Publicado em 3 de novembro de 2025 às 18:12
O único sobrevivente da queda do avião da Air India — que matou 241 pessoas a bordo — disse que se sente o "homem mais sortudo" do mundo, mas que também está sofrendo física e mentalmente.>
Viswashkumar Ramesh sobreviveu aos destroços do voo com destino a Londres, que caiu em Ahmedabad, em uma cena extraordinária que impressionou o mundo.>
Ele afirmou que foi um "milagre" ter escapado, mas contou que perdeu tudo: seu irmão mais novo, Ajay, estava sentado a poucas fileiras de distância e morreu no acidente, ocorrido em junho.>
Desde que voltou para casa, em Leicester, Ramesh tem enfrentado transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), segundo seus assessores, e não tem conseguido conversar com a esposa e o filho de quatro anos.>
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O Boeing 787 foi tomado pelas chamas logo após a decolagem no oeste da Índia.>
Vídeos chocantes divulgados na época mostravam Ramesh caminhando para longe dos destroços com ferimentos aparentemente leves, enquanto uma nuvem de fumaça se erguia ao fundo.>
Em entrevista à BBC News, visivelmente emocionado, Ramesh — cuja primeira língua é o gujarati — disse:>
"Sou o único sobrevivente. Ainda não consigo acreditar. É um milagre.>
Perdi meu irmão também. Ele era meu alicerce. Nos últimos anos, sempre esteve ao meu lado.">
Ele descreveu o impacto devastador que a tragédia teve em sua vida familiar:>
"Agora estou sozinho. Fico no meu quarto, sem falar com minha esposa ou meu filho. Só quero ficar sozinho em casa", contou.>
Na época, ele falou de seu leito no hospital na Índia, descrevendo como conseguiu soltar o cinto de segurança, rastejar para fora dos destroços e, durante o tratamento dos ferimentos, chegou a se encontrar com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.>
Entre as vítimas — passageiros e tripulantes —, 169 eram cidadãos indianos e 52 britânicos, além de 19 pessoas que morreram em solo.>
Um relatório preliminar sobre o acidente, divulgado em julho pelo Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da Índia, apontou que o fornecimento de combustível para os motores foi interrompido poucos segundos após a decolagem. As investigações continuam, e a companhia aérea afirmou que o cuidado com o senhor Ramesh e com todas as famílias afetadas pela tragédia "permanece nossa prioridade absoluta".>
Esta é a primeira vez que o homem de 39 anos fala com a imprensa desde que voltou ao Reino Unido. Diversos veículos de comunicação foram convidados para entrevistas, e uma equipe de documentário também filmava no local.>
A BBC informou ter realizado conversas detalhadas com seus assessores sobre os cuidados necessários antes da entrevista.>
Questionado sobre suas lembranças do dia do acidente, Ramesh respondeu:>
"Não posso falar sobre isso agora.">
Acompanhado pelo líder comunitário local Sanjiv Patel e pelo porta-voz Radd Seiger, o senhor Ramesh disse que era doloroso demais relembrar os acontecimentos da tragédia e chegou a chorar em alguns momentos da entrevista, realizada na casa de Patel, em Leicester.>
Ramesh descreveu o sofrimento que ele e sua família vêm enfrentando:>
"Pra mim, depois desse acidente... está sendo muito difícil.>
Fisicamente, mentalmente... e também pra minha família. Mentalmente, minha mãe — nos últimos quatro meses — fica sentada todos os dias na porta, sem falar, sem nada.>
Eu não falo com mais ninguém. Não gosto de conversar com ninguém.>
Não consigo falar sobre quase nada. Passo as noites pensando, sofrendo mentalmente.>
Cada dia é doloroso para toda a família.">
Ramesh também falou sobre os ferimentos físicos que sofreu no acidente, do qual conseguiu escapar de seu assento — o 11A — por uma abertura na fuselagem.>
Ele conta que sente dores na perna, no ombro, no joelho e nas costas, e que desde a tragédia não conseguiu mais trabalhar nem dirigir.>
"Quando ando, não ando direito, é devagar, devagar... minha esposa me ajuda", disse.>
Ramesh foi diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) enquanto recebia tratamento no hospital na Índia, mas afirma que não recebeu nenhum acompanhamento médico desde que voltou para casa.>
Eles o descrevem como perdido e abalado, com uma longa jornada de recuperação pela frente, e exigem uma reunião com executivos da Air India, alegando que ele tem sido maltratado pela companhia desde o acidente.>
"Eles estão em crise — mental, física e financeiramente", disse Sanjiv Patel.>
"Isso devastou a família dele.>
Quem quer que seja responsável no mais alto nível deveria estar presente, encontrando-se com as vítimas desse evento trágico, entendendo suas necessidades e ouvindo-as.">
A Air India ofereceu a Ramesh uma indenização provisória de 21,5 mil libras (cerca de R$ 150 mil), que foi aceita, mas os assessores afirmam que isso não é suficiente para atender às necessidades imediatas dele.>
O negócio de pesca da família, em Diu, na Índia — que Ramesh administrava com o irmão antes do acidente — entrou em colapso, segundo seus assessores.>
O porta-voz da família, Radd Seiger, afirmou que convidaram a Air India para uma reunião em três ocasiões, e todas foram "ignoradas ou recusadas".>
As entrevistas concedidas à imprensa foram a forma da equipe de renovar esse apelo pela quarta vez, disse ele.>
Seiger acrescentou:>
"É revoltante que tenhamos que estar aqui hoje, submetendo ele [Viswashkumar] a isso.>
As pessoas que deveriam estar aqui hoje são os executivos da Air India, os responsáveis por tentar colocar as coisas em ordem.>
Por favor, venham se sentar conosco para que possamos trabalhar juntos e tentar aliviar parte desse sofrimento.">
Em comunicado, a companhia aérea, controlada pelo Grupo Tata, disse que líderes seniores da empresa continuam visitando famílias para expressar suas condolências mais profundas.>
"Uma oferta foi feita aos representantes do senhor Ramesh para organizar essa reunião. Continuaremos a entrar em contato e esperamos muito receber uma resposta positiva", disse a empresa.>
A Air India informou à BBC que a oferta foi feita antes das entrevistas de Ramesh à imprensa.>
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