'Janela', novo espetáculo do Grupo de Teatro Rerigtiba estreia dia 15 de julho.
"Janela", novo espetáculo do Grupo de Teatro Rerigtiba estreia dia 15 de julho. Crédito: Sheila Bressan/Divulgação

Grupo Rerigtiba estreia espetáculo de máscaras em Anchieta

Peça "Janelas" é dirigida por Tiche Vianna, responsável pela preparação dos atores das minisséries “Hoje é Dia de Maria”, “A Pedra do Reino” e “Capitu”, da Rede Globo. Neste artigo, ela escreve sobre o trabalho com o grupo de Anchieta

Tempo de leitura: 4min
Publicado em 09/07/2022 às 02h00
  • Tiche Vianna

    É diretora teatral, especialista na linguagem de máscaras pelo Alice Atelie e pela Universitá Degli Studi Di Bologna, na Itália. Fundou em parceria com o ator Esio Magalhães o Barracão Teatro. Foi responsável pela preparação dos atores das minisséries “Hoje é Dia de Maria”, (primeira e segunda jornadas), “A Pedra do Reino” e “Capitu”, exibidas pela Rede Globo, entre 2005 e 2008

Um belo dia recebi um convite do Grupo de Teatro Rerigtiba: "Você gostaria de dirigir a criação e montagem de um espetáculo de máscaras inteiras expressivas, que tem como ponto de partida o tema 'Janelas', com nosso grupo, aqui em Anchieta, no Espírito Santo?" Aqui estamos nós, estreando a conclusão dessa conversa.

O processo artístico, que nunca é descolado da vida, foi repleto de afeto desde o início: do acolhimento no aeroporto, até a utilização da sala de criação e ensaios. Fora do espaço de trabalho, as pessoas de Anchieta: a simpatia, a delicadeza, o cuidado e a insistente e deliciosa mania de se relacionar com quem chega. Ah!! Eu que sou bicho de cidade grande e horizonte escondido atrás de arranha-céu me senti tão acarinhada, que desenhei na minha cartografia pessoal o mapa do Espírito Santo como rota obrigatória daqui por diante.

Tudo isso mais o encontro com um coletivo composto por uma produtora e artistas potentes e dedicadas ao Rerigtiba, com seus 30 anos de ações artísticas continuadas, me fizeram entrar em trabalho para compartilhar conhecimentos numa equipe de primeira linha.

Cada qual trouxe suas ferramentas e o desejo de ir além. Fabio Cuelli e Alê Borim, com a confecção e preparação corporal para a utilização de máscaras; Antonio Apolinário, com a sua criativa e provocadora direção de arte na composição do cenário e figurinos; André Stefson, com um projeto de luz que nos ambienta espaços e atmosferas, e Dori Sant'Ana, com sua escuta e proposição musical, entrou pra compor a dramaturgia sonora em diálogo com o roteiro de ações.

Trouxe comigo a experiência de muito anos, na pesquisa e criação de espetáculos com máscaras da cena urbana brasileira, mas trouxe também o desafio de me descolar de um lugar conhecido para lidar com essas máscaras inteiras, bem diferentes das que me são tão familiares.

Começamos virtualmente e o tema partiu de uma notícia sobre janelas que intermediaram a relação entre a arte e o público, quando em plena pandemia as pessoas estavam isoladas. Perguntamo-nos o que víamos através das janelas que tínhamos à disposição. Os relatos chegavam de muitas maneiras: fiéis ou inventados, eram sempre leais à realidade observada.

Essa observação tinha por objetivo recortar características que compusessem estímulos para a criação e confecção de nossas máscaras, pois são elas, as máscaras, quem nos propõe a dramaturgia. Assim chegamos a três mulheres: Risoleta, Conceição e Anabel e seguimos improvisando possíveis relações entre elas, até que nos vimos diante de três irmãs que moram juntas e nos convidam a testemunhar um dia de sua convivência.

Esse tipo de máscara, inteira e expressiva, não usa a palavra. Comunica-se através de movimentos, gestos, ações e reações dos corpos preparados com uma energia incomum, para alcançar a energia que uma máscara exige dos corpos que a utilizam sobre seus rostos. São humanizadas, por isso nos dão a impressão de que são pessoas como as que encontramos nas ruas, mas são máscaras e, por isso, precisam obedecer aos códigos da linguagem para percebermos que estão vivas e são sensíveis ao que lhes acontece, quase como se falassem. Simples assim e tão encantador.

Toda máscara tem um certo poder de encantamento e essas, mesmo com seus aspectos humanizados, representam forças que constituem a diversidade do caráter humano e aproximam suas expressões de nossos sentimentos. Por isso, não é a história o que desejamos saber quando estamos diante delas, mas o que acontece a cada uma quando se relaciona com alguém ou alguma coisa.

É com muita paixão e responsabilidade que o Rerigtiba mais uma vez aproxima artes e artistas de distintas regiões do Brasil para conhecer, estudar, pesquisar e criar algo que o desafie, o desterritorialize e o provoque a superar o que já foi realizado, afirmando sua infinita busca pelo aprimoramento técnico e artístico e seu imenso respeito pelo teatro.

SOBRE O GRUPO DE TEATRO RERIGTIBA

Fundado em julho de 1993,  é um dos mais longevos e atuantes grupos de teatro do Espírito Santo.

Com sede na cidade de Anchieta, o grupo é um coletivo de artistas profissionais que se dedica à pesquisa da linguagem teatral nas suas diversas formas de expressão estética; consolidou seu caminho, nessas três décadas de aprendizado nos processos da carpintaria teatral, através de intercâmbio e criação colaborativa. Práticas que foram incorporadas ao processo de produção, criação e encenação do grupo.

ESTREIA DO ESPETÁCULO "JANELAS"

Dias 15, 16 e 17 de julho, às 19h, no Espaço Cultural Rerigtiba (Av. Oliveira, 334, Justiça II), em Anchieta. Entradas gratuitas (devido à capacidade reduzida de assentos, é necessário ligar para confirmar presença). Contato: (28) 98811-8468

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