Publicado em 12 de agosto de 2024 às 09:38
A participação brasileira em Paris-2024 acabou deixando um misto de sensações em relação ao desempenho do país nas principais modalidades, e com a hegemonia inédita das mulheres nos pódios na primeira edição com paridade de gênero.>
A ginástica artística e o judô foram, disparados, os principais destaques positivos, com quatro medalhas cada -com os ouros de Rebeca Andrade e Bia Souza.>
Com Ana Patrícia e Duda recolocando o país no lugar mais alto do pódio após duas décadas nas areias, o país também teve, pela primeira vez, as mulheres como as responsáveis por todos os ouros. Das 20 medalhas em Paris-2024, 12 foram em modalidades femininas e uma mista (judô).>
A natação e o boxe, por outro lado, com apenas uma medalha na França, registraram as piores marcas desde Seoul-1988 e Pequim-2008, acendendo um sinal de alerta para Los Angeles-2028.>
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Maior protagonista do Brasil na França, a ginasta guarulhense liderou o quadro de medalhas do país ao levar sozinha o ouro no solo e a prata no individual geral e no salto, em uma das grandes rivalidades dos Jogos com Simone Biles.>
Ao lado de Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, ainda ajudou na conquista do inédito bronze por equipes. As medalhas levaram Rebeca ao posto de maior medalhista do Brasil em Olimpíadas.>
Foi a melhor campanha considerando tanto o número de medalhas, superando a Rio-2016 (3), quanto a posição no pódio, acima de Tóquio-2020 (um ouro e uma prata).>
"Consideramos a participação brasileira em Paris-2024 bastante positiva. Nossos atletas demonstraram grande dedicação e espírito esportivo", diz Henrique Motta, diretor esportivo da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica).>
Quem também regressa ao país maior do que havia saído é a judoca Bia Souza. Em sua estreia nos Jogos, liderou o judô brasileiro com o ouro na categoria +78 kg e as vitórias em três das quatro lutas na disputa por equipes que rendeu o bronze inédito.>
Com a prata de Willian Lima (-66 kg), e o bronze de Larissa Pimenta (-52 kg), o Brasil superou a melhor campanha até então, de Londres-2012 --um ouro de Sarah Menezes e três bronzes de Felipe Kitadai, Mayra Aguiar e Rafael Silva.>
O judô lidera o quadro de medalhas do Brasil em Olimpíadas, com 28, seguido pelo vôlei, com 26, e o atletismo, com 21.>
"O resultado foi espetacular. Além das medalhas, tivemos duas disputas de bronze com a Rafaela Silva e o Rafael Macedo", diz Flávio Canto, bronze em Atenas-2004 (-81 kg) e fundador do Instituto Reação.>
Canto lembra que os Rafaeis perderam o bronze por punições dos árbitros, em uma Olimpíada marcada pelo excesso de intervenções.>
"A questão das regras da arbitragem me deixou bastante impressionado. Fico até um pouco triste de saber que o judô que aprendi não tem sido praticado", afirma.>
Nas areias da arena com a Dama de Ferro ao fundo, a dupla líder do ranking Ana Patrícia e Duda confirmou o favoritismo em uma campanha com 100% de aproveitamento --sete vitórias em sete jogos-, e apenas dois sets perdidos, colocando o Brasil novamente no pódio após a ausência em Tóquio-2020 pela primeira vez desde Atlanta-1996.>
Ana Patrícia e Duda foram campeãs olímpicas no vôlei de praia sobre a dupla do Canadá nos Jogos de Paris
O último ouro do Brasil nas areias entre as mulheres havia sido justamente em 1996, com Sandra Pires e Jaqueline Silva. No masculino, Ricardo e Emanuel venceram em Atenas-2004.>
Com a presença em apenas quatro finais, a natação brasileira fez sua pior campanha desde Seul-1988, quando o país alcançou somente uma final, com Rogério Romero (oitavo nos 200 m costas).>
Em Tóquio-2020, foram seis finais e dois bronzes, com Bruno Fratus nos 50 m livre e Fernando Scheffer nos 200 m livre. Em Paris-2024, o melhor resultado foi com Guilherme Costa, o Cachorrão, 5º nos 400 m livre.>
