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Espontânea (mente): confira a crônica de Maria Sanz Martins

Espontânea (mente): confira a crônica de Maria Sanz Martins

"Mas, de quantas formas não bloqueamos nossa própria natureza? De quantas maneiras não adiamos o que podemos ser?"

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 18:44

"Simplesmente não haverá o momento ideal em que estaremos prontos" Crédito: Unsplash

Seja como for, seja como és. Porque o resultado de todo gesto espontâneo carrega o brilho da coragem simples, aquela que persegue o que poderia ser, sem garantias. E encanta na medida em que manifesta o que ainda não existia (mas já passou da hora de ser). Como a arte legítima, um amor verdadeiro, ou um filho recém parido. A força da natureza que nos permeia quer nos levar adiante e nos fazer descobrir o que ela mesma deseja sem (exatamente) saber.

Mas, de quantas formas não bloqueamos nossa própria natureza? De quantas maneiras não adiamos o que podemos ser? De quantos modos não condenamos nossa intuição a viver no calabouço escuro da insegurança? Quantas desculpas não inventamos para nós mesmos?

Estamos sempre esperando pelo momento certo para começar alguma coisa: uma conversa, um negócio, um desenho, um projeto, musculação, aquarela, ioga – diga você. Como se houvesse a hora certa, o jeito certo, as pessoas certas e os materiais perfeitos – claro, tudo combinado e sincronizado com nossa agenda. Mas isso não existe, sabemos disso.

Simplesmente não haverá o momento ideal em que estaremos prontos, preparados e confiantes o bastante. Portanto, a decisão de começar (agora) do jeito que for, com os materiais disponíveis e com medo mesmo – é a única alternativa.

É preciso dar o primeiro passo – ainda que seja atrapalhado, desafinado, sem jeito. (Depois o segundo, e o terceiro, quarto, quinto, persistindo até que a estrada comece a fazer sentido). Acredite, o primeiro passo é o grande segredo – e o cultivo da espontaneidade serve especialmente para isso. Pense comigo, no mundo ideal tudo será possível “um dia”. Ainda assim, “tudo” vai depender do primeiro tropeço – passo, digo.

Assim sendo, melhor começar agora mesmo, porque o primeiro passo sempre vai encarar um senhor desafio: ser precedido/interceptado por um porteiro malvado, apesar de natural e necessário. Esse porteiro se chama "medo". Aquela voz convincente que vem de dentro e entoa os riscos e as ameaças do caminhos, com projeções em cores vivas sobre as perdas e danos possíveis.

Mas perceba, apesar de assustar e desencorajar, ele está apenas cumprindo seu papel de "agente para sobrevivência" – ele é um chato mesmo. Ao invés de tentar banir esse sujeito – o que é impossível, porque este software vem embutido no sistema – precisamos aprender a fazer as pazes com ele...

Olhar nosso medo de frente é uma forma gentil de desmascarar o monstro. Porque quando acendemos a luz do lado de dentro e aceitamos conversar com nossas angústias e acolher nossas feridas, pouco a pouco, vamos entendendo que elas não são tão feias, nem tão grandes quanto pintamos que sejam. Ao contrário, são normais. Fazem parte da gente – e tudo bem.

Concluindo que é aquela velha história: vai com medo mesmo!

No fim das contas o que interessa não é aquilo que você gostaria de fazer, mas aquilo que você pode fazer. Não é aquilo que você teria feito se... Mas o que você fez. Não é o perfeito, é o possível. Não é um desenho do caminho, é o primeiro passo propriamente dito.

Deixe-se ir (além).

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