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40 anos após primeiro 'bebê de proveta', cada vez mais vidas 'in vitro'

40 anos após primeiro 'bebê de proveta', cada vez mais vidas 'in vitro'

Oito milhões de pessoas já nasceram de fertilização artificial desde a primeira, a inglesa Louise Brown

Publicado em 25 de julho de 2018 às 11:59

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Fertilização in vitro . (Reprodução/TV Globo)

O dia 25 de julho de 1978, há exatos 40 anos, foi marcado por uma revolução na medicina: o nascimento do primeiro “bebê de proveta” do mundo, Louise Brown, numa cidadezinha do interior da Inglaterra. De lá para cá, uma revolução ainda maior ganhou espaço, com grandes avanços diários. Estima-se que, desde que a menininha inglesa veio ao mundo, mais de oito milhões de pessoas tenham nascido por meio de fertilização in vitro (FIV), anunciou este mês a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.

Em países como a Dinamarca, por exemplo, 9% da população atual são fruto da técnica. Nesses 40 anos, as mudanças no método foram tantas que traçar um paralelo entre o que é feito hoje com o que foi experimentado há quatro décadas é “como comparar uma bicicleta com um automóvel”, diz o especialista Marcio Coslovsky, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida.

Enquanto a mãe de Louise, Leslie, precisou ter a barriga aberta em uma cirurgia com anestesia geral para que os médicos pudessem coletar seus óvulos, hoje uma mulher que tenta a fertilização in vitro faz tudo sem qualquer corte, por ultrassom transvaginal. Desde o acompanhamento da estimulação dos óvulos até a coleta propriamente dita.

GESTAÇÕES TARDIAS

A mulher que procurar a técnica em 2018 vai encontrar, ainda, outros procedimentos — que não existiam em 1978 — para aumentar as chances de ter um bebê. Há a biopsia embrionária, que diz quais embriões gerarão bebês saudáveis, e há o congelamento de óvulos, que possibilita gestações em idades mais avançadas.

Foi graças ao congelamento que a niteroiense Vera Lúcia Farina pôde, aos 52 anos de idade, ter seus primeiros filhos. Para gerar os gêmeos Isabella e Guilherme, que têm agora um mês de vida, ela usou dois óvulos que havia congelado há 12 anos.

— Foi muita emoção quando confirmei a gravidez. Meu médico havia implantado dois óvulos, e eu lembro que achei pouco. Perguntei “só, doutor?”. Achei que precisaria de mais para ter alguma chance. Mas os dois fertilizaram — conta ela. — Eu achava que ia me deparar com muito preconceito, por conta da minha idade, mas a maioria das pessoas reagiu melhor do que eu esperava.

Um caso como o de Vera era inconcebível há quatro décadas. A mãe do primeiro “bebê de proveta” tinha apenas 29 anos, idade dentro da faixa considerada ideal pelos médicos para produção de óvulos saudáveis. Para os especialistas, embora seja um passo fundamental tornar possíveis gestações de mulheres mais velhas, é importante também que a população feminina passe a procurar tratamentos de fertilidade mais cedo — ou que congelem os óvulos, para ainda serem capazes de engravidar no futuro.

A taxa média de sucesso da FIV hoje é de 36%. Mas esse índice, lembra o médico Marcio Coslovsky, seria muito maior caso as pacientes procurassem o método mais jovens.

— Só 14% das mulheres que me procuram para fazer o tratamento têm até 35 anos. As que têm de 35 a 39 anos formam 40% das minhas pacientes, e as que estão na faixa dos 40 aos 44 são 42,9% do total. Ou seja, a esmagadora maioria das pessoas procura ajuda muito tarde — diz ele, que dirige clínica Primordia. — Isso diminui a possibilidade de sucesso.

Há duas razões para essa diminuição. A primeira é que a chance de produzir óvulos considerados bons para fertilização cai drasticamente após os 35 anos. E a segunda é que, quanto mais velha, mais risco a mulher tem de sofrer complicações obstétricas durante uma gravidez, como pré-eclâmpsia, prematuridade e diabetes gestacional. Ela também tem cada vez mais probabilidade de aborto espontâneo: a taxa é de apenas 12% para quem tem até 35 anos de idade, e passa para 90% quando se chega aos 45.

— Se a mulher espera muito tempo depois dos 35, o risco de se frustrar é maior — explica o especialista Marcello Valle, médico que fez o tratamento de Vera Lúcia. — A única forma de a mulher se proteger do tempo é congelando óvulos, como a Vera fez. Com isso, os óvulos usados eram 12 anos mais jovens do que ela. Ainda assim, por já ter passado dos 50, ela precisou fazer muitos exames, para nos assegurarmos de que sua saúde estava suficientemente boa.

Desde 2015 não é mais preciso que o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorize tratamentos de fertilidade em mulheres com mais de 50 anos. Basta que o médico avalie a saúde da paciente e conclua que ela tem chance de levar uma gravidez até o fim.

No Brasil, foram feitas cerca de 40 mil fertilizações in vitro somente em 2017. O custo médio de cada ciclo, atualmente, é de R$ 6 mil a R$ 8 mil.

Quando Louise Brown nasceu, choveram críticas aos médicos, de ordem religiosa e ética. Quarenta anos depois, com a prática popularizada, Valle afirma que tal reprovação se dissipou.

— O papel da fertilização in vitro para a sociedade moderna, hoje, é tão grande que a crítica se encolheu. O futuro é muito mais a reprodução assistida do que a natural — diz ele, que é diretor da clínica Origen, no Rio. — Em qualquer país ocidental, o número de bebês nascidos vivos de mulheres de mais de 35 anos vem crescendo muito nos últimos 35 anos. É um fenômeno social.

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Estima-se que sejam feitos por ano, no mundo, 2 milhões de ciclos de fertilização in vitro.

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