejo de ter um HD sempre existiu, mas para mim sempre foi um sonho distante. Como a loja fica no meu caminho para o trabalho, era inevitável passar em frente todos os dias. Em uma dessas passadas, observei um anúncio na vitrine de uma moto em promoção e pensei: É, acho que não é tão impossível assim. Entrei e fiz um test-ride. Àquele dia foi incrível, me senti com superpoderes, contou o gerente de negócios Hugo Prudêncio, 37 anos.
A primeira foi uma Forty Eigth. Dali para a segunda foi um pulo. E agora ele comanda uma Street Bob. Um ano pilotando por aí já deixou algumas marcas na vida do Hugo. Ou melhor, na pele dele. Tenho duas tatuagens em homenagem à Harley, revelou. Quando sai com sua HD, Hugo liga a chave antiestresse. É o momento da minha terapia, onde muitas vezes me vejo conversando com Deus e comigo mesmo.
Essa mania contagiou todo mundo na casa dele, como a mulher, Andressa, 38 anos, e até o pequeno Pedro, de 5, que já se rendeu à sensação de liberdade dos rides, como os harleyros chamam os passeios. Minha esposa começou de carona. Depois acabou comprando uma Harley também pra me acompanhar nos passeios. A experiência se tornou tão presente na minha família que o aniversário do meu filho teve tema de HD, finalizou Hugo.
Moto virou cupido
Julio é mecânico de aviões. Faz manutenção de cinco, seis aeronaves por dia e adora a profissão. Mas é apaixonado mesmo por outra máquina: a motocicleta. E esse vínculo afetivo com a moto tem ainda uma explicação. Foi graças a uma Harley-Davidson que ele conseguiu salvar o casamento. Estávamos casados havia oito anos. Mas nos últimos anos a relação foi se desgastando. Eu até tinha uma moto, mas era desconfortável para ela. Então, quando eu saía, ia sempre sozinho. Em 2016, tivemos uma briga boba e nos divorciamos, contou Júlio César Constante, curitibano de 39 anos que mora no Estado desde 2008 e é casado com a psicóloga Suzana Pereira Fontes, 45 anos. Na época da separação, o casal vendeu a casa e cada qual tomou seu rumo. Julio já sabia como iria usar o dinheiro da parte dele. Sempre quis ter uma Harley. Pensei: vou usar esse dinheiro para isso, para tirar uma coisa boa disso tudo, dessa ruína. Fui com um amigo à loja e comprei minha moto.
Meses depois, empolgado com o novo hobby, resolveu convidar a ex para uma volta. A gente meio que começou a conversar e a sair para jantar. Agora eu estava com outra moto, e o conforto foi fundamental. Fizemos alguns passeios juntos e resolvemos reatar nosso casamento, disse Julio.
Faz mais de um ano que estão juntos novamente, e a moto com certeza foi o grande cupido nessa história. Andamos quase todo final de semana. Fazemos passeios com amigos e sozinhos também. A moto ajudou a criar esse elo. Então ela contribuiu significativamente para nosso retorno. E, assim como aconteceu com a mulher de Hugo, Suzana, que só andava na garupa, tomou gosto e passou a pilotar a própria moto.
"Ladies" que amam pilotar
Quem pensa que esse life style sobre rodas só seduz os homens, está enganado. Tem uma mulher que adora pilotar. Para elas, o mundo do motociclismo só não é cor de rosa porque o figurino ali é outro: roupa preta de couro, bota, luvas e capacete... E lá vão elas pela estrada, cheias de charme e espírito de aventura.
Um universo que conquistou a professora de Educação Física Fernanda Vieira, 41 anos. Logo ela que passava longe das motos. Eu era uma mulher que detestava moto. Mas meu marido sempre foi apaixonado. Ele comprou uma Harley para ele e queria que eu fosse na garupa. Só que eu tinha medo, comenta Fernanda. Um dia ela se rendeu e foi passear com ele. Com toda aquela segurança e conforto, fiquei apaixonada também. E aí meu marido me desafiou: disse que se eu tirasse uma carteira de moto, ele me daria HD de presente. Fiz a autoescola, aprendi a pilotar e hoje tenho a minha moto. Descobri que o medo que tinha era de ficar atrás. Pilotar não me dá medo, comenta ela, que resolveu juntar amigas que também não gostam só de garupa.
Elas são as Ladies of Harley, grupo que já conta com 100 membros aqui no Estado. Vamos a restaurantes, pizzarias ou tomar um sorvete. Cada uma com sua moto, conta Fernanda, que se apaixonou tanto pela moto a ponto de casar sobre ela. Neste dia, Fernanda trocou a roupa de couro pelo vestido branco, o véu e a grinalda. Fiz meu casamento dentro da loja da Harley. Eu e meu marido chegamos de moto. Foi incrível, lembra ela, casada com o advogado George Viana, 41 anos.
E pilotando juntos, eles vão longe. É uma paixão em comum que a gente descobriu e isso é bom demais. Fazemos muita coisa de moto. No carnaval, fizemos a famosa Rota 66, nos Estados Unidos. Também participamos da festa de 115 anos da marca, em Milwaukee, onde saímos no desfile com outros 25 mil motociclistas, lembra ela. São muitas histórias para contar, de diversão e amizade. Há tanta vida por trás dessa marca! Se for a fundo no estilo de vida, você descobre tanta coisa para conhecer, tanta gente bacana. Os harleyros são pessoas de bem com a vida, alegres e que gostam de curtir a liberdade, diz Fernanda.
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