As outras três finais foram no feminino, com Mafê Costa nos 400 m livre e Beatriz Dizotti nos 1.500 m livre, além do revezamento 4x200m. Em todas, o Brasil terminou em 7º.>
"Claro que gostaríamos de mais, mas acho que o que a gente tinha a possibilidade de fazer era mais ou menos isso", diz Ricardo Prado, prata em Los Angeles-1984 nos 400m medley e diretor de esportes da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).>
Para Los Angeles-2028, Prado afirma que gostaria de ver uma renovação da equipe, em especial na masculina. "Atletas de 30 anos continuam vencendo e ocupam o espaço que precisa ser dos mais novos.">
Com o bronze solitário da campeã mundial Bia Ferreira (-60 kg), o boxe teve a pior campanha desde Pequim-2008, quando voltou sem pódios. Desde então, foram três bronzes em Londres-2012, um ouro na Rio-2016 e um ouro, uma prata e um bronze em Tóquio-2020.>
"A campanha não foi boa. Não é que eu estou reclamando de ganhar uma medalha de bronze, não é isso. O boxe veio com uma expectativa maior do que um bronze, essa é a questão. Então a gente classificou como uma campanha ruim", afirmou Mateus Alves, técnico da equipe de boxe do Brasil.>
Nas ondas perigosas e tubulares de Teahupo´o, embora o ouro não tenha vindo, Tatiana Weston-Webb conquistou um resultado histórico para o surfe feminino, enquanto Gabriel Medina comemorou o bronze após a eliminação em uma bateria sem ondas.>
"Passamos de uma medalha em Tóquio para duas em Paris, o que é muito bom para o esporte como um todo, com um crescimento exponencial das pessoas que passaram a acompanhar o surfe", diz Paulo Moura, vice-presidente da CBSurf (Confederação Brasileira de Surf).>
Medina teve "um resultado gigante, porque ele chegou até onde o oceano deixou ele ir", afirma Moura, que defende a adoção de uma piscina de ondas artificiais para Los Angeles.>
Nas pistas da Arena La Concorde, os bronzes de Rayssa Leal no street e de Augusto Akio, o Japinha, no park, colocaram o skate, recém-incluído nos Jogos, já como uma das modalidades mais vitoriosas do Brasil.>
"Foi uma participação não tão boa quanto em Tóquio, mas se analisarmos o ciclo todo e as dificuldades enfrentadas, considero os skatistas brasileiros heróis", afirma Duda Musa, presidente da CBSk (Confederação Brasileira de Skateboarding).>
Ele cita o início tardio do ciclo de competições para Paris-2024 e a disputa com a CBHP (Confederação Brasileira de Hóquei e Patins) pela gestão do skate brasileiro na França. "Por mais que a gente tentasse blindar os skatistas, é inevitável o impacto.">
Se o Japão foi o principal algoz do Brasil no início dos Jogos em Paris, na reta final do evento foi a seleção dos EUA quem mais atrapalhou a briga brasileira pelo pódio.>
No vôlei de quadra, as derrotas foram tanto no masculino quanto no feminino, nas quartas e semifinais, respectivamente.>
A seleção feminina venceu os quatro jogos e não perdeu nenhum set até a revanche da final de Tóquio-2020 contra as norte-americanas, em uma campanha liderada pela capitã Gabi Guimarães e a central Thaisa.>
Já a masculina teve derrotas na fase de grupos para Itália e Polônia e uma única vitória na competição contra a seleção egípcia. Foi o pior resultado do vôlei de quadra desde Sydney-2000, quando o Brasil também voltou com apenas um bronze.>
Já a feminina de futebol foi derrotada pelos EUA em uma final olímpica pela terceira vez, repetindo Atenas-2004 e Pequim-2008.>
Apesar da derrota, conquistou vitórias importantes --e inesperadas-- contra a anfitriã França (1 x 0) e a campeã mundial Espanha (4 x 2).>
A competição marcou a despedida de Marta em Olimpíadas após seis participações e 13 gols.>
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