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A Festa da Penha aos olhos dos fotógrafos

A Festa da Penha aos olhos dos fotógrafos

Eles registram imagens do maior evento religioso do Estado há mais de 20 anos e escolheram uma foto para celebrar a Virgem da Penha e a volta de dias em que possamos demonstrar nossa fé em meio à multidão

Publicado em 17 de abril de 2020 às 11:01

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Oficiais da Marinha levando a Imagem de Nossa Senhora da Penha, na missa de encerramento do Oitavário da Penha - Festa da Penha - Editoria: Cidades - Foto: Carlos Alberto Silva - GZ
Oficiais da Marinha levando a Imagem de Nossa Senhora da Penha, na missa de encerramento do Oitavário da Penha - Festa da Penha - Editoria: Cidades - Foto: Carlos Alberto Silva - GZ. (Carlos Alberto Silva)

Um mar de gente para celebrar a santa padroeira

A imagem de Nossa Senhora da Penha descendo do palco nos ombros dos marinheiros no final da missa, no Parque da Prainha, registra o encerramento da Festa da Penha do ano de 2017. Nesse momento, num misto de alegria, emoção e muita fé, um coral formado predominantemente por milhares de mulheres canta o hino em homenagem a Nossa Senhora da Penha: “Virgem da Penha, minha alegria, Senhora nossa, Ave Maria!”...

Há 20 anos eu faço a cobertura fotográfica para o jornal A Gazeta da Festa da Penha, o maior evento religioso do Espírito Santo. Vi esse ritual se repetir com sol ou chuva, dia ou noite.

Durante a semana do Oitavário eu costumo produzir imagens das missas, da Romaria dos Homens ou das Mulheres e da missa de encerramento da festa. São dias onde passo rodeado de gente repleta de fé e esperança por dias cheios de graça e paz. E assim, num tom que mistura agradecimento e pedidos de novas graças, todos cantam para Nossa Senhora da Penha: “És meu refúgio, seguro guia, nas tentações, Ave Maria!”

Como nos anos anteriores, estive no Convento da Penha para fazer uma foto no horário da missa do Oitavário. Mas, diferentemente dos anos anteriores, a tradicional missa no campinho estava vazia por causa do distanciamento social provocado pelo coronavírus. Esse ano não tinha o coral de milhares de vozes cantando para Nossa Senhora. Os devotos estavam assistindo a missa pela internet. Não tinha o que, nós, fotojornalistas mais gostamos: gente.

Nem pessoas idosas, nem novas. Não tinha mãos erguidas para o céu, não havia a lágrima de alegria pela graça alcançada ou por aquela que ainda não veio. Não. Não tinha! Mas onde quer que esteja minha gente, tenho a certeza que estão cantando para Nossa Senhora da Penha nesses dias sombrios para tantas famílias: “A dor que oprime tu alivias; dá-me saúde, Ave Maria! Nossas famílias protege e guia; és meu amparo, Ave Maria!”. E a esse humilde jornalista, também devoto de Nossa Senhora da Penha, no campinho sem gente pra poder fotografar, restou baixar a cabeça e também cantar para Nossa Senhora: “Deste teu trono tu irradias, paz e esperança, Ave Maria! Contigo espero estar um dia, na eternidade, Ave Maria!”

Carlos Alberto Silva, Um mar de gente para celebrar a santa padroeira

Menino com imagem de Nossa Senhora da Penha nas mãos mostra que fé não tem idade
Menino com imagem de Nossa Senhora da Penha nas mãos mostra que fé não tem idade. (Vitor Jubini)

Fé não tem idade

Acostumado a associar a manifestação de fé a pessoas mais velhas, fiquei surpreso ao ver um garoto de tão pouca idade com a imagem de Nossa Senhora da Penha nas mãos. Não só isso, ele entoava os cânticos e sua expressão exibia sua profunda devoção à padroeira do Espírito Santo.

Vitor Jubini, editor de fotografia de A GAZETA 

Romaria dos Homens 2011 passando com andor de Nossa Senhora da Penha em frente ao Palácio Anchieta
Romaria dos Homens 2011 passando com andor de Nossa Senhora da Penha em frente ao Palácio Anchieta. (Edson Chagas)

Várias fotografias costuradas em uma

Fotografar a Romaria dos Homens sempre foi um prazer e um desafio. É uma manifestação de enorme significado para a religião católica e a multidão que conduz e acompanha a viagem do andor de Nossa Senhora da Penha, da Catedral de Vitória até o Convento da Penha, transforma o trabalho do fotógrafo num exercício de suor. A procissão tem uma dinâmica previsível, com trajeto sabido, mas a força “rio de gente”, com cada indivíduo focado na sua fé, obriga o fotógrafo a navegar buscando seus ângulos e enquadramentos que melhor retratem aquele acontecimento importante da cultura capixaba.

