Publicado em 7 de março de 2018 às 17:05
De férias dias atrás, a funkeira Anitta decidiu se desligar do celular. Tranquei no cofre do hotel e fui viver, escreveu ela em sua rede social. O relato, com a instantaneidade típica da Internet, teve quase 430 mil curtidas e outros tantos mil comentários.
Não faltaram críticas, claro, de alguns dos seus 26,9 milhões de seguidores, que não aceitaram ficar sem contato com a ídola por poucos dias. De volta ao Brasil, Anitta se viu obrigada (olha que situação) a se justificar: Vi algumas pessoas comentando que é fácil se desconectar no Hawaii. Ô, minha gente, que triste para quem não conseguiu captar a real mensagem que quis deixar aqui. Se desconectar era a mensagem de fato, não importa onde e sim como, respondeu ela em outra postagem.
Não são só os famosos que têm necessidade de, às vezes, de, como Anitta fez, se desconectar um pouco. Qualquer pessoa que se vê meio dependente de tablets e smartphones pode já ter pensado em ficar off-line.
O que Anitta fez foi muito exemplar. Não deve ter sido fácil, mas ela conseguiu algo que muita gente não está conseguindo. Estamos cada vez mais dependentes dos smartphones, numa sociedade que cobra essa presença constante nas redes sociais e não nos permite estar distantes delas, que nos exige da comunicação imediata, que nos torna reféns disso, observa a psicóloga Adriana Müller.
Escolha
Um exercício importante e que todos deveriam tentar vez ou outra, segundo ela. Não precisa ser numa ilha paradisíaca. Pode ser aqui, agora. Todos temos direito de escolha, de regular nosso tempo, de determinar quando ficaremos conectados e quando ficaremos desconectados. Porque o que parece é que, cada vez mais, temos menos direito de escolha com relação a isso, comenta.
A própria tecnologia está a serviço de quem quer reduzir o tempo com ela, como destaca Gilberto Sudré, especialista na área, comentarista da Rádio CBN Vitória e colunista de A GAZETA, com ferramentas para ajudar a pessoa a limitar o uso de certas funções no computador e no celular.
Ele próprio tem seus truques: Retirei as notificações dos aplicativos e silenciei grupos de WhatsApp menos importantes. É para evitar distração, ganhar mais controle sobre esse uso e só acessar certas funções quando tiver tempo, revela Sudré.
Dicas
O vício em tecnologia tem um nome: nomofobia. É uma fobia relacionada ao desconforto que muitas pessoas sentem quando ficam longe do computador ou do celular
Sinais
- Você checa suas redes sociais a cada hora? Dorme com o celular do lado da cama e já se pegou fuçando a internet de madrugada?
- Já sentiu mau humor, irritação e ansiedade durante o tempo em que ficou sem o aparelho ou sem sinal de internet?
- Já perdeu a noção do tempo ao ficar conectado, mesmo tendo outras coisas para fazer?
- Já ouviu alguém se queixar que você passa muito tempo no celular?
Estatísticas
Um estudo da Flurry, empresa de análise de dados do Yahoo!, revela que existem mais de 280 milhões de pessoas viciadas em smartphones no mundo.
Outro estudo, do ISPA, um instituto de psicologia português, revelou que 1/4 dos jovens passa mais de seis horas na internet.
Segundo uma pesquisa de 2017 da Google, 73% dos brasileiros que possuem smartphones não saem de casa sem eles
Apps que podem te ajudar
Moment
Monitora o tempo de uso e quantas vezes o smartphone foi desbloqueado. É possível definir um limite
Focus Lock
Bloqueia aplicativos durante um determinado período e impede cesso a esses apps até que o tempo acabe
Menthal
Desenvolvido por pesquisadores alemães, o programa é capaz de medir o tempo gasto com o telefone e com cada função dele. O resultado dá um placar sobre o seu vício em smartphones
Análise
Adriana Müller, psicóloga
Ao invés de ficarmos online o tempo todo, precisamos aprender a ficar mais on-life, ou seja, saber quando devemos estar conectados e quando precisamos ficar desconectados. Não precisa ser numa ilha paradisíaca. Pode ser aqui, agora. Todos temos direito de regular nosso tempo. Porque o que parece é que, cada vez mais, temos menos direito de escolha com relação a isso.
Tem um trocadilho interessante que diz que esses dispositivos e as redes sociais são como "armas de distração em massa", são feitos para chamar nossa atenção o tempo todo. O objetivo é criar sistemas que nos mantenham atentos ou conectados. Por isso eles vibram, tocam, piscam, anunciam o tempo todo. Isso cria um contexto em que a gente vai se acostumando a olhar o tempo todo.
Estamos cada vez mais dependentes dos smartphones, das redes sociais. E isso não é bom. Nossa vida tem que acontecer na interação social, real, concreta. Todo mundo deveria fazer um teste para saber qual seu nível de dependência.
Tente deixar celular em casa por um dia. Não precisa ser dia de trabalho, pode ser um dia de folga. Veja se consegue passar 24 horas sem acessar, olhar, trocar mensagens... Isso já serve para medir o grau dessa dependência. Conseguiu? Ok, então você ainda tem autonomia sobre o celular. Não conseguiu? Como se sentiu? Ansioso, angustiado, cobrado, apavorado? Então, é um problema e você pode estar precisando de uma ajuda profissional. Ouça o que as pessoas que estão por perto dizem, se já se queixaram que você passa muito tempo no celular. Pode ser um sinal.
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