Dança urbana e hip hop promovidos pela União de Dançarines do Espírito Santo (UDES)
Dança urbana e hip hop promovidos pela União de Dançarines do Espírito Santo (UDES). Crédito: Acervo UDES

Danças urbanas no ES: transformação social, cidadania e construção identitária

Essa trajetória teve início a partir de 2008, quando a dançarina, educadora física e pesquisadora Yuriê Perazzini juntou-se à visual merchandiser Zênia Cáo para formar a União de Dançarines do Espírito Santo (UDES)

Tempo de leitura: 5min
Publicado em 28/06/2025 às 09h00
  • Meryciane Silva

    É produtora cultural e ativista social nas causas de Gênero e Igualdade Racial.

Ainda uma jovem senhora, a dança urbana, que se popularizou juntamente com o hip hop no Brasil, nos anos 1980, traz a necessidade de escrever sua própria história. O “Acervo Digital Encontros de Danças Urbanas”, que será disponibilizado ao público no dia 28 de junho, em evento no Museu de Arte do Espirito Santo (Maes), em Vitória, vem eternizar um pouco dessa história, da educação e do conhecimento sobre o hip hop, as danças urbanas capixabas e as danças afros.

Essa trajetória teve início a partir de 2008, quando a dançarina, educadora física e pesquisadora Yuriê Perazzini juntou-se à visual merchandiser Zênia Cáo para formar a União de Dançarines do Espírito Santo (UDES), com o objetivo de fomentar as linguagens de street dance na Grande Vitória. Desde a sua fundação, cerca de 40 pessoas passaram pela equipe da UDES, que mantém as suas atividades atualmente no espaço cultural Casa Urbana (CASU), no bairro Maruípe, em Vitória.

A Lei 11.771/2023 declarou o hip hop como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo, a partir do reconhecimento de que o hip hop e as danças urbanas possuem inúmeras funções de grande relevância para a sociedade. Identifica-se que tais manifestações contribuem para a participação social, cidadania e construção identitária, além de servir como importante veículo de transformação para a educação em espaços formais e não formais, assim como as danças afros, que não são apenas movimentos corporais, configurando-se como manifestações carregadas de história, religiosidade, ancestralidade e identidade cultural.

O acervo digital disponibilizado no site www.acervoencontrosdedancasurbanas.com vem registrar e preservar a memória dos Encontros de Danças Urbanas do Espírito Santo, realizados pela UDES desde 2009. Esses eventos nasceram com a intenção de proporcionar espaços de formação, lazer, liberdade e união da diversidade, a partir de diferentes modalidades de dança e música.

Danças urbanas e hip hop do acervo da  União de Dançarines do Espírito Santo (UDES)
Danças urbanas e hip hop do acervo da União de Dançarines do Espírito Santo (UDES). Crédito: Acervo Udes

O acervo digital é proposto por Yuriê Perazzini, uma mulher negra com reconhecimento em territórios periféricos e que vive a dança intensamente, como arte e profissão, com olhar profissional e paixão. O projeto reúne mais de 100 fotos e cerca de 20 vídeos, com curadoria de Yuriê Perazzini, em parceria com a produtora cultural Erica Vilhena e a artista visual e comunicadora Nunah Alle Son. Entre os temas abordados no acervo destacam-se coletividades, territórios, identidade visual, diversidades, linguagens e moda.

O acervo digital amplia o campo de pesquisa cultural de relevância com o objetivo de registrar, preservar a história e a memória das danças urbanas no Espírito Santo. Reúne temas atravessadores da história do movimento, considerando que se trata de manifestações culturais com raízes em comunidades e grupos sociais específicos e que podem ser facilmente perdidas com o tempo.

É um projeto que contribui para garantir a continuidade cultural e unir o passado e o presente, permitindo-nos conhecer a nossa cultura capixaba e manter as nossas características, ampliando o acesso às informações e tornando-as públicas.

Importante ressaltar o incentivo da política pública de editais para a execução desse projeto, que foi selecionado pelo Edital 06/2023 – Projetos de Preservação e Valorização do Patrimônio Cultural do Espírito Santo, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES). Iniciativas como o “Acervo Digital Encontros de Danças Urbanas” partem da percepção de que a cultura e a arte representam ferramentas de transformação social, com capacidade de salvar vidas, e essenciais para preservar e manter a história.

MAES: UM MUSEU COM MUITOS TONS

  • Nicolas Soares

    É artista, curador e diretor do MAES

Temos feito um exercício para que o Maes possa estar cada vez mais integrado com os debates e práticas do campo da cultura como um todo, reposicionando-se como um espaço não apenas de elaboração das artes visuais, mas também de experimentação e diálogo de forma ampliada com outras manifestações artísticas.

Lançando foco em suas ações recentes, destacam-se iniciativas de aproximação com outras linguagens, como a música, a dança, a cultura popular e a poesia urbana, numa perspectiva que entende as artes visuais não como disciplina isolada, mas como um campo composto pelas interseções.

Esse movimento tem sido organizado em projetos como o Maes Toms, desde 2022, que aponta para uma compreensão expandida entre arte e cultura, permitindo que o museu dialogue com diferentes expressões artísticas, e também com seus distintos públicos. Muitas vezes esses públicos não tiveram a oportunidade de acesso a um museu, ou mesmo não sentem autonomia para frequentar determinados espaços institucionais das artes.

Integrar na programação manifestações periféricas, como o hip hop – a exemplo da terceira edição do Maes Tons (2024) com participação e curadoria dos CRJs (Centro de Referência das Juventudes) –, e de propostas comprometidas com narrativas contra-hegemônicas, desloca o eixo tradicionalizado do museu como lugar de distância e hermético para um lugar de convivência e produção crítica.

O gesto relacional entre as manifestações artísticas em um espaço que a priori parece cerrado em um lugar estático quer propor deslocamento e dinâmica, demonstrando um reposicionamento ético e estético do Maes. É a arte como geradora de acesso, como possibilidade de afetar e ser afetada por outras realidades, outras corporalidades e outras sonoridades, impactando diretamente nos artistas e no público que frequentam o museu.

Uma nova edição do Maes Tons, agora em 2025, terá colaboração de projetos como o Acervo UDES (União de Dançarines do Espírito Santo), de Yuriê Perazzini. Mais uma vez, a iniciativa reforça a postura de interlocução e reorganização discursiva a partir do encontro. Ao reconhecer a relevância de agentes culturais independentes e de práticas coletivas artísticas provenientes das ruas, por exemplo, o Maes tensiona limites impostos pelo senso comum do papel de museu e amplia a experiência imersiva de seus espaços expositivos.

Assim, o museu reafirma seu caráter de espaço público e politicamente situado na heterogeneidade dos debates contemporâneos, na formação de novos públicos e de sentidos.

SERVIÇO

  • Site: www.acervoencontrosdedancasurbanas.com
  • Data: 28 de junho (sábado)
  • Local: Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (MAES) - Av. Jerônimo Monteiro, 631, Centro, Vitória - ES, 29.010-001
  • 15h - Abertura do auditório com a DJ Thaís Apolinário, exposição e projeções
  • 16h - Lançamento do site, falas institucionais, apresentação do projeto, roda de conversa com gravação de depoimentos e projeção do site
  • 17h - Serviço de buffet
  • 17h - Apresentação musical “Pretaô”, com Ada Koffi e JaySant’
  • 17h40 – Finalização do show e agradecimentos
  • 18h - Fechamento do auditório
  • Instagram: @encontrodedancasurbanas

Entrada gratuita

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