Essa imagem que exponho aqui é uma panorâmica, fruto de montagem de várias fotografias costuradas, uma na outra, que, juntas, traz a ideia de cinema congelado. A abordagem, que usa lente olho de peixe, faz com que algumas linhas fiquem arredondadas e os primeiros planos fiquem muito próximos na composição ótica. Esse panorama de 2011 junta momentos da passagem do andor em frente ao Palácio Anchieta, trajeto antigo que foi mudado há poucos anos. Nele podemos ver o andor em seis momentos diferentes, e notar o traçado feito pela Romaria que compunha um belo visual com a arquitetura do Palácio.

Se no momento é importante nos isolarmos das relações sociais para nos proteger da disseminação de um vírus, também é de grande valor relembrar esses acontecimentos da sagração da união de pessoas, que saem de suas casas para estarem juntas, muito próximas, e com o objetivo comum de elevar a fé na santa padroeira. Para o capixaba, a Romaria dos Homens é a maior consagração da união social e, com a fé em Nossa Senhora da Penha, breve estaremos lá fotografando a multidão conduzindo o andor.

Edson Chagas, fotógrafo

Integrante da banda de congo durante seu momento de oração
Integrante da banda de congo durante seu momento de oração. (Fernando Madeira)

Cultura e fé se encontram

Após apresentação, integrante de banda de congo ajoelha-se com terço na mão para rezar em seu momento de intimidade. A luz dourada destaca o chapéu, característico do grupo musical, e o convento ao fundo.

Fernando Madeira, fotógrafo de A GAZETA

Imagem de Nossa Senhora da Penha durante Romaria dos Homens
Imagem de Nossa Senhora da Penha durante Romaria dos Homens. (Zanete Dadalto)

Composição e luz ideais para registrar uma devoção

Fotografo a Festa da Penha há mais de 20 anos, desde quando cumpria pauta como repórter fotográfica em redação. Na virada do milênio, por questões familiares, acabara de ser mãe, troquei as redações por um convite para lecionar Fotografia no curso de Comunicação da FAESA. Desde então, compartilho a experiência da reportagem fotográfica da Festa da Penha junto aos alunos em quase todos os eventos dessa emocionante demonstração de fé mariana. No início era só uma atividade da disciplina de Fotojornalismo, mas, em 2007, virou o Projeto Procissão Fotográfica, idealizado e coordenado por mim, no qual os nove dias do evento são documentados pelos olhares atentos e sensíveis de alunos do curso de Jornalismo e Publicidade.

Digo isso para tentar dar dimensão do acervo fotográfico que tenho e da dificuldade de selecionar apenas uma foto. Optei por uma imagem que realizei, de cima da mureta da escadaria Bárbara Lindenberg, em frente ao Palácio Anchieta no Centro de Vitória, durante a Romaria dos Homens. Ela é especial porque pré-visualizei e busquei a foto, ela existia na minha cabeça: a imagem de Nossa Senhora seguida pelos devotos com suas velas acesas em romaria. Mesmo me posicionando no mesmo lugar há vários anos, só no ano de 2011, consegui esta composição e esta luz. Hoje não é mais possível realizar uma imagem semelhante, porque a romaria não faz mais esse trajeto. Restou a imagem fotográfica.

Além do valor afetivo, informativo e estético, a foto da Romaria dos Homens de 2011, representa para mim a devoção, a fé do povo capixaba e, por isso, também a escolhi, em 2017, para ser a imagem que ficou exposta numa gruta na sala de exposição do Convento na exposição Fé no ES, em comemoração aos 10 anos da Procissão Fotográfica, realizada na Sala de Exposições de Convento da Penha. Para se adequar às dimensões da parede, a foto recebeu um corte. Aqui vocês podem ver a foto no seu enquadramento, na sua composição original.

Zanete Dadalto, fotógrafa e professora de fotografia da Faesa

Imagem de Nossa Senhora da Penha durante missa na Festa da Penha na Prainha de Vila Velha - Gabriel Lordello/ Mosaico Imagem
Imagem de Nossa Senhora da Penha durante missa na Festa da Penha na Prainha de Vila Velha - Gabriel Lordello/ Mosaico Imagem. (Gabriel Lordêllo/ Mosaico Imagem)

Fotos que são a memória de uma época

A Festa da Penha é uma representação da fé do povo capixaba. Há 450 anos, milhares de fiéis celebram, prometem e agradecem à Nossa Senhora da Penha. Nossa padroeira está nas igrejas, nas festas religiosas, na cultura e no folclore do Espírito Santo. Sempre que passo por um momento de dificuldade ou por uma conquista eu agradeço a ela pelas bênçãos e proteção. Todos os anos fotografo a Festa da Penha para que estas imagens se tornem memória de uma época. Para mostrar a fé e a devoção do nosso povo à Nossa Senhora da Penha.

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Gabriel Lordêllo, fotógrafo